Quando os desafios da safra 2023/2024 começaram a aparecer, a BrasilAgro traçou uma estratégia: vender a soja colhida nos mais de 70 mil hectares dedicados ao grão das fazendas da companhia só depois de junho.
Avaliando os três principais componentes que formam o preço do grão - cotação internacional na Bolsa de Chicago, cotação do câmbio e o chamado prêmio (diferença do preço pago pela soja em um porto no Brasil em relação à referência internacional) -, a BrasilAgro entendeu que a relação de troca só seria favorável no segundo semestre.
Contudo, uma recuperação no preço internacional e um prêmio que passou a ser positivo acelerou as vendas da oleaginosa da empresa, que colheu sua soja de janeiro a março, período equivalente ao terceiro trimestre do ano safra 2023/24.
Ao AgFeed, o CEO da empresa, André Guillaumon, afirmou que o problema de quebra de safra visto principalmente no Mato Grosso diminuiu o ritmo de vendas por parte dos produtores.
Acontece que mesmo com um preço considerado favorável para o executivo, de US$ 13 por bushel de soja no mercado externo, o prêmio ainda estava negativo.
Na estratégia da empresa, era natural que a venda da oleaginosa fosse segurada até um cenário melhor. Acontece que a melhora veio antes do planejado.
“Do final de março pra cá, esse prêmio se recuperou e até chegou num patamar positivo. Como vimos o mercado reagir bem, já começamos as vendas. Devemos ter um próximo trimestre forte com a venda desses grãos”, contou.
Ele afirma que quando a BrasilAgro começou a colheita, o prêmio estava em -60 pontos, e a expectativa era que, no segundo semestre, esse indicador fosse para -30. Agora, a empresa vê o prêmio entre +10 e +20 pontos.
Até junho, a empresa espera vender algo em torno de 150 mil toneladas de soja. A estratégia dessa safra mostra um movimento inverso do visto na temporada passada.
Nessa época, em 2023, a companhia vendeu assim que colheu, aproveitando um prêmio mais vantajoso. “O prêmio começou 2023 com -20 pontos e em junho foi para - 100 pontos. Fizemos a leitura do mercado e vendemos antecipadamente”, conta.
Passada a colheita de soja, as propriedades da empresa estão agora no meio da safrinha. As principais culturas cultivadas pela companhia são o algodão e o milho.
Na pluma, Guillaumon conta que a empresa já fechou acordos para comercialização de 80% da produção, incluindo vendas no físico. Segundo ele, a situação do cultivo do algodão é favorável para a BrasilAgro por conta dos preços travados tanto para o dólar quanto para a arroba do produto.
“Hoje o mercado cota a arroba de algodão por R$ 132. Nós chegamos a travar vendas por R$ 150 numa cotação de dólar a R$ 5,59. Quem vende hoje para uma trading trabalha com um dólar por volta de R$ 5,10”, detalhou.
Já no milho, a situação é mais desafiadora, segundo o CEO. Segundo ele, no mercado físico, a empresa já acertou a venda de menos de 10% do grão, pois avalia um mercado mais difícil na dinâmica de preços.
“Avaliamos a possibilidade de armazenar e ‘carregar’ esse grão. Nossa visão para o milho é mais pessimista do que para a soja e o algodão”.
No terceiro trimestre, um resultado negativo
Enquanto vende a soja e planta as culturas de inverno, a BrasilAgro reportou seus resultados do terceiro trimestre do ano safra 2023/2024, período que se estendeu de janeiro até março deste ano.
No balanço, divulgado pouco ao mercado após o fechamento do mercado na quarta-feira, 8 de maio, a empresa informou que anotou um prejuízo líquido de R$ 30 milhões. No mesmo trimestre do ano passado, o prejuízo foi de R$ 3 milhões.
A receita líquida atingiu R$ 121 milhões, 36% a menos do que o faturamento do mesmo trimestre do ano-safra anterior.
De acordo com o CFO da empresa, Gustavo Lopez, a empresa “vendeu alguns grãos por questões logísticas”, mas por conta da sazonalidade do trimestre, que é marcado pela colheita da soja de primeira safra, “não criou resultado operacional”.
“A nossa cana está na entressafra, a soja seguramos a venda e o milho e algodão estão sendo plantados só agora. Ao mesmo tempo, as despesas comerciais continuam. Isso gera o resultado negativo”, contou Lopez.
André Guillaumon ainda acrescentou que, do ponto de vista produtivo, a BrasilAgro enfrentou uma dificuldade de plantio entre setembro e outubro, mas contou com uma regularidade de chuvas nos meses seguintes.
Segundo o CEO, essa foi a safra em que a empresa colheu a soja mais cedo no calendário. “No segundo dia de janeiro já estávamos colhendo soja”, afirmou. Com isso, o plantio do algodão safrinha já começou no começo de janeiro.
A expectativa é que o trimestre atual, que vai de abril a junho e marca o último trimestre do ano-safra da BrasilAgro, traga resultados positivos.
Para além da venda dos grãos colhidos, a empresa deve contabilizar no balanço a venda de parte da Fazenda Chaparral, localizada em Correntina, na Bahia.
O negócio, fechado em março, trará R$ 364 milhões aos cofres da BrasilAgro. Guillaumon conta que a empresa já recebeu uma primeira parcela de R$ 50 milhões do negócio e até junho deve receber mais. O valor deverá ser contabilizado no balanço do próximo trimestre.
O CEO explicou que a venda será integralmente contabilizada assim que a área for entregue. Atualmente, a propriedade está no meio do plantio do milho e do algodão.
Passado o trimestre “historicamente fraco”, a Guillaumon já vê com bons olhos o resultado apresentado dos três meses encerrados em junho. “Temos uma redução no preço das commodities de um ano para o outro, mas conseguimos compensar com o resultado imobiliário”, afirmou.
E a safra 2024/2025?
Enquanto termina a safra atual, a empresa já começa a orçar e travar preços para a próxima temporada. No geral, a BrasilAgro estima que os custos de produção devem cair de 15% a 20% na safra 2024/25 quando comparada com a atual.
André Guillaumon revelou que a empresa já “tomou posição” no cloreto de potássio, chegando a comprar a tonelada por US$ 415 nas últimas semanas.
Ele conta que, após o início da guerra na Ucrânia, que mexeu com todo esse mercado, a empresa chegou a pagar US$ 720 por tonelada em 2022 e US$ 680 em 2023. “Teve produtor que comprou por US$ 1,2 mil por tonelada”, conta.
Ele também cita que o pacote de agroquímicos, que inclui glifosato, fungicidas e inseticidas, por exemplo, deve ter uma redução de 12% a 15%.