Com a recente compra dos ativos da concorrente Marfrig, a Minerva Foods, empresa fundada pela família Queiroz, no interior de São Paulo, e hoje uma gigante listada na bolsa de valores, procurou dar segurança aos investidores de que está pronta para crescer sua capacidade produtiva em mais de 43%, sem perdas financeiras.
Foi essa a principal mensagem passada pela companhia no Minerva Day, evento realizado nesta terça-feira em São Paulo pela empresa para apresentar suas visões aos investidores.
Com auditório lotado, o CEO da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, destacou que a compra das 16 plantas, o que inclui Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, veio no momento em que “a América do Sul está ocupando mais espaço” no mercado global de carnes.
Segundo ele, os países da região hoje representam 30% do comércio global de carne bovina, mas tem potencial para chegar a 50% nos próximos 5 anos.
A perspectiva otimista se justifica, de acordo com o CEO, principalmente pela vantagem em relação ao custo da mão de obra, comparado com outro principal player que é o mercado norte-americano, além das condições de clima e produtividade na pecuária da América do Sul.
Neste cenário, a empresa espera não apenas acompanhar o avanço do mercado, mas também ganhar mais participação, como no caso da Argentina. Quando for concluído o negócio com a Marfrig, a Minerva terá um total de 6 plantas no país vizinho, com capacidade para abater 5,9 mil cabeças de bovinos por dia.
“Estamos vendo que, estruturalmente, a Argentina vai para uma política mais liberal de convergência de câmbio, de mais formalidade”, disse o CEO ao AgFeed e a um grupo de jornalistas, após a apresentação aos investidores.
“São coisas extremamente básicas, que já vimos em países que desenvolveram seus mercados, com liberdade de comércio exterior. Por isso estamos ansiosos para saber quem vai ser o ministro da Economia lá”.
O CFO da Minerva, Edison Ticle, prevê que o share da empresa nas exportações argentinas suba dos atuais 10% para pelo menos 15%. A companhia vê como uma das possíveis mudanças, com a eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina, um ambiente mais estável em relação ao câmbio.
“Hoje nós temos cortes que são proibidos de serem exportados na Argentina. Tem o imposto de exportação, é o único país do mundo que tem, acreditamos que isso vai mudar”, disse Queiroz.
Os dois pontos citados fazem parte das ideias levadas a Milei por Fernando Vilella, apontado como futuro secretário da Bioeconomia, novo nome as Secretaria de Agricultura argentina.
Segundo os dois executivos, grande parte dos concorrentes da empresa na Argentina estão lá pela questão dos dois câmbios, conseguem arbitrar diferentes taxas, algo que para uma empresa global e formalizada, como a Minerva, não seria possível.
"Agora o jogo ficará igual para todo mundo e poderemos jogar em dois tabuleiros. Um, dos produtos processados, algo que já vínhamos investindo lá. E outro, do mercado de exportação de carne in natura”, ressaltou Ticle.
O Minerva Day também contou com a apresentação do consultor de mercado Alexandre Mendonça de Barros, que faz parte do conselho da companhia.
"A exportação de carne da Argentina chegou a cair para 200 mil toneladas, deve subir para 800 mil toneladas e acredito que há potencial para chegar a 1,2 milhão de toneladas”, disse Mendonça de Barros.
Ele destacou que “é vocação argentina” a produção de carne bovina, o que já traz um diferencial em relação à imagem do produto no mercado internacional.
Compra de ativos
Em boa parte da apresentação, os executivos da Minerva reforçaram o aumento da capacidade de arbitragem, em função da diversificação geográfica, que permite colocar mais ou menos foco na região que, em determinado momento, oferece melhores condições de rentabilidade.
Sobre a compra dos ativos da Marfrig, o CFO Edison Ticle afirmou que as previsões otimistas apontam para uma aprovação dos órgãos reguladores no primeiro semestre do ano que vem.
A empresa dividiu em duas partes o acordo. Em um deles estão os ativos do Brasil, Argentina e Chile, que podem ter uma aprovação mais rápida pelos órgãos antitruste.
Já o Uruguai foi feito de forma separada em função de uma expectativa que poderia demorar mais. Mesmo assim, Ticle acredita que a compra seja totalmente aprovada até metade de 2024.
O negócio foi fechado por R$ 7,5 bilhões, sendo que R$1,5 bilhão já foi pago e o restante será efetuado ao final da operação.
Os executivos foram enfáticos ao dizer que, pelo menos nos próximos dois anos, a Minerva não pretende fazer novas aquisições. "Agora o foco é buscar as sinergias", afirmaram.
Na apresentação do CFO, foi detalhado o "case” da compra que a Minerva fez de ativos da JBS, em 2017, considerada de porte semelhante ao negócio recente com a Marfrig, em função do salto na produção que viabilizou.
Segundo a Minerva, até hoje a empresa já fez 20 aquisições. “Já fizemos 19 integrações, esta será a vigésima, o que amplia a arbitragem e nos coloca como grande player na maioria dos destinos, uma capacidade de abate de 45 mil cabeças por dia, nos deixa em posição favorável no mercado”, ressaltou Fernando Queiroz.
Efeito China
O CFO da Minerva disse hoje que o grande responsável pela margem de lucro menor do que o esperado pela empresa, ao longo deste ano, foram os preços mais baixos da carne vendida aos chineses, que teriam ficado 25% abaixo do que se esperava.
No último balanço trimestral a Minerva reportou lucro R$ 141 milhões entre julho e setembro deste ano, enquanto que em 2022, os ganhos foram de R$ 141,5 milhões no mesmo período. A margem Ebitda da Minerva saiu de 9,6% no terceiro trimestre do ano passado para 10,1% neste ano.
No segundo trimestre, a margem ainda estava abaixo de 10%. As receitas da empresa caíram 16% em um ano, ficando pouco acima de R$ 7 bilhões no terceiro trimestre. O Ebitda recuou 11,5%, para quase R$ 714 milhões.
No início do ano o Brasil passou um período de cerca de três meses impedido de exportar para a China, em função do registro de caso atípico de BSE.
"No período que ficou suspenso, o pipeline se acumulou, o que não era permitido entrar, chegou tudo de uma vez, por isso os estoques cresceram brutalmente, a demanda (chinesa) continuou estável", lembrou o CEO da Minerva.
Para os executivos da empresa, a expectativa é de melhora nos preços deexportação para a China em 2024.
"Estamos vendo algumas características estruturais, a nova geração chinesa consumindo mais carne bovina, o que traz de volta para o normal, já no próximo ano”, afirmou Queiroz.
Alexandre Mendonça de Barros concordou com a visão otimista, apesar do recuo de 7% nas exportações brasileiras de carne bovina para a China, de janeiro a outubro deste ano.
"Não é verdade que o consumo na China está caindo, a importação total deles está subindo", enfatizou o conselheiro da Minerva.
Ele lembrou que este ano houve um aumento na produção chinesa de carne bovina, o que também pressionou os preços para baixo, com maior oferta, mas prevê que o ciclo se inverta a partir do próximo ano.
O analista destacou que na China não há correlação direta entre preço de carne suína e bovina. Segundo ele, enquanto os mais velhos preferiam a suína, agora, os mais jovens, influenciados inclusive pelos problemas com a peste suína, estão preferindo a carne bovina.