As notícias, para os trabalhadores da montadora de máquinas John Deere, chegaram quase que simultaneamente. A primeira, divulgada publicamente pela companhia no final da semana passada. A segunda, comunicada de forma discreta, diretamente para alguns poucos destinatários.
A soma das duas podem indicar estratégias paralelas em busca de um mesmo objetivo: voltar a ter resultados positivos em um período em que a demanda por seus tratores e colheitadeiras diminuiu e os balanços não trazem boas novas aos acionistas.
Publicamente, a companhia anunciou a contratação de Rex Curtisse, jovem influencer com 123 mil seguidores na rede social Tik Tok, como seu primeiro “chief tractor officer” – executivo-chefe de tratores, em uma tradução literal.
O cargo, com uma remuneração anual na casa dos US$ 200 mil (mais de R$ 1,1 milhão pelo câmbio atual) foi recentemente criado como parte de uma estratégia de marketing que visa a atrair um público mais jovem para sua marca, um ícone da agricultura americana, com 185 anos de idade.
De forma privada, a John Deere comunicou a 590 trabalhadores de três de suas fábricas americanas que eles foram incluídos no plano de demissões que a empresa vem fazendo nos últimos meses.
Desde o ano passado, foram pelo menos quatro anúncios de cortes. Em 2023, cerca de 1,2 mil funcionários foram dispensados. Este ano, sem contar o novo corte, as unidades da companhia nos EUA perderam mais 625 trabalhadores.
No início de junho passado, os mais de 80 mil funcionários da empresa receberam um email do CEO, John May, em que ele informa que, pelo menos até o final de junho, quando se encerra o terceiro trimestre do ano fiscal da empresa, novos cortes de pessoal devem ser feitos em escala mundial, com vistas a adequar seus custos operacionais, que estão em alta, à demanda mais fraca prevista para os próximos meses.
“Infelizmente, isso significa a partida de muitos colegas talentosos e dedicados”, afirmou May na carta.
Enquanto os produtores, clientes tradicionais da companhia, sofrem com rentabilidade e pisam no freio das compras, a John Deere tenta reativar a demanda buscando se conectar com os consumidores do futuro.
Se a estratégia convencional de vendas já não tem mais a mesma efetividade, a montadora busca agora, com a contratação do influencer-executivo, ocupar um espaço relevante para a marca dentro das redes sociais.
Estudante de Ciências Ambientais na Universidade de Washington, Rex Curtiss foi escolhido para ao final de um concurso lançado nas próprias redes em abril. Na ocasião, a John Deere lançou um vídeo protagonizado por Brock Purdy, quarterback do time de futebol americano San Francisco 49ers, também uma celebridade no ambiente digital.
Para concorrer, Curtiss publicou um vídeo de um minuto em sua conta no Tik Tok, em que canta um rap declamando suas credenciais para o emprego, entre elas a habilidade em fazer esculturas de cera.
“A critatividade e a autencididade de Rex chamou nossa atenção desde o início”, afirmou Jen Hartmann, diretor global de Estratégia de Relações Públicas e Mídias Sociais da John Deere.
“Estamos ansiosos para ter Rex a bordo para criar conteúdo envolvente e identificável que, acima de tudo, celebre nossos clientes e tudo o que eles fazem para impactar a vida de cada um de nós.”
Estar a bordo é literalmente o que o influencer deve fazer. Sua missão será viajar para “locais icônicos” dos Estados Unidos e produzir conteúdos que contem histórias de produtores rurais e do uso das tecnologias da John Deere.
O novo emprego, porém, já surge com data de desligamento. O contrato de Curtiss é válido por um ano.