Mesmo com apenas sete anos de idade, a gestora paulista One Partners tem um portfólio de dar inveja quando se fala em M&As no agro. Com uma média de um deal no setor por ano, a empresa já lidou com a Fertilizantes Heringer, Uisa, Raiar Orgânicos e a Elisa Agro.
Sem citar nomes, um dos sócios da empresa, Luis Castilho, afirmou que existem alguns mandatos ativos para aumentar essa lista.
A casa está atualmente no processo de captação de recurso para “um grande produtor rural de grãos e algodão” que quer expandir as operações comprando novas terras e uma revenda de insumos que busca “soluções de capital”, de acordo com o sócio.
Mesmo em meio a uma avalanche de boatos envolvendo o agro e empresas em dificuldades financeiras, existem oportunidades, segundo Castilho.
“Enfrentamos hoje uma dificuldade de acertar o valuation entre compradores e vendedores pela situação do agro como um todo”, disse.
O sócio conta que a gestora tem visto espaço para atuar nas chamadas “special situations”, ou seja, focando em companhias com dificuldades financeiras.
Em termos setoriais, Castilho acredita que o auge do processo de consolidação nas revendas agrícolas já passou e o mercado agora vê uma tentativa desses players de se capitalizarem vendendo ativos que não são o core do negócio, como as sementeiras.
Não por acaso um dos negócios que vinha sendo esperados pelo mercado era a venda da “Sementes Campeã”, braço sementeiro do AgroGalaxy, grupo que atraiu de vez as atenções, quando apresentou o pedido de recuperação judicial, no mês de setembro.
Em entrevista ao AgFeed no mês de maio, o CEO da Blink Inteligência Aplicada, Lars Schobinger, disse que o número de sementeiras no Brasil deve cair 70% nos próximos dez anos, em função do processo de consolidação.
Mas o momento de vendas aquecidas para o agro como um todo esfriou, segundo o sócio da One Partners, pelo movimento de queda no preço dos grãos que afetou toda cadeia produtiva do setor.
Ele acredita que, com retomada de preços e uma estabilidade na agropecuária, novos movimentos podem acontecer, bem como nas revendas de produtos para a pecuária. Nos últimos anos, o bilionário grupo sul-mato-grossense Alvorada, um dos maiores do País, recebeu investimentos de R$ 400 milhões da Kinea.
Ao mesmo tempo, a paulista Raça Agro também tem se movimentado e comprado alguns grupos menores espalhados no mapa.
Castilho estima que, por ano, a One Partners assessore uma média de cinco transações e pelo menos uma é do agro. Não há nem um teto nem um chão para os valores.
O executivo avalia que hoje as grandes oportunidades estão no mercado de sementes. “Há um processo natural de consolidação para os próximos anos. Temos conversado com algumas empresas que têm potencial para serem as consolidadoras naturais”, afirmou.
A gestora foi criada por Bernardo Parnes, que ainda é o principal sócio da companhia.
Nome conhecido no mercado, o executivo já foi vice-presidente do Citi e CEO do Merrill Lynch, JSI Investimentos (Family Office de Joseph Safra), Bradesco BBI e Deutsche Bank, comandando as operações da América Latina. Num cenário de baixa nos mercados emergentes, resolveu fundar a One entre 2016 e 2017.
Castilho conta que foi convidado a fazer parte da gestora para cuidar das operações do banco de investimentos. Antes, atuou por cinco anos no BofA, na mesma área.
Hoje a One possui duas áreas, a parte de advisory, onde atua com os M&As e reestruturação, e a parte de gestão de patrimônio, com mais de R$ 2,5 bilhões geridos. A empresa também já teve uma gestora de ações, que se tornou independente com o nome de Atlas One.
Mesmo atendendo todos os setores no braço de advisory, o agro esteve presente desde os primeiros dias da casa. Um dos primeiros cases foi a reestruturação do endividamento da Uisa, antiga Usina Itamarati.
A gestora ajudou a companhia sucroenergética a renegociar aproximadamente R$ 3,2 bilhões em dívidas. Hoje, a Uisa tem uma dívida estimada em metade desse montante visto há sete anos. Além disso, Bernardo Parnes atualmente faz parte do conselho de administração da empresa.
A companhia ainda assessorou a venda do controle da Fertilizantes Heringer para a Eurochem em 2021, numa transação avaliada em R$ 555 milhões.
“A transação começou em 2019, e chegamos a intermediar uma oferta com um potencial comprador russo. Com a conclusão da recuperação judicial, reabrimos o processo que a Eurochem levou”, afirmou.
Esses primeiros casos, segundo Castilho, fizeram com que a One Partners ficasse próxima do setor. Nos últimos anos, a empresa tem atuado junto com a Elisa Agro, que pediu recuperação judicial em fevereiro.
A gestora tem trabalhado em parceria com a XP para renegociar as dívidas que bateram R$ 680 milhões na época do pedido da RJ e na busca de compradores, se for o caso.
Mais recentemente, passou a atuar junto com agtechs, assessorando, além de M&As, rodadas de captação.
A última foi finalizada em julho deste ano, quando a Senior Sistemas pagou R$ 50 milhões pela GAtec, startup paulista especializada em softwares voltados para o planejamento, plantio, colheita, beneficiamento e negociação das safras. A companhia tem uma carteira de 300 clientes de 10 países diferentes, com um faturamento de quase R$ 35 milhões em 2023.
Em uma entrevista recente ao AgFeed, o CEO da Senior Sistemas, Carlênio Castelo Branco, afirmou que a empresa tem intensificado a compra de outras companhias como estratégia de crescimento.
"Foram 30 aquisições nestes últimos anos", diz Castelo Branco. "Agora fechamos com a GAtec, que tem uma atuação complementar à nossa, atuando mais da porteira para dentro, enquanto nós somos mais fortes em ferramentas da porteira para fora", disse o CEO em julho.
A One Partners também atuou junto com a Raiar Orgânicos, assessorando a rodada de captação finalizada em abril deste ano de R$ 50 milhões com investidores brasileiros e estrangeiros.