Por mais que os números do terceiro trimestre da Kepler Weber, divulgados ao mercado na noite desta quarta-feira, 29 de outubro, ainda indiquem retração em relação ao mesmo período do ano passado, a administração da companhia mostra uma mensagem de confiança.

Ao olhar os principais indicadores do balanço, o chamado bottom line, a companhia somou R$ 423,3 milhões em receita líquida entre julho a setembro, volume que representa uma queda de 3,6% em relação há um ano, um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de R$ 73,6 milhões, baixa de 20,8% e um lucro líquido de R$ 51,6 milhões, 13,5% menor em um ano.

Mesmo assim, o CEO da empresa, Bernardo Nogueira, nota um ponto de inflexão nos resultados. “Começamos a ver a recuperação que falávamos desde o início do ano”, disse o executivo em conversa com jornalistas para apresentar os números do balanço.

“Apresentamos um primeiro semestre com uma queda de 40% no Ebitda, mas desde o segundo trimestre já víamos sinais de retomada, e agora no terceiro isso se confirmou. Mesmo com queda frente ao ano passado, o Ebitda começa a fechar a diferença”.

Nogueira destacou que a empresa voltou a registrar no terceiro trimestre margens mais próximas da média histórica. A margem Ebitda, por exemplo, atingiu 17,4% no trimestre, avanço de 5,2 pontos percentuais em comparação com o segundo trimestre, período imediatamente anterior.

No acumulado dos nove meses de 2025, esse indicador chega aos 15%: abaixo do visto ano passado mas, segundo Nogueira, próximo da média histórica.

“Estamos vislumbrando um quarto trimestre de estabilidade num patamar mais saudável do que o primeiro semestre”, acrescentou.

As quedas nos indicadores, segundo disse o CFO e diretor de Relações com Investidores, Renato Arroyo, estão relacionadas à combinação de juros altos, crédito restrito e compressão de preços.

Ele afirmou que a queda de 20% no Ebitda se deve, sobretudo a uma redução mais forte no lucro bruto, de 18%, por esses fatores.

“Há muita pressão de preço por conta do cenário desafiador de crédito e de juros. Com isso, os clientes tentam obter alguma vantagem competitiva na precificação”, afirmou Arroyo.

Mesmo com a perda de margem, o CFO ressaltou que a Kepler Weber conseguiu controlar as despesas operacionais.

O SG&A (sigla em inglês para Despesas com Vendas, Gerais e Administrativas), permaneceu controlado, em sua visão. “O SG&A só subiu R$ 6 milhões frente a impactos tributários e investimento, e só o S subiu — o G&A não”.

O executivo também explicou que parte desse aumento veio de um ajuste tributário feito no trimestre, relacionado à Lei Complementar 160, relacionada a benefícios de ICMS, ressaltando que a Kepler é “muito conservadora do ponto de vista fiscal” e costuma postergar o aproveitamento de créditos até que a legislação esteja totalmente pacificada.

Na análise por segmento, os resultados refletem a heterogeneidade do agronegócio em 2025. A receita da linha de fazendas, que representa cerca de um terço do negócio, recuou 3% em um ano, para R$ 137 milhões.

Nas agroindústrias, a receita foi de R$ 108 milhões, com queda foi mais expressiva, de 30,6%.

Em contrapartida, os negócios internacionais cresceram 23,6%, para R$ 63,3 milhões, e a unidade de peças de reposição e serviços e de portos e terminais tiveram avanços de 10,8% e 97,4%, respectivamente, para R$ 79,9 milhões e R$ 34,3 milhões.

“Olhando pelas linhas de negócios, percebemos um deslocamento das vendas de agroindústrias. Mas, no ano, as vendas são parecidas com as do ano passado, e a carteira de agroindústrias segue relevante para 2026, com bons negócios fechados”, afirmou Nogueira.

No acumulado dos nove meses até setembro, a receita líquida da Kepler Weber atinge R$ 1,09 bilhão, baixa de somente 4,8% frente aos R$ 1,14 bilhão do ano anterior.

Dentre os projetos de destaque, Arroyo e Nogueira citaram obras recentes em Cândido de Abreu (PR), Tapurah (MT) e Goiatuba (GO), no Brasil, além de projetos internacionais no Peru, Uruguai e Venezuela.

A Argentina, uma das grande apostas da Kepler desde o ano passado, já representa 17% das vendas internacionais. Há um ano, era somente 3%

No país vizinho ao Brasil, o universo de arroz vem puxando essa “primeira escalada”, segundo Nogueira, que sinalizou interesse de entrar no mercado de soja e trigo, este localizado mais ao Sul da Argentina. O maior projeto internacional do ano até agora fica com uma agroindústria de arroz na Venezuela.

“Olhando o ano até agora, o mercado brasileiro mostra uma performance aquém frente o ano passado, que está sendo parcialmente compensada por nossa diversificação de negócios”, disse Bernardo Nogueira.

