André Savino não era nenhum neófito quando assumiu a Syngenta há pouco mais de um ano, pelo contrário. O hoje presidente do negócio de Proteção de Cultivos no Brasil nunca trabalhou em outro lugar que não fosse a companhia, desde que saiu da universidade, há quase 30 anos, quando se formou engenheiro agrônomo pela paulista Unesp.

Assim, conhecendo muito bem o terreno onde estava pisando, Savino passou a conduzir a Syngenta em janeiro do ano passado, num momento nada trivial para o setor de insumos.

O segmento sofreu globalmente ao longo de 2024 com condições de mercado mais adversas, que resultaram em queda de faturamento e vendas para a maioria das empresas do setor – e também para a companhia pertencente ao grupo chinês ChemChina.

De acordo com os dados mais recentes divulgados pela Syngenta, referentes ainda ao primeiro semestre de 2024, as vendas da divisão Crop Protection da companhia haviam caído 21% no período, com recuos em todas as regiões do mundo onde a companhia atua, incluindo a América Latina, onde houve uma queda de 17%.

Mas na operação brasileira em específico, segundo Savino antecipou ao AgFeed, os negócios da companhia cresceram no ano passado.

"Apesar de todo esse contexto, a Syngenta foi muito bem. Apresentamos crescimento em relação a 2023. Isso é muito positivo, porque mostra que a gente está com os fundamentos corretos", disse Savino, que conversou com a reportagem entre um e outro compromisso na Expodireto Cotrijal, feira realizada no interior do Rio Grande do Sul na semana passada.

Savino evitou trazer mais detalhes sobre os números, pelo fato de a companhia estar no momento em período de silêncio – a companhia deve divulgar seu balanço consolidado de 2024 na próxima semana.

O que explicaria esse desempenho positivo no País, em um período tão complexo, em que toda a concorrência sofreu?

Savino fala em um resgate, no último ano (que coincide com a sua gestão), dos fundamentos da empresa. "Costumo falar que a gente tem dois footprints dentro do nosso DNA que expressam um pouco do que é a Syngenta", afirma.

Ele explica que um desses pilares é a inovação. "Somos uma empresa de inovação, queremos trazer novidades. Outras empresas têm viés estratégico diferente, com produtos mais baratos ou mais econômico", afirma.

Um símbolo desse novo momento da empresa, segundo ele, foi a inauguração de um centro de pesquisa e desenvolvimento em Paulínia, no interior de São Paulo, fruto de um investimento de R$ 65 milhões e que começou a operar em outubro do ano passado.

A estrutura permite à Syngenta desenvolver produtos no Brasil, a partir de ingredientes ativos vindos de países como Inglaterra, Estados Unidos e China.

Dessa forma, argumenta, o portfólio pode ser melhor adaptado às características climáticas e agronômicas do país.

O outro pilar da Syngenta é o foco no agricultor – e é por isso que Savino passou pelo interior do Rio Grande do Sul na semana passada, entre diversos compromissos de trabalho.

"Somos uma empresa de clientes. A gente é uma empresa focada no agricultor, em contato com o agricultor. Vou em todas as feiras, visito um grande número de agricultores. Essa é a minha agenda. Precisamos entender in loco a necessidade do agricultor”, afirma.

A missão de Savino à frente da Syngenta, dita por ele mesmo, é justamente recuperar esses dois pilares de identidade da empresa. “A gente precisa estar próximo do cliente e precisamos trazer a inovação rápida”, resume.

Com isso, ao longo do último ano, a empresa passou a estar mais em campo, a partir desse redirecionamento estratégico. “Estamos diminuindo níveis hierárquicos e aumentando a base de contato com os clientes, para que a gente possa estar mais presente e, no fim das contas, vender mais", afirma.

A diminuição de estruturas não significa, no entanto, que a Syngenta esteja fazendo um corte de funcionários no país. A companhia emprega cerca de 60 mil pessoas ao redor do mundo e 4,1 mil no Brasil.

“Em termos de número de funcionários no Brasil, a gente tem quase o mesmo número, mas estamos diminuindo níveis hierárquicos”, salienta Savino.

Além de redefinir suas prioridades, a Syngenta continuou ampliando o portfólio, explica Savino. "Todo ano a gente lança de cinco a dez novas tecnologias. E, no ano passado, apesar de tudo, lançamos cerca de 10 novos produtos", afirma Savino.

O presidente da Syngenta espera que 2025 seja um ano de retomada, ainda que não sem dificuldades no caminho. "O grande desafio vai ser o custo de capital para vender mais, produzir mais. Tem todo um custo de capital que você precisa gerenciar", afirma.

Mesmo com as dificuldades macroeconômicas, a Syngenta planeja continuar no ritmo de lançamento de produtos dos últimos anos, de acordo com Savino.

“A gente tem uma agenda de lançamentos, um pipeline de produtos vindo bastante forte. Claro que depende muito de questões de aprovações, questões regulatórias, mas a gente acredita, mais uma vez, que lançamos entre cinco a dez para esse ano novamente", afirma o presidente da Syngenta.

Ele adianta que são tecnologias que cobrem a maioria dos cultivos, como soja, milho e cana-de-açúcar. Parte desses produtos são biológicos.

"A gente está lançando cada vez mais produtos com classe químicas novas, classe químicas com perfil toxicológico muito positivo para o meio ambiente. A gente tem também uma agenda muito forte de fazer a integração de químico e biológico."

Questionado se a Syngenta vai fazer novos investimentos como o centro de formulações de Paulínia, onde, entre outros produtos, são desenvolvidos insumos biológicos, Savino disse que não poderia responder diretamente pelo período de silêncio da companhia, mas salientou que a empresa busca sempre fazer novos aportes.

"A Syngenta sempre tem uma agenda de investimentos. Nos últimos anos, a gente investiu 10% do nosso faturamento anual global em pesquisa e desenvolvimento", afirmou o presidente.

Outro movimento recente importante da Syngenta ocorreu na sua rede de varejo de insumos administrada pela holding Synap. A companhia transferiu 18 unidades que eram operadas por ela para o grupo gaúcho Olfar, do Rio Grande do Sul, especializado no processamento de grãos, especialmente soja, e na produção de biodiesel, conforme mostrou em primeira mão, em janeiro passado, o AgFeed.

O objetivo foi deixar a estrutura da Synap mais leve, sem perder o canal de distribuição, já que a Olfar Agro continua atuando como parte da rede, embora operada por outro grupo.

“A Olfar é uma empresa muito sólida, que traz uma participação muito forte na originação de grãos, uma visão muito semelhante à nossa em termos de tecnologia e vai conseguir levar soluções para o agricultor em harmonia com o sistema de distribuição atual da Syngenta”, afirmou Savino ao AgFeed na ocasião.