Uma pesquisa inédita realizada pela CropLife Brasil, entidade que representa 23 indústrias de defensivos e sementes no País, e pela Blink, mostrou que a venda de bioinsumos cresceu 15% na safra 2023/24 frente a temporada anterior.
Considerando o preço final para o agricultor, as vendas somaram R$ 5 bilhões incluindo produtos biológicos voltados para o controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores.
De acordo com Eduardo Leão, diretor-presidente da CropLife Brasil, o mercado brasileiro cresceu nos últimos três anos a uma média anualizada de 21%. “Isso traz um crescimento quatro vezes maior acima da média global. O Brasil tem sido protagonista neste setor frente ao resto do mundo”, afirmou.
Segundo a CropLife Brasil, 80% desse mercado corresponde a produtos destinados ao controle de pragas, como biofungicidas, bioinseticidas e nematicidas.
O levantamento apontou que os bioinseticidas tiveram, em 2023, representatividade de 34% no mercado brasileiro, seguido pelos bionematicidas (24%) e biofungicidas (22%). Já os bioinoculantes e solubilizadores responderam por 19%, segundo o levantamento.
Maior cultura agrícola do País, a soja consome 55% desses produtos. Milho, com 27% e cana com 12% vêm a seguir, com outros 6% divididos entre algodão, café, citrus e hortifruti.
“Algodão e soja utilizam mais bionematicidas, enquanto a cana e o milho utilizam mais bioinseticidas, principalmente para combater a cigarrinha de milho e a broca da cana”, explicou Leão.
Em termos geográficos, Mato Grosso corresponde a 33% do mercado brasileiro. O estado de Goiás representa outros 13%, enquanto os estados de Sâo Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, contemplam cerca de 9% cada.
Segundo Eduardo Leão, um quarto de todas as áreas cultivadas no País utilizam algum tipo de bioinsumo na produção. Em termos de área tratada, de acordo com a CropLife Brasil, o crescimento na safra 2022/2023 foi de 35%. O presidente da entidade acredita que esse fescimento tem se dado por conta da profissionalização e expansão das indústrias, que estão buscando novas formulações e tecnologias.
“Há um processo de fortes incentivos à pesquisa e desenvolvimento, e as associadas da CropLife representam 80% desse P&D no País”, afirmou.
A CropLife conta com empresas de diversos portes, desde gigantes globais como Bayer, FMC, Syngenta, Nutrien, Basf, Sumitomo e Corteva, até grandes players do mercado brasileiro como Vittia e Essere Group e startups como a Promip.
Outro aspecto pontuado por Eduardo Leão é que o produtor tem buscado um manejo integrado, que combine químicos e biológicos. “Saímos de um mundo que usava ou uma tecnologia ou outra, e agora entramos numa era de combinação por tecnologia. O produtor vê que os biológicos estão dando retornos positivos”, comenta.
Segundo ele, o Brasil tem sido um “laboratório rico pela biodiversidade que temos na identificação e desenvolvimento de novos produtos”. “Seguramente vamos nos tornar uma plataforma de exportação para outros países, principalmente os de clima tropical parecido com o Brasi”, projetou.
Os desafios para continuar a crescer são os mesmos de todos os produtores, como as questões climáticas e margens mais apertadas. Leão ainda espera que nesta safra 2024/25, o estoque dos revendedores se regularize.
Na projeção da CropLife, o mercado global de bioinsumos ficou entre US$ 13 e 15 bilhões em 2023, incluindo produtos de todos os segmentos. A projeção é que em 10 anos o mercado chegue a US$ 45 bilhões, num ritmo de crescimento anual de 14%.
Vendas atrasadas
Se as indústrias mais tradicionais de químicos notam uma lentidão nas vendas da cesta de insumos para a safra 2024/25, os bioinsumos não ficam para trás.
De acordo com Renato Gomides, gerente financeiro da CropLife Brasil, o uso de bioinsumos deve continuar a crescer em taxas de dois dígitos na safra 2024/25, mesmo com um atraso na comercialização de janeiro até agora.
“O ano começou com um nível de estoque mais alto, com a preocupação de escoar produtos para realizar novas compras. O produtor tem aguardado a melhor relação de troca, mas temos visto que quem toma a decisão mais cedo têm acertado mais. O mercado vai andar, mesmo com esse pequeno atraso”, contou Gomides.
Em entrevista recente ao AgFeed, Renato Guimarães, presidente da FMC para a América Latina, mencionou que os pedidos em carteira estavam em 35% há um mês, percentual abaixo dos 50% da média histórica.
“Há uma mudança de hábito de compra do produtor, que hoje está comprando mais próximo do uso. Há um atraso nas compras do produtor, pois o agricultor está negociando a soja, que também está atrasada”, afirmou.
Marco regulatório
O setor ainda acompanha com atenção as discussões no Congresso acerca da criação de um marco regulatório específico para os bioinsumos. Hoje, os bioinsumos são regidos sob a mesma lei dos químicos, que foi aprovada no apagar das luzes de 2023.
Arthur Gomes, diretor-executivo de sustentabilidade na CropLife Brasil, relembra que existem dois projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados, e as discussões têm se dado entre indústrias, produtores e todos elos da indústria.
Segundo o diretor, é consenso que os bioinsumos precisam ser retirados da lei dos agroquímicos, e o grande debate agora é como estruturar a regulamentação para a produção adequada dentro das fazendas.
“É importante ter um regimento com controle de qualidade e rastreabilidade para que a administração pública controle o que é feito nas fazendas. Nós da CropLife temos participado de forma ativa nas discussões”, afirmou Gomes.