Estimar a demanda de mercado e projetar seus investimentos a partir desse cálculo é uma arte delicada. Um erro nas contas pode custar caro e levar a decisões drásticas nas empresas.

É o que acontece, atualmente, na Tyson Foods, gigante americana que é uma das maiores produtoras de proteínas animais do mundo, concorrendo com as brasileiras JBS e BRF.

Desde o início do ano a companhia colocou em prática um plano de correção de rota para reduzir os prejuízos acarretados por investimentos superestimados na produção de frangos para o mercado americano.

O balanço da empresa divulgado em agosto denuncia a dimensão do erro: prejuízo de US$ 198 milhões nos primeiros nove meses do seu ano fiscal -- o maior da Tyson para o período desde 2009. Sozinha, a divisão de frangos registrou US$ 503 milhões negativos no resultado operacional.

A consequência disso tem sido o fechamento de fábricas – duas já tiveram a produção encerrada e outras quatro devem ter o mesmo destino, desempregando perto de 5 mil trabalhadores – e até mesmo a demissão do principal executivo das operações com aves.

A Tyson sente o calor de um inferno que ajudou a alimentar. Os preços do frango no mercado americano estão abaixo da metade do preço de um ano atrás, em grande parte por conta da combinbação de demanda baixa com excesso de oferta.

É sobre esse segundo ponto que muitos apontam o dedo para a liderança da Tyson. Nos últimos anos, avaliando que a demanda cresceria após a pandemia de Covid-19, à medida em que os consumidores regressassem aos restaurantes e as cadeias de fast-food.

A ordem foi produzir mais para conquistar mais participação de mercado. Em 2021, a média de abate da empresa estava em 37 milhões de aves por semana. No início de 2022, subiu para 39 milhões e os executivos afirmavam querem chegar aos 42 milhões o final do ano fiscal de 2023 – que termina agora em setembro.

Segundo reportagem do The Wall Street Journal, esse crescimento estaria bem acima da média do mercado americano como um todo, que saiu de 162 milhões para 164 milhões de frangos por semana, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

A demanda, porém, não acompanhou o ritmo imaginado pela Tyson e os preços caíram à medida que mais frangos chegaram ao mercado. Segundo o USDA, o quilo do peito de frango desossado e sem pele caiu de US$ 3,60 em junho de 2022 para US$ 1,40 atualmente, chegando a bater em US$ 1 em janeiro.

“A indústria às vezes ultrapassa os limites”, disse Paul Aho, consultor da indústria avícola, ao WSJ.

Também o valor das ações da empresa acusou o golpe, com queda de 30% nos últimos 12 meses. “As condições do mercado de frango ainda são desafiadoras”, afirmou o presidente-executivo da Tusin, Donnie King, em uma teleconferência com analistas em agosto.