A adoção de insumos biológicos vem avançando no Brasil e no mundo, mas apenas um terço do potencial de produtividade das plantas está sendo aproveitado, o que reforça a expectativa de mais oportunidades para crescer.
A opinião é do líder global de biológicos da Corteva, Frederic Beudot, que participou na semana passada do GAFFFF, evento com foco em agronegócio, realizado no Allianz Parque, em São Paulo.
Beudot defendeu o uso de bioinsumos na agricultura durante uma apresentação a jornalistas, acompanhado de clientes brasileiros, os sócios do Grupo Pignataro, de Mato Grosso do Sul, Mário e Angelo Pignataro. Na propriedade, 100% dos 5 mil hectares estão sendo tratados com biológicos, mas sempre de forma complementar aos químicos.
Ao final do evento, o VP de biológicos da Corteva conversou com o AgFeed, sobre o ritmo de crescimento mais lento dos biológicos visto em 2024.
“Sim, o ritmo está mais lento, mas é preciso analisar o histórico de crescimento do biológico, que não é constante. Temos períodos de forte desenvolvimento da agricultura, em que o crescimento é de 20% a 30%, e temos períodos em que a agricultura é mais estável, tipicamente nessa faixa de cerca de 10%”, afirmou Frederic.
Na visão dele, é o desempenho do setor agrícola, recentemente, que fez o crescimento ficar em torno de 10% ao ano, em média, globalmente.
“Não importa o que aconteça, haverá outros períodos de alto crescimento. Isso acontecerá novamente porque os ganhos que precisamos obter em produtividade ainda são enormes e estão por vir”, ressaltou.
Frederic Beudot diz que o mercado global atual, em biológicos, que está em torno de US$ 12 bilhões, chegará próximo de US$ 26 bilhões na próxima década. “O Brasil vai crescer mais rápido do que isso”.
“O Brasil movimenta cerca de R$ 18 bilhões hoje. E vemos esse valor mais que dobrando, chegando a R$ 40 bilhões em, digamos, 6 a 7 anos. Então, o ritmo aqui será mais rápido do que em outras partes do mundo”, disse ele ao AgFeed.
O otimismo ocorre também, segundo ele, ao ver o entusiasmo dos clientes, que querem contar sobre os resultados obtidos e acabam ajudando a impulsionar a adoção da tecnologia.
Um dos destaques na trajetória recente da Corteva em biológicos é o Utrisha N, lançado em 2023, que permite a fixação do nitrogênio em culturas como o milho, altamente dependente da ureia. A tecnologia foi considerada muito inovadora porque na soja, por exemplo, o uso de inoculantes para a fixação biológica do nitrogênio levou a uma economia quase que total em fertilizantes nitrogenados.
Durante a conversa com jornalistas, o executivo disse que hoje os biológicos já representam entre 7% e 8% da receita com defensivos da Corteva. O objetivo é triplicar o faturamento nesta área na próxima década.
“É o que estamos almejando, triplicar o tamanho do nosso negócio. Portanto, crescer significativamente mais rápido que o mercado. E acreditamos que temos as tecnologias e as equipes em todo o mundo. Cerca de 1,3 mil funcionários, dos 22 mil, se dedicam a produtos biológicos na Corteva ao redor do mundo. Portanto, uma parcela muito significativa da nossa organização já está focada apenas em produtos biológicos”, afirmou.
Perguntado se o share no portfolio da Corteva poderá migrar para mais biológicos e menos químicos, ele respondeu: “Não necessariamente, pelo menos não intencionalmente. Continuamos investindo ativamente na descoberta de novos produtos químicos. A realidade está ficando cada vez mais difícil. Leva mais tempo. Portanto, podemos ver como resultado que a inovação em produtos biológicos se torna mais rápida. Mas não estamos tentando desacelerar. Estamos impulsionando os dois ao mesmo tempo”.
A Corteva diz investir “US$ 4 milhões por dia” em pesquisa e desenvolvimento, por isso já trabalha nas próximas inovações.
O AgFeed questionou Beudot sobre quando deverá chegar ao mercado algum novo lançamento, nos moldes do Utrisha N.
“Acho que temos dois ou três projetos em andamento, programados para daqui a três anos, e estou muito animado. Temos até projetos comerciais em outras regiões que estamos encontrando maneiras de trazer para o Brasil, o que acho que será muito empolgante. E se conseguirmos fazer isso nos próximos dois anos, eles estarão aqui. Então não serão 10 anos para ver os próximos avanços em diferentes segmentos e diferentes aplicações”, respondeu ele.
Outra prioridade da área de biológicos da Corteva é o aperfeiçoamento dos produtos com foco em estender o “tempo de prateleira”, já que a grande maioria ainda precisa de refrigeração, o que dificulta a logística e prejudica uma maior adoção.
“É uma área nova, para trabalhar como nós estendemos essa vida útil e encontramos tecnologias de origem natural para fortalecer o que já existe, é prioridade máxima para nós”, ressaltou.
Resumo
- Para Frederic Beudot, ritmo de crescimento da adoção de bioinsumos deve voltar a acelerar, depois de um ano de alta na casa dos 10%
- O executivo acredota que mercado brasileiro deve mais que dobrar, dos atuais R$ 18 bilhões para cerca de R$ 40 bilhões, em seis ou sete anos
- Para a Corteva, o objetivo é triplicar o negócio de biológicos, que hoje responde por 7% a 8% da receita, na próxima década