Conhecida por sua produção de frangos e ovos orgânicos, o grupo paulista Korin, pertencente à Igreja Messiânica Mundial, quer mostrar que sua cesta de produtos é mais ampla do que parece.
Daqui em diante, a companhia com sede em Ipeúna (SP) quer ser vista não apenas como produtora de aves e ovos orgânicos – produtos nos quais já é reconhecida por mercado e consumidores pelo foco em bem-estar animal.
A ideia dos líderes da Korin é que fique mais evidente para o público que a empresa produz também outros alimentos como arroz, feijão, carne bovina, salmão, além de contar uma linha de bioinsumos e outros produtos para produção agrícola e pecuária.
E, para isso, decidiu fazer um movimento que se inicia dentro de casa, com uma reorganização da estrutura de governança de seus diversos negócios.
“A Korin sempre foi muito conhecida pelo frango e ovos, mas agora temos tido uma preocupação de mostrar que não somos só isso”, afirma Luiz Demattê, diretor técnico e de sustentabilidade da holding, em entrevista ao AgFeed.
“É uma ideia mais abrangente, que envolve a ideia de uma agricultura natural, de uma agricultura que entende, respeite questões ambientais, sociais, econômicas, essa questão da sustentabilidade.”
A agricultura natural a que Demattê se refere é uma filosofia do pensador japonês Mokiti Okada, fundador da Igreja Messiânica, que propôs a produção de alimentos sem a utilização de defensivos agrícolas e com foco no fortalecimento da terra.
“Mokiti Okada falava muito na ideia de de um alimento rico em energia vital, e da importância disso para a saúde, para o bem-estar, para a capacidade do ser humano de se tornar útil na sociedade”, explica Demattê.
Seguindo esses princípios, a empresa tem ampliado seu portfólio de produtos alimentícios, trabalhando em um esquema de parcerias.
A Korin já terceiriza a produção de itens como carnes bovinas, processadas pela Bio Carnes, e tilápias, produzidas pela Brazilian Fish, entre vários outros. “A gente cria um protocolo através de uma parceria, vem um produto que atende a esses requisitos e aí a gente coloca a nossa marca”, explica Demattê.
Nessa linha, recentemente a Korin passou a vender também salmão, produzido no Chile pelo grupo japonês Mitsubishi, que tem presença no país sul-americano.
“A ideia é que a gente consiga produzir mais, as lojas se aproveitem mais também desses desenvolvimentos, dessa variabilidade maior de itens para que sejam comercializados e que as lojas possam oferecer mais oportunidades, mais opções para os nossos consumidores”, explica Demattê.
Mudanças internas
Além de buscar mudanças na imagem junto ao público externo, dentro de casa, a Igreja Messiânica também tem promovido mudanças na governança do grupo.
A holding é composta por quatro empresas: Korin Alimentos, que produz frango, ovos e outros alimentos orgânicos; Korin Agricultura, que fabrica bioinsumos; Korin Varejo Consciente, que é dona das lojas Korin; e Korin Cozinha Industrial, usada internamente pela Igreja Messiânica e é uma espécie de restaurante dentro de uma unidade do grupo religioso.
Uma primeira reorganização da estrutura já havia sido feita em 2021, quando Luiz Demattê assumiu o cargo de CEO da Korin Alimentos, e houve o lançamento do nome “Grupo Korin”.
Mas, apesar dessas alterações, Demattê explica que a holding ainda funcionava apenas no papel, sem que as suas subsidiárias de fato trabalhassem de forma integrada.
Agora, o comando está todo centralizado em Edson Matsui, CEO do Grupo Korin, com um administrador geral logo abaixo. Assim, o próprio Demattê, que antes era CEO da Korin Alimentos, deixou de ocupar o cargo – que também deixou de existir – e passou a ser diretor técnico e de sustentabilidade da holding.
“Antes as empresas tinham um papel mais independente e agora estão mais ligadas”, explica Demattê.
Nessa reorganização, emenda ele, serviços comuns às subsidiárias, como as áreas financeiras, de contabilidade, marketing, controladoria e TI, estão sendo transferidos para a holding, para que os serviços sejam feitos de forma compartilhada.
A decisão de atuar de forma mais conjunta se deu entre fevereiro e março do ano passado e, na virada de 2024 para 2025, virou realidade. Uma consultoria teria auxiliado a Korin nesse processo.
Com isso, alguns projetos ficaram de lado, como um e-commerce próprio, que a Korin iria lançar no começo do ano passado.
“Como esse era um processo que ia começar ainda e não era relevante do ponto de vista do faturamento, achamos melhor deixar em stand-by, talvez aconteça mais à frente, mas ainda sem data”, explica Demattê.
Apesar da reestruturação, a Korin – que não divulga dados de faturamento, receita e produção – deve continuar sob o comando da Igreja Messiânica, diz Demattê, sem a entrada de investidores – que já abordaram a companhia, interessados em seu modelo de produção diferenciado. “O controle é da igreja. Não tem nenhuma conversa diferente disso”, resume o executivo.
Bioinsumos
Como parte do processo de reforçar para o público a ideia da agricultura natural, a Korin também planeja potencializar as operações de sua empresa de bioinsumos, a Korin Agricultura, que tem como principal produto o melhorador do solo Bokashi, responsável por mais de 80% das vendas da empresa.
A ideia do grupo, diz Luiz Demattê, é aproveitar as possibilidades que a nova lei dos bioinsumos, sancionada no ano passado pelo presidente Lula, está trazendo também para ganhar mais força nesse mercado.
“Os bioinsumos têm um potencial gigantesco de contribuir muito com uma agricultura mais sustentável, com o processo de regeneração que nós estamos tanto falando”, comenta Demattê.
“E também são um ferramental, digamos, para dar uma contribuição na redução da dependência do Brasil em relação aos fertilizantes trazidos de fora.
O negócio de bioinsumos da Korin já vinha crescendo nos últimos anos. Durante muito tempo, entre os anos 1970 e os anos 2000, a produção era voltada apenas para o consumo interno, até que a Korin lançou comercialmente o Bokashi em 2004.
De lá para cá, a empresa foi desenvolvendo novas versões do produto a partir de então, e também agregou outros itens em seu portfólio como neutralizador de odores para pets, aditivos para aves e suínos, acelerador de compostagem, entre vários produtos diversos.
Mais recentemente, em 2018, a Igreja Messiânica transformou a Korin Agricultura, que antes era uma divisão da companhia de alimentos, em uma empresa à parte, acompanhando o desenvolvimento do mercado de bioinsumos, e montou uma fábrica em Ipeúna (SP), junto à unidade de processamento de frangos.
Recentemente, de olho no crescimento desse segmento, a empresa dobrou a capacidade de produção da planta, passando de 1 milhão de litros para cerca de 2,5 milhões de litros.
Resumo
- A paulista Korin promove uma reorganização em seus negócios para se posicionar como uma empresa de alimentos, e não de apenas frangos e ovos orgânicos
- Holding também fez reestruturações para centralizar o comando de suas subsidiárias, que antes atuavam de forma mais independente
- A Korin pertence à Igreja Messiânica Mundial, que não pretende abrir o controle da companhia para terceiros