Com a compra da americana Hillandale Farms, anunciada há mais de um mês e concluída nesta semana, o reinado do rei dos ovos, Ricardo Faria, ganhou novas geografias no mercado global.
O executivo, que hoje responde pela Global Eggs, lidera um conglomerado que produz 13 bilhões de ovos anuais. Além da Hillandale, comprada por US$ 1,1 bilhão, a holding é dona da espanhola Hevo, que custou R$ 730 milhões, e da tradicional brasileira Granja Faria.
De acordo com Ricardo Faria, as três empresas juntas somaram um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de US$ 350 milhões só no primeiro trimestre deste ano.
Segundo ele, a meta é que a Global Eggs fature, em 2025, US$ 2,5 bilhões. Faria conversou com alguns jornalistas nesta terça-feira, 13 de maio, e deu mais detalhes do momento da companhia, e afirmou que o “sonho do IPO” vai ficar para o futuro.
“Nossa ideia sempre foi crescer, e acho que hoje temos uma plataforma de crescimento nos EUA, Europa e Brasil que não necessita de IPO. Podemos voltar a falar disso em 2026, mas hoje isso é um ‘não assunto’ na empresa”, disse o fundador da Global Eggs.
“Eu previa, com o IPO, chegar numa empresa que produzisse 13 bilhões de ovos por ano em 2028. Chegamos nesse patamar em 2025, antecipando o plano de negócios em três anos. Não sei se em outro dia terá outra Hillandale para comprarmos”, acrescentou.
O executivo conta que a compra da empresa americana foi sua prioridade máxima nos últimos meses, e que rodou o país em busca de oportunidades. Na Hillandale achou uma companhia familiar, tradicional e que produz 38 milhões de dúzias de ovos por mês.
Por lá, sentou e conversou com o fundador Orland Bethel, que beirando os 90 anos, continua “brilhante”, nas palavras de Faria, mas sem plano de sucessão. “Um dono sentou com outro e decidimos casar a operação”, diz.
Por lá, a meta é ampliar em um milhão de aves o plantel que hoje é de 20 milhões de galinhas em 12 meses. No momento, é hora de fazer os ajustes contábeis e auditar o balanço da Hillandale, o que não era feito até então. Essa necessidade de ajustar os processos foi um dos motivos para desistir do IPO por enquanto.
A operação da empresa por lá ainda conta com três centros de distribuição no país, que também distribuem produtos de outras empresas. “A operação nos EUA é maior do que a brasileira e a europeia juntas”, acrescentou Faria.
Outra vantagem da Hillandale é que a empresa passou ilesa em meio a crise de gripe aviária que tomou conta das granjas americanas entre o final de 2024 e o início deste ano. “O plantel de aves americanas baixou em 30 milhões de animais, uma crise grave, mas que já havia acontecido em 2015 e 2022. A Hillandale foi a única relevante do mercado que não perdeu aves”, disse.
Além da Hillandale, as outras empresas da Global Eggs seguem firmes na agenda de expansão criada e executada por Ricardo Faria na última década.
No Brasil, ele citou que a Granja Faria adquiriu a pernambucana Ovos Tamago, consolidando ainda mais sua posição no Nordeste brasileiro. Segundo ele, a companhia fatura pouco menos de R$ 50 milhões por ano.
“Uma aquisição pequena mas importante. É uma empresa tradicional que nos faz colocar um pé em Pernambuco, um grande mercado consumidor”.
A expansão para a região começou com a compra da potiguar DPB Avicultura, dona da marca Vitagema, numa transação de R$ 36 milhões feita em março do ano passado. A meta é repetir a agenda de investimentos que vem sendo feita há um ano também na Tamago.
A companhia recém-adquirida, aproveitando também uma falta de sucessão no negócio, tem um plantel de 400 mil aves, e a meta é chegar em 1,05 milhão até o ano que vem, mesmos patamares em que encontrou a Vitagema e como a operação se encontra hoje.
Faria conta que a empresa nasceu forte no Sudeste, cresceu com intensidade no Sul e Centro-Oeste ao longo dos anos, mas ficou para trás no Nordeste. “As empresas não nos deixavam entrar. Chegamos a assinar três memorandos de investimentos no Ceará e não conseguimos comprar ninguém”, disse o executivo.
Já na Europa, a Hevo adquiriu a também espanhola Granja Legaria, também num cenário em que a família fundadora desejava passar o negócio adiante. Por lá a estimativa é de um plantel de 350 mil aves.
Faria conta que desde que a Global Eggs adquiriu o controle da Hevo em novembro do ano passado, reduziu o número de funcionários locais e aumentou a produção de ovos de 5 milhões de dúzias mensais para 8 milhões de dúzias por mês.
Faria não revelou o valor dessas duas aquisições, mas conta que a Global Eggs continua com um nível de endividamento baixo, com uma alavancagem que deve encerrar o ano entre 0,5 e 1 vez o Ebitda.
“Continuamos com fôlego pra ‘olhar pro lado’, principalmente na Europa. Nos Estados Unidos, a meta é crescer de forma orgânica”, disse, abrindo brecha para novas aquisições no futuro.
A Global Eggs possui sede em Luxemburgo, e com as aquisições, Ricardo Faria promoveu algumas trocas de comando entre os executivos. O CEO da Granja Faria, Denilson Dorigoni, deixa o cargo e vai para os Estados Unidos ajudar a arrumar a casa na Hillandale.
Em seu lugar assume Paulo Andrade. Emílio Bastos, que era CFO da Granja Faria, vai para Luxemburgo consolidar o balanço da Global Eggs. Marcelo Desterro, ex-CFO da Mantiqueira, assume o posto na Granja Faria.
Resumo
- Com expansão e aquisição da Hillandale Farms por US$ 1,1 bilhão, Global Eggs soma operações nos EUA, Europa e Brasil, com produção anual de 13 bilhões de ovos
- O IPO foi adiado para focar na integração e ajustes das novas aquisições, com meta de faturamento de US$ 2,5 bilhões em 2025
- A empresa segue em expansão com aquisições no Brasil (Ovos Tamago) e na Europa (Granja Legaria)