As últimas semanas foram de muito foco na região do Cerrado para executivos da Eurochem, uma das maiores fabricantes de fertilizantes do mundo, que tem cerca de 13% de market share no mercado brasileiro.

A empresa, mais uma vez, participou do Show Safra, em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, uma das maiores feiras de tecnologia agrícola do País, que ocorre em momento crucial para a venda de fertilizantes.

Em entrevista ao AgFeed, os diretores da Eurochem, Marcelo Ferri, da área de desenvolvimento de mercado e Guilherme Terribili, que responde pelos negócios no Cerrado, disseram que a região da BR-163 é fundamental para as vendas da empresa.

A companhia possui uma fábrica em Sinop, por isso consegue, em determinadas regiões do Mato Grosso, participação de mercado até maior do que a registrada, em média, no Brasil, segundo Terribili, que não revela percentuais exatos.

Esse “domínio” tem muito a ver com o fato da Eurochem ter chegado ao Brasil em 2016, quando adquiriu a Fertilizantes Tocantins, com maior penetração no Centro-Oeste e Norte.

No ano passado, a Eurochem entregou cerca de 6 milhões de toneladas de adubos no País, num mercado estimado em 45,6 milhões de toneladas.

Os executivos contam que 2024 foi um ano de reestruturação na Eurochem, quando se buscou mais eficiência e rentabilidade, enquanto o mercado ficou estável, sem crescimento.

“Já para esse ano a gente pensa em um crescimento diferente ao último ano”, afirmou Terribili.

Além de se manter fortes em Mato Grosso, o maior produtor nacional de grãos, a estratégia é ganhar espaço na região Sul do Brasil.

Marcelo Ferri contou ao AgFeed que, no máximo em 60 dias, as atividades da fábrica da Heringer no porto de Paranaguá, no Paraná, serão retomadas.

A Eurochem prevê um investimento de R$ 200 milhões em 2025. Parte desse valor está sendo direcionada para o porto paranaense, que hoje é o que mais movimenta fertilizantes no Brasil.

"Até pela origem da empresa, a Fertilizantes Tocantins já tinha uma posição consolidada (no Cerrado). No Sul, de fato, a gente ainda não tinha essa posição no mercado e os investimentos da Eurochem estão até condizentes nisso", ponderou Ferri, que também responde pela região Sul.

A Eurochem comprou o controle acionário da Fertilizantes Heringer, uma das maiores distribuidoras de adubos do País, em 2021. Em função das dificuldades financeiras e recuperação judicial, a empresa brasileira mantém parte de suas 14 unidades em “hibernação".

É o caso desta de Paranaguá que está sendo reativada. "Nós já temos licença de operação, isso está materializado, não é mais uma expectativa. Por isso, nos próximos 30 ou 60 dias iniciamos as operações", reforçou Ferri.

Os executivos da Eurochem disseram ao AgFeed que a unidade paranaense tem capacidade para até 800 mil toneladas. Nem todo esse volume será movimentado na fase inicial, mas a expectativa é de que Paranaguá traga um adicional de 500 mil toneladas nas vendas ainda em 2025.

Se isso acontecer, mesmo que as entregas nas demais regiões do Brasil sigam estáveis, a companhia de origem russa teria um crescimento de 8% no ano.

Uma ampliação da capacidade da unidade do Paraná não está descartada, podendo chegar a 1 milhão de toneladas.

Além de Paranaguá, a Eurochem anunciou recentemente investimentos para expandir a fábrica de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

"Isso dá um acesso ao mercado do Sul do País bem maior, algo que antes era bem menor em relação ao que a empresa tem no restante do País", destacou Ferri.

O Paraná é o segundo maior produtor de grãos do Brasil, por isso passa a ser estratégico para a Eurochem.

"Era um mercado que a gente atuava basicamente via terceiros. Agora a gente tem uma planta nossa, provavelmente em outros mercados que o Paraná tem esse acesso, tem essa competitividade, chegando nesse mercado sul e central do País".

Os diretores da Eurochem mencionam um lema da empresa que fala “da mina à mesa”.

"'É o know-how desde a produção, mesmo a extração do fertilizante fosfatado, potássio, até a produção do fertilizante nitrogenado, até na mesa do cliente, convertido no alimento chegando para o consumidor final", afirmam.

A Eurochem é grande produtora global dos três macro nutrientes mais usados na agropecuária, o nitrogênio, o fósforo e potássio (NPK), diferentemente de alguns grupos importantes mais especializados em determinadas commodities.

No Brasil, a empresa inaugurou há um ano um complexo mineroindustrial em Serra do Salitre, Minas Gerais, com um investimento de aproximadamente US$ 1 bilhão para reduzir a importações de fertilizantes fosfatados.

A estratégia agora é ir além da commodity e trabalhar produtos diferenciados, da chamada linha premium.

No próprio Show Safra a empresa levou produtos que oferecem mais valor agregado, como os fertilizantes complexos produzidos em Salitre, que agregam enxofre e micronutrientes ao NPK.

Outro produto apresentado no Show Safra é a tecnologia Avigo, que tem uma matriz orgânica junto com o fertilizante convencional.

Ritmo de vendas preocupa

O investimento e a retomada da planta paranaense independem do ritmo do mercado. A Eurochem se diz preocupada com o ritmo ainda lento de compras dos fertilizantes para a safra 2025/2026.

Até mesmo na região do Cerrado, onde os negócios são fechados mais cedo, Terribili calcula que 40% do volume esperado esteja negociado, sendo que no mesmo período do ano passado estava em 45%.

No Brasil, Marcelo Ferri estima que 35% do mercado esteja negociado, enquanto o normal seriam 40%, pelo menos.

O menor ritmo é verificado na região Sul em função do Rio Grande do Sul, onde as sucessivas perdas por problemas climáticos contribuem para deixar o mercado ainda mais “represado”.

“Isso gera alguns desafios como gargalos logísticos, uma sazonalidade concentrada de entregas de produtos para a soja no terceiro trimestre. Em algum momento pode ser que tenha menor disponibilidade, com produtos específicos tendo mais restrição", disse Guilherme Terribli.

Outro sinal de alerta é a alta no preço dos principais fertilizantes, que pode prejudicar produtores que apostaram em postergar as compras.

"O produtor está esperando por uma relação de troca melhor, mas cada vez está ficando mais longe daquilo que ele busca", afirmou Ferri.

Sobre os problemas atuais de financiamento ao produtor, os executivos afirmam que o cenário não mostra falta de crédito, mas sim uma postura mais criteriosa ao longo da cadeia.

Perguntados sobre qual seria a meta de crescimento para o ano, eles evitam comentar. "A gente cresce focado em melhorar a rentabilidade da companhia, sendo mais eficiente e atendendo melhor o mercado", disse Terribili.