Um dia após o (aparentemente) bem-sucedido encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a JBS, um importante player e um dos principais interessados em um alívio nas tarifas impostas aos produtos brasileiros, está otimista com os próximos passos das tratativas entre os dos países.
“Achei bastante positivo, pelo que vi na mídia. Parece que houve um entendimento, que as equipes vão se encontrar e que foi num bom termo [o encontro]”, disse Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, em rápida entrevista ao AgFeed nos bastidores do evento Summit 2025, promovido pelo site Bloomberg Linea na manhã desta segunda-feira, 27 de outubro.
“Não ter tarifas sobre o Brasil é importante para o Brasil e não deixa de ser importante também para nossa unidade no Brasil, a Friboi”, afirmou Tomazoni.
O CEO global da JBS avaliou que o movimento é importante também para os Estados Unidos. “Eu acho que é importante também para os Estados Unidos, que está num momento em que o ciclo do gado está num período de baixa, a carne está com preço alto”, afirmou.
Tomazoni, no entanto, não acredita que uma eventual redução de tarifas chegue a implicar em queda dos preços da carne nos Estados Unidos, uma vez que a carne do Brasil é mais utilizada como ingrediente para hambúrgueres.
A fala de Tomazoni repete a percepção de Wesley Batista, presidente do Conselho de Administração da J&F, controladora da JBS, que avaliou ontem, em declaração ao portal UOL, que o encontro entre Lula e Trump foi “superpositivo” e que a discussão sobre tarifas deve começar em breve.
A sensação dos representantes da JBS também é a do governo brasileiro, que espera um acordo entre os dois países já nas próximas semanas.
Mas a atuação da JBS pode ter ido além dos aplausos ao resultado do encontro. Por trás da aproximação entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, nos bastidores, um dos principais articuladores teria sido Joesley Batista, acionista da J&F, a controladora da JBS, que também viajou para a Indonésia – e apareceu em fotos com Lula e outros representantes da comitiva brasileira.
Joesley já havia participado de um encontro privado com Trump, no início de setembro, no qual levou as tarifas para a mesa de negociação – sem ter conversado com autoridades brasileiras, segundo informaram alguns veículos na ocasião.
Agora, segundo informações reveladas inicialmente pelo site PlatôBR, Joesley disse que teria ajudado na costura por meio de contatos que tem em Washington. “Temos bons amigos e tem muita gente que gosta do Brasil, apesar de outros não gostarem”, disse ele ao veículo.
Wesley Batista, por sua vez, disse ao UOL que "um monte de empresa tem operação nos Estados Unidos e todo mundo ajudou, nos contatos e tal". "Mas nós temos uma operação relevante nos Estados Unidos, 70 mil funcionários, operamos em 30 Estados americanos", acrescentou.
Além da JBS, o mercado de carnes como um todo observa com atenção o desenrolar das conversas entre o presidente Lula e o presidente Donald Trump neste final de semana. Isso porque o setor já é alvo de um grande protecionismo americano.
Mesmo antes de qualquer tarifa relacionada ao governo Trump, o mercado de carne bovina brasileiro já é taxado em 26,5% ao exportar para os EUA em qualquer venda acima de uma pequena cota de 65 mil toneladas. Em abril, o presidente americano ainda trouxe mais 10% para o jogo, que ainda foram somados aos 40% adicionais, levando a uma tarifa acima de 75%.
O tarifaço não tem impactado muito a JBS, segundo Wesley Batista disse ao UOL. "Para nós, o impacto é pequeno. Temos uma operação lá, a [operação na] Austrália exporta para lá. E o volume que o Brasil fazia para os Estados Unidos não era gigantesco. Mas afeta, sem dúvida. Qualquer redução de volume afeta".
A diversificação global da companhia é um ponto que foi mencionado por Tomazoni em sua fala no evento da manhã desta segunda-feira.
“Nos Estados Unidos, não produzimos uma coisa só, hoje é diversificado. produzimos suínos, bovinos, preparados, do jeito que a gente faz no Brasil. Essa diversificação permite lidar com desafios geopolíticos e sanitários.”
Resumo
- Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, elogiou o encontro entre Trump e Lula, destacando benefícios para Brasil e EUA
- A JBS vê possível redução de tarifas como impulso ao comércio e ao setor de carnes brasileiro
- Joesley e Wesley Batista teriam atuado nos bastidores para aproximar os governos e fortalecer o diálogo econômico