Quando foi criada, em 2020, a Motz nasceu com um propósito claro: resolver os gargalos logísticos da Votorantim Cimentos, sua controladora. Basicamente, a empresa facilita o transporte de produtos por meio de um sistema de busca de motoristas autônomos de caminhão.
Funcionando como um braço de eficiência interna, a Motz começou sua operação focada em organizar transportes, reduzir custos e dar mais fluidez ao fluxo da gigante do setor de materiais de construção.
O tempo, contudo, e uma demanda forte do campo, tratou de dar novos rumos ao negócio. Segundo revelou ao AgFeed o CEO da empresa, André Pimenta, a projeção é que a receita oriunda do transporte para clientes do agro cresça exponencialmente em 2025.
No ano passado, da receita líquida total de R$ 1,5 bilhão, cerca de 20% (algo em torno de R$ 300 milhões) veio do agronegócio.
Para 2025, com a projeção de crescimento de 25% no faturamento líquido total, que deve ultrapassar R$ 1,8 bilhão, a nova fatia do setor deve ser de 30% segundo o CEO, o que equivale a aproximadamente R$ 560 milhões. Considerando o faturamento bruto, a empresa deve ultrapassar os R$ 2 bilhões esse ano.
“Mesmo pertencendo a Votorantim, sempre atuamos com autonomia e pretensão de crescimentos fortes. Esse ano tem sido positivo com o agro sendo o segmento mais importante dentro de casa. Esse ano, não diferente dos outros, a expectativa é crescer”, contou o CEO.
Em termos de volume, a empresa encerrou 2024 com 20 milhões de toneladas transacionadas em cerca de 740 mil viagens. Desse total, o agro correspondeu a 2,5 milhões de toneladas. “Provavelmente esse ano vamos beliscar umas 5 milhões de toneladas”, disse.
O movimento de crescimento no agro do agro deve ajudar a Motz a antecipar uma de suas principais metas. Em conversa anterior com o AgFeed, em abril do ano passado, ele citou que a empresa fechou 2023 com 80% do volume vindo das operações junto à Votorantim e somente 20% de outros clientes.
Na época, projetou que em até cinco anos (em torno de 2029), a meta era ter uma operação equilibrada em 50% de volume com a Votorantim e o restante com outros clientes. Mas segundo Pimenta, a tendência é antecipar esse período.
No mix de faturamento, a Motz deve encerrar 2025 com 60% da arrecadação vinda do transporte de cimentos da Votorantim e 40% de outros setores, sendo 30% agro e os outros 10% divididos entre construção civil e outras empresas de cimento.
No agro, a empresa tem sua atuação mais forte no transporte de soja, milho e fertilizantes. Nos últimos meses, porém, passou a atuar também com açúcar e algodão.
“Estamos buscando suavizar a sazonalidade das safras. Mas a temporada de soja esse ano foi muito forte, e a de milho tem sido boa também e trazendo números representativos. É legal olhar nosso acompanhamento e ver recordes sendo batidos. No último mês batemos o recorde mensal de faturamento”, disse o CEO.
André Pimenta cita que a empresa “cresce com cautela”, e quando começa a operação comercial em alguma cultura, é porque passou meses estudando o mercado e verificando o potencial dessas carteiras.
Atualmente, a Motz tem conversado para crescer no mundo dos insumos, e também de biocombustíveis e culturas como café e cana. “Começamos a discutir mas precisamos avaliar com mais profundidade”.
Esse crescimento de portfólio é acompanhado pelo avanço geográfico da startup. Hoje, Pimenta cita que a motz é mais consolidada no Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Paraná e no Matopi (Maranhão, Tocantins e Piauí). “A Bahia vamos começar a entrar agora”. Com isso, vê oportunidades mais claras de crescer no Sul do País, outros estados do Nordeste e no Mato Grosso do Sul.
Para isso, a Motz se atenta ao que o CEO chama de “casamento de malhas”. Como atua hoje principalmente transportando os cimentos de sua controladora, a companhia tem uma presença geográfica maior nesse segmento, e vê o agro crescendo em conjunto com essa operação.
“Na construção civil estamos mais pulverizados por conta da Votorantim. O agro tem muita exportação, e a construção tem muita importação de insumo para fábricas. Ao invés de buscar uma tese que envolva um frete do ponto A ao ponto B com retorno, posso pensar em um ponto A para o B, C, D, E e A. Aí tenho uma malha de ecossistema e consigo um preço competitivo para clientes”, diz.
Ao lado do crescimento, a empresa cita que têm investido, por ano, cerca de R$ 15 milhões. O destino dos recursos é principalmente em tecnologia.
“No ano passado a volumetria foi de aproximadamente um caminhão por minuto. É um sistema que exige muita repetição e garantia de que a tecnologia funcione sem erros”, explica o CEO.
O foco principal é trazer essa segurança para quem transporta e quem é dono da carga, com monitoramento em tempo real das viagens, uma interface simples de acesso a viagens aos caminhoneiros, que recebe ofertas baseadas na sua localização e comprovações de entregas feitas com auxílio de IA.
A Motz ainda utiliza toda a estrutura oferecida pelo Grupo Votorantim para oferecer alguns benefícios como um programa de financiamento de caminhões pelo BV, banco do grupo Votorantim, e até mesmo plano de saúde e seguros contra acidentes.
No agro, o gerenciamento de risco é fundamental, segundo Pimenta. “Uma carga de soja é mais cara do que uma carga de cimento”, diz. Por isso, o software da Motz ainda fica responsável por fazer essa espécie de auditoria de empresas externas, cargas e motoristas.
Resumo
- Receita líquida da Motz deve crescer para quase R$ 1,8 bi em 2025 com destaque para o agronegócio que passará a representar 30% da receita
- Operações em clientes fora da Votorantim já respondem por 40% da receita e a empresa projeta antecipar meta de equilíbrio entre clientes internos e externos
- Volume transportado deve chegar a 5 milhões de toneladas no agro neste ano e companhia mantém investimentos anuais de R$ 15 milhões em tecnologia