Mesmo com 50 anos nas costas, o vigor da Embrapa em desenvolver novas tecnologias para o agronegócio pode fazer inveja a muitas startups Brasil afora.

Para renovar o fôlego, nada melhor do que uma troca no comando. Foi exatamente o que a empresa estatal fez, há menos de um mês, quando promoveu a pesquisadora com mais de 30 anos de casa, Silvia Massruhá, ao posto mais alto da instituição pública.

A julgar pelos planos que a nova gestão tem como meta, o trabalho não será fácil. A Embrapa quer “apenas” realizar uma nova revolução no agronegócio, dessa vez, o foco é a sustentabilidade.

Durante um evento realizado em Matupá, no Mato Grosso, onde foi apresentada a primeira colheita de soja de baixo carbono brasileira, a nova presidente conversou com exclusividade ao AgFeed, e detalhou, em uma breve conversa, os principais desafios dos próximos anos para a instituição.

Segundo Massruhá, a Embrapa quer ser um player importante na revolução sustentável da agricultura brasileira nos próximos anos. Em suas palavras, a Embrapa está comprometida com “a produção de alimentos saudáveis com base sustentável em três dimensões: ambiental, econômica e social”.

Essa sustentabilidade projetada pela Embrapa passa, principalmente, pelo uso e fomento de novas tecnologias no campo, como agricultura digital, ferramentas de precisão e engenharia genética.

“É momento de usar essas tecnologias que estão sendo pesquisadas para agregar mais valor e trazer esse selo de sustentabilidade”, comenta.
Como exemplo, a presidente citou a iniciativa PRO Carbono Commodities, projeto que envolve, além da Embrapa, a Bayer, a ADM e a Fazenda Bom Futuro.

A iniciativa mensura a pegada de carbono durante toda a fase agrícola, desde o pré-plantio até colheita, ou seja, desde a preparação do solo e a escolha do fertilizante até a hora de retirar o grão da lavoura.

A Embrapa entrou na equação do projeto por meio de uma “calculadora tropical”, que serve exatamente para medir o quanto de carbono é emitido nessa cadeia.

“Esse projeto é um exemplo de como a gente está usando tecnologia, modelagem matemática na calculadora e ferramentas como blockchain”, acrescenta a presidente.

Além disso, a Embrapa está com os olhos atentos para o que a presidente chamou de “transição nutricional”, movimento em que os consumidores estão considerando novos modelos de dieta e uma preocupação com a transparência nos processos de produção dos alimentos.

Em paralelo a isso, a Embrapa quer fortalecer ações de bioeconomia e transição energética, bem como uma aproximação entre o campo e a cidade por meio do agroturismo.

“As mudanças climáticas pressionam pela descarbonização das cadeias. Falamos aqui de milho, etanol de milho, biocombustível. Precisamos pensar em como trabalhar isso melhor, fortalecer as ações de bioeconomia, não só na amazônia e no cerrado, mas pensando em todos biomas brasileiros”, disse a nova presidente.

Essas metas traçadas pela Embrapa podem ser consideradas um reflexo da própria carreira de Silvia. A presidente entrou na instituição em 1989 como pesquisadora. Sua tese de estudos era justamente a inserção de tecnologia de informação na agricultura.

“Minha área de doutorado foi inteligência artificial. Parecia tão longe do agronegócio”, comenta a presidente.

Mudanças administrativas

Para além da ideia da revolução sustentável, a presidente afirmou que, diferentemente dos últimos anos, onde a gestão era centralizada, as unidades da Embrapa terão autonomia para desenvolverem suas atividades.

“A pesquisa acontece nas unidades. Na nossa gestão estou trazendo um diretor de cada região do Brasil para dar mais pluralidade às nossas atividades”, afirma.

Além disso, a presidente declarou que a instituição deve voltar a fazer concursos, que já não acontecem há mais de 10 anos. “Precisamos trazer uma geração nova para a Embrapa”, finaliza.