É muito difícil prever o futuro, inclusive quando se trata de negócios. Mas a sucroalcooleira Jalles Machado enxerga uma melhora nos preços do etanol, impulsionada por um programa governamental, e por isso, resolveu vender menos o produto no início da safra 2023/2024.

No segundo trimestre do período, a Jalles ainda contabiliza os dados com uma comparação Proforma levando em conta a Usina Santa Vitória, que foi adquirida em outubro de 2022. Assim, a companhia divulga os números com base no histórico da unidade antes do fechamento da operação.

Entre julho e setembro deste ano, a comercialização de etanol somou 65,6 mil metros cúbicos, volume 38,1% menor que no mesmo período da safra anterior. No acumulado da primeira metade da safra, o recuo é de 45%, para 129,1 mil metros cúbicos.

Em comentário que consta no release dos resultados do trimestre, a Jalles Machado afirma que adotou a estratégia de restringir a comercialização de etanol em todas as duas unidades, “mantendo estoque do produto devido ao cenário de preço menos atrativo”.

E quando se olha a linha de estoques, realmente há um salto significativo do etanol. São mais de 195 mil metros cúbicos estocados ao final de setembro, um crescimento anual superior a 40%.

Quando se coloca esse estoque em valores, o salto é ainda maior. São quase R$ 500 milhões de etanol estocado, montante 71% maior que o visto um ano antes, já contando os números da Usina Santa Vitória, que até o momento, produz somente etanol.

A companhia afirma que espera uma melhora dos preços do etanol com o programa Combustível do Futuro, que teve um Projeto de Lei lançado pelo governo em setembro.

Além de estimular o uso do etanol como combustível de aviação, o PL também prevê o aumento do percentual de etanol anidro na gasolina comum, saindo do máximo de 27,5%, válido atualmente, para até 30%.

Segundo a companhia, somente esta mudança traria uma demanda adicional de 1,3 bilhão de litros de etanol por ano.

Mesmo com essa perspectiva otimista para o etanol, a Jalles trabalha para tornar seu mix mais açucareiro.

Pouco depois de comprar a Santa Vitória, a Jalles anunciou investimentos para construir uma fábrica de açúcar na unidade. Além disso, em outubro, o conselho de administração aprovou o montante de R$ 10 milhões para a Unidade Otávio Lage.

Com esses investimentos, a Jalles projeta elevar a participação do açúcar em sua produção para até 55% na safra 24/25. Ou seja, o mix atual seria revertido.

A companhia aponta que as condições de mercado para o açúcar estão mais favoráveis, por conta da diminuição na produção de países importantes como Tailândia e Índia, que sofrem com condições climáticas mais adversas.

“A média da cotação dos contratos futuros registrou um aumento de aproximadamente 30% em comparação ao ano anterior, e o mês de setembro encerrou-se com a cotação do contrato futuro de entrega mais próxima a aproximadamente R$ 3.100 a tonelada”, diz a Jalles. Em setembro de 2022, a cotação estava em R$ 2.350.

A produção de açúcar da Jalles superou as 190 mil toneladas no segundo trimestre da safra, com aumento de 13,6% em um ano. No semestre, o aumento é de quase 17%, para quase 320 mil toneladas.

Com os preços favoráveis, a comercialização de açúcar também aumentou em quase 4% no trimestre, e mais de 10% no acumulado da safra.

Mesmo assim, os estoques de açúcar também estão maiores na safra 23/24, especialmente do VHP, o produto mais bruto. No geral, em volume, os estoques de açúcar subiram 13% em um ano, e em valores, mais de 26%. No caso do VHP, os crescimentos são de 388% e 447%, respectivamente.

Em produtividade, o Açúcar Total Recuperável (ATR) por tonelada de cana da Jalles subiu 2,5% no trimestre, para 156,9 quilos. No total, foram 509,5 mil toneladas, mas nesse indicador, não há comparação com a Usina Santa Vitória.

Em relatório sobre os resultados, os analistas da XP Investimentos, Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, classificaram os números da Jalles como “fracos”, mas dentro do esperado pela casa.

A XP ressaltou que os números operacionais são “encorajadores”, e que houve uma “sólida recuperação da produtividade”.

A Jalles Machado teve prejuízo líquido de R$ 47,6 milhões entre julho e setembro, ante lucro de R$ 167,7 milhões no mesmo período de 2022. O Ebitda ajustado teve queda de 34%, para R$ 306 milhões.