A montadora americana de máquinas agrícolas John Deere anunciou nesta quinta-feira, 30 de novembro, um investimento de R$ 180 milhões na construção de um centro de inovação e desenvolvimento de tecnologia no município de Indaiatuba, no interior de São Paulo.

O Centro Brasileiro de Desenvolvimento de Tecnologia, como foi batizado pela companhia terá 10 mil metros quadrados de área construída e 500 mil metros quadrados de área total e deve começar a funcionar em novembro de 2024.

“A John Deere já entendeu que o futuro da empresa passa pelo Brasil e a América Latina”, afirmou Antonio Carrere, presidente da empresa no continente, ao fazer o anúncio em uma videoconferência com jornalistas.

O centro é o terceiro da companhia no mundo – a empresa possui instalações similares nos Estados Unidos e na Alemanha – e terá foco em criar ou tropicalizar tecnologias aplicáveis à agricultura tropical, sobretudo as grandes culturas, como soja, milho e cana.

Segundo Heather Van Nest, diretora de Inovação da John Deere para a América Latina, por ser o mais novo, o centro brasileiro “usará os aprendizados obtidos nos demais” e deverá também trabalhar em uma gama mais ampla de frentes de pesquisa e desenvolvimento.

“A Deere não possui nenhuma outra instalação global que integre sistemas de produção, agricultura de precisão, o projeto Precision Upgrades (de atualização de máquinas) e equipes de testes em um único local”, explicou.

Cerca de 150 pessoas devem atuar no centro, em áreas como inteligência artificial, machine learning e visão computacional, hoje já incorporadas em soluções embarcadas no maquinário da marca.

“Ao analisarmos os últimos 20 anos, nosso portfólio tem impulsionado produtos norte-americanos, adaptando-os ao mercado local”, afirmou Heather.

Ela citou casos de máquinas como a colhedora de cana CH950, projeto brasileiro concebido para atender às necessidades dos produtores de cana-de-açúcar, e a colhedora de grãos S400, desenvolvida para pequenas e médias propriedades rurais, como espécies de exceções bem-sucedidas, que ajudaram a apontar a necessidade do investimento.

“Com o anúncio de hoje, ampliaremos o foco nas demandas do Brasil e aceleraremos nossa entrada no mercado”. Ela estima que a presença de um centro dedicado ao mercado brasileiro pode reduzir em até 40% o tempo de desenvolvimento dessas inovações.

O investimento segue a estratégia da empresa de desenvolver soluções proprietárias exclusivas, diferentemente de concorrentes como a AGCO ou a CNH, que têm uma abordagem mais agnóstica no desenvolvimento e na incorporação de tecnologias, vislumbrando inclusive o mercado de "upgrade tecnológico" de máquinas mais antigas, estimado em US$ 150 bilhões.

O próprio Carrere reforçou esse conceito. “A John Deere trabalha seu próprio desenvolvimento de tecnologia, é um diferencial da empresa”, disse.

Ele lembrou de casos em que, ao identificar empresas que desenvolviam inovações que despertaram interesse da companhia, a John Deere as adquiriu e incorporou.

Foi o caso da Blue River, empresa especializada em sistemas de inteligência artificial e visão computacional, hoje utilizada em sistemas como o “Seed and Spray”, que utiliza câmeras e sensores para tornar “inteligentes” os pulverizadores da marca. A startup foi comprada em 2017 por US$ 305 milhões.

Assim, o centro não deve operar no modelo de inovação aberta, conceito cada vez mais adotado no ambiente corporativo para aproximar grandes companhias de startups, dando agilidade aos processos.

Segundo Carrere, a John Deere manterá esse relacionamento apenas através de uma parceria com o Agtech Garage, hub de inovação localizado em Piracicaba (SP).

A opção por Indaiatuba, onde também está o centro administrativo da empresa no Brasil, foi estratégica. Segundo Heather, “a localização proporciona proximidade com   universidades e centros de pesquisa, facilitando o recrutamento de talentos e parcerias estratégicas”.

Além disso, possibilita uma melhor integração com equipes de vendas e marketing. Enquanto a obra está em andamento, a John Deere afirma que mantém profissionais envolvidos com tecnologia trabalhando outras unidades da empresa no País.

“A maioria dos especialistas da nova instalação será de brasileiros, mas haverá alguns profissionais vindos dos Estados Unidos. E teremos ainda experts de machine learning de todo o mundo visitando o centro constantemente”, afirmou Heather.