Do lado operacional, a empresa sustentou o ritmo de investimentos mesmo em um ambiente adverso, e o Capex do trimestre foi de R$ 15,5 milhões, chegando a R$ 53,5 milhões no acumulado do ano, mais que o dobro do mesmo período de 2024.

Parte relevante dos aportes vai para aumentar o portfólio. “Os produtos lançados nos últimos cinco anos já representam 15% do faturamento, subindo de 3% em 2023”, disse Nogueira. Entre os destaques, o executivo citou o Biocav, que automatiza a alimentação de secagem, e a correia transportadora CT Carretel, voltada a agroindústrias e projetos de etanol de milho e soja.

Na frente financeira, Arroyo afirmou que a companhia deve reduzir o Capex no quarto trimestre, mas seguirá com solidez de caixa. Mesmo já tendo pago quase R$ 100 milhões em dividendos e consumindo R$ 22 milhões de capital de giro no último trimestre, o caixa líquido da Kepler encerrou setembro em R$ 31 milhões positivos.

“Temos um balanço que permite investir, pagar dividendos e ainda encerrar o período com posição confortável”, afirmou o CFO. Parte desse capital de giro também serviu como alternativa de financiamento para parte da carteira de clientes, algo que, segundo os executivos, foi feito de forma prudente.

“Usamos nosso balanço, empregamos um pouco mais de capital de giro no negócio, mas sempre de forma antecipada, com parcelas subsequentes antes de iniciar a obra, para reduzir o risco”, complementou Bernardo Nogueira, o CEO. “A escassez de crédito e de garantias é um desafio, mas a demanda segue viva”, acrescentou.

Otimismo (ainda maior) no futuro

Apesar do cenário macroeconômico complexo que marca a safra 2025/26, a mensagem dos diretores foi de otimismo com os próximos anos, mesmo diante da dificuldade atual.

Nogueira cita que, depois de 30 anos de uma migração dos produtores do Sul para o Cerrado, e uma consequente ampliação de terras e investimentos em maquinário, o foco desse empresário hoje é “crescer para dentro”, partindo para uma nova etapa da investimentos para verticalizar a operação: armazenagem, irrigação e frota própria de transporte.

Na avaliação do executivo, essa mudança estrutural garante um horizonte de demanda firme para a Kepler. “O Brasil possui 17% da capacidade estática de armazenagem, comparado com 40% na Argentina e 60% nos Estados Unidos. Vamos subir de 17% para 30% nos próximos dez anos por esse ‘momento’ do agricultor”.

Bernardo Nogueira recorreu a uma metáfora para sintetizar a tese de investimento da companhia. “A Kepler é como um Boeing de quatro turbinas: margem, crédito, juros e a quarta é o déficit de armazenagem. O Boeing não cai com uma turbina, e é por isso que precisamos estabilizar o negócio com esse déficit, que estará aqui pelos próximos 20 anos”.

A segunda “turbina” dessa tese é o processo de industrialização do agronegócio brasileiro, impulsionado pelos biocombustíveis. “Nos últimos 30 anos, vimos crescimento de área e de produção; agora, vemos a industrialização”, afirmou Nogueira.

Por mais que o segmento de fazendas ainda seja o mais representativo, o CEO vê com bons olhos as oportunidades nas agroindústrias, e citou o megaprojeto junto à Be8, o maior da Kepler nos últimos cinco anos e que engloba toda a estrutura de armazenagem da usina de etanol de trigo da companhia gaúcha.

“Fechamos um dos maiores negócios da nossa história com a Be8 e temos outro em andamento com uma das maiores cooperativas esmagadoras de soja do país, no Paraná. Em breve teremos mais anúncios”, disse, sem dar mais detalhes.

Mesmo com juros altos e crédito restrito, Nogueira disse que a demanda segue aquecida e que o quarto trimestre deve consolidar a tendência de estabilidade.

“Vemos estabilidade de preços e uma base de clientes maior, mesmo em um ano que não é aquecido. Crescer a base é o que gera recorrência”.

O CFO, Renato Arroyo, ainda acrescentou dizendo que o perfil das vendas tem se tornado mais pulverizado, ou seja, tickets menores mas mais clientes. “Isso gera recorrência ou demanda por peças e serviços”.

O destaque regional continua sendo o Mato Grosso, estado que concentra os maiores volumes de obras e responde pela maior fatia das vendas domésticas. Mesmo com retração no Rio Grande do Sul, Nogueira afirmou que o estado segue entre os cinco maiores mercados da empresa.

Na Bolsa, onde está avaliada em R$ 1,3 bilhão, as ações da Kepler Weber (KEPL3) acumulam queda de quase 18% desde o início do ano.

Resumo

  • Receita líquida da Kepler Weber recua 3,6% no 3º trimestre, para R$ 423,3 milhões e lucro líquido cai 13,5%, mas margens voltam a se aproximar da média histórica
  • Diversificação internacional ganha força: negócios fora do Brasil cresceram 23,6%, com destaque para Argentina e Venezuela
  • Empresa mantém ritmo de investimentos — R$ 53,5 milhões no ano — e aposta em industrialização do agro e déficit de armazenagem