Em junho de 2022, quando assumiu o posto de CEO da Lavoro, Ruy Cunha recebeu um grupo ambicioso em um mercado que vivia seu momento dourado, com margens e volumes em alta.

Nesta quarta-feira, 26 de novembro, ele se despede do cargo em um comunicado publicado pela companhia em um cenário bem diferente. O documento informa a homologação do plano de recuperação extrajudicial da Lavoro, a venda de ativos que, na fase de expansão, eram apresentados como peça relevante de uma estratégia de geração de valor pelo grupo e, finalmente, sua substituição como CEO.

De acordo com o comunicado protocolado na SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, onde as ações da companhia são negociadas na bolsa eletrônica Nasdaq, a Lavoro informa que seu plano de recuperação extrajudicial foi ratificado pelo 2º Juizado de Falências e Recuperação Judicial do Distrito Central de São Paulo na terça-feira, dia 25 de novembro.

A Lavoro informou que credores que representam cerca de 67% do valor dos créditos elegíveis de fornecedores apoiaram a proposta, percentual acima do mínimo exigido pela legislação brasileira.

Entre os apoiadores estão grandes empresas de insumos como Adama, UPL, FMC, Basf, Ourofino, EuroChem, entre outras. O plano cobre aproximadamente R$ 2,5 bilhões em contas a pagar.

Pelos termos do acordo, credores aderentes ao plano receberão pagamentos semestrais, corrigidos pelo IPCA e sem deságio, até 2030.

Já os credores que optarem por não aderir receberão o pagamento em parcela única em 2032, com desconto de 50%, também corrigido pela inflação.

A estrutura do acordo, destaca a companhia, busca preservar a continuidade das operações, recompor linhas de financiamento com fornecedores e reduzir riscos de novas rupturas na cadeia de suprimentos.

Ao mesmo tempo, a companhia informa que está em negociações para a venda da Crop Care, holding para indústrias de insumos agrícolas. A empresa controa ativos como Agrobiológica, Cromo Química e Union Agro, focados na produção de insumos biológicos e de especialidades, que frequentemente eram saudados por oferecerem margens mais altas ao grupo, quando comparadas ao negócio de distribuição de insumos.

Já a Perterra, fabricante de químicos genéricos, com margens menores, não está incluída nessas negociações e continuará sob o comando da empresa, informou a Lavoro.

"Após a possível alienação da divisão de Cuidados com Cultivos, a Lavoro Brasil representará uma parcela mais significativa dos resultados financeiros consolidados da Lavoro Limited", diz a empresa em comunicado.

Assim, a Lavoro que Ruy Cunha entrega, no próximo dia 30 de novembro, ao seu sucessor é bem menor e diferente do que a que recebeu em 2022.

A Lavoro iniciou seu processo de recuperação extrajudicial em 18 de junho deste ano. No seu mais recente balanço, apresentado no início do mês, com resultados do ano fiscal encerrado em 30 de julho, houve uma queda de 34% em suas vendas, que somaram R$ 6,2 bilhões no exercício.

Em seu lugar, com a responsabilidade de executar o plano de recuperação extrajudicial, assume Marcelo Pessanha, ex-CEO da Crop Care e que vinha ocupando o posto de vice-presidente de vendas e marketing da companhia desde julho do ano passado, liderando a operação comercial da Lavoro no Brasil.

Profissional com longa trajetória na UPL no passado, Pessanha ingressou na companhia em 2019, como executivo da Crop Care, e dirigiu a holding por cerca de três anos.

"Espera-se que essa transição assegure a continuidade das operações da Lavoro", diz a companhia em comunicado.

Resumo

  • Justiça homologa plano de recuperação da Lavoro, que envolve R$ 2,5 bilhões em contas a pagar e prevê pagamentos até 2030
  • A empresa informa que negocia venda da holding Crop Care, com ativos como Agrobiológica, Cromo Química e Union Agro
  • Execução do plano ficará a cargo Marcelo Pessanha, atual VP de vendas e marketing e ex-CEO da Crop Care