Mais de 60% do transporte de cargas no Brasil é realizado por caminhões, o que reforça a informalidade na hora de definir os custos do frete entre empresas e caminhoneiros, mas abre oportunidades para a digitalização do setor.
Estima-se que o mercado de frete gire em torno de R$ 300 bilhões por ano no Brasil, sendo que mais da metade desse montante é pago via carta-frete ou até mesmo cheque, instrumento cada vez menos comum nas grandes cidades.
Um potencial tão grande a ser explorado não passa despercebido pelas empresas que oferecem serviços de automação e gestão destes custos, como a Edenred Repom.
A Edenred é a holding que controla a bandeira de benefícios Ticket, e no caso dos serviços voltados a frete rodoviário, a dinâmica é bem parecida. O caminhoneiro recebe os valores referentes a pedágios e combustível, além de outras despesas, em um “cartão”, com controle de saldo via aplicativo.
Como líder neste mercado, e com um plano para diminuir a informalidade, a Edenred fechou um acordo com outra empresa do setor, a Pagbem, para uma fusão de ativos, que não envolve pagamento entre as partes.
A união foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nesta terça-feira, dia 24.
“O mercado é tão informal e ainda tão diluído, que essa joint venture não terá mais de 20% de participação”, conta Douglas Pina, diretor-geral de Mobilidade da Edenred Brasil, em entrevista exclusiva ao AgFeed.
Hoje, o agronegócio representa mais de 50% dos fretes administrados pela Repom. “O agro registra o maior índice de informalidade no pagamento de frete. O caminhoneiro também acha interessante essa relação. Isso até o momento em que toma o calote”, conta Vinicios Fernandes, diretor da Edenred Repom.
Após a fusão, Repom e Pagbem serão responsáveis pela operação de aproximadamente 8 milhões de viagens por ano, com uma base de 2 mil postos de combustíveis, 4 mil clientes e mais de 1 milhão de caminhoneiros.
Nesta nova empresa, a Edenred terá participação de 70%, e os acionistas atuais da Pagbem, de 30%. Ainda não há uma definição sobre como ficará a marca da nova empresa, e também sobre possíveis sinergias. O acordo inclui um mecanismo para que a Edenred fique com 100% do capital da nova companhia.
“Estamos olhando esta operação mais pelo viés de crescimento do que pensando em sinergias. E nós temos a missão de continuar com um ritmo forte de avanço no mercado enquanto integramos as duas empresas”, afirma Pina.
A digitalização do pagamento de fretes é relativamente recente. “Até 2007, a carta-frete representava praticamente 100% do mercado”, conta Pina. Naquele ano, foi editada uma lei que regulamenta o pagamento de frete, abrindo espaço para uma relação mais formal.
“Muitas vezes, as empresas querem ter essa relação mais correta com os caminhoneiros. Mas é preciso investir em digitalização. E o frete já representa entre 20% e 25% dos custos totais para um produtor rural”, afirma Fernandes.
Para o executivo da Repom, a saída é fornecer soluções simples, tanto para a empresa quanto para o caminhoneiro.
“Hoje, o caminhoneiro consegue fazer diversas operações pelo whatsapp. Como quase todo posto de rodovia tem conexão wi-fi, ele não tem dificuldades para entrar em contato ou movimentar a conta”.
A operação acontece no momento em que se completam 10 anos da aquisição da Repom pela Edenred. Desde 2013, a receita da empresa foi multiplicada por quatro.
Já a Pagbem tem oito anos de existência, e dobrou sua receita nos últimos três anos.
Pina afirma que o movimento de fusão com a Pagbem faz parte de uma estratégia global de expansão da Edenred, com um “poder de fogo” de 2 bilhões de euros para fusões e aquisições.
O objetivo do grupo multinacional francês é alcançar a marca de 5 bilhões de euros em receitas em 2030. A Edenred investiu 385 milhões de euros em tecnologia no ano passado, e soma 2 bilhões de euros em recursos para este fim, desde 2016, em 45 países