Em Rondonópolis, o clima era de grande expectativa. Há cerca de um mês e meio, o prefeito do município, Cláudio Ferreira (PL) comemorou com sua equipe o anúncio de que duas gigantes do agronegócio, Inpasa e Amaggi, construiriam juntas ali a primeira de uma série de usinas para a produção de etanol de milho em uma parceria que, de início, previa investimentos estimados em R$ 7,5 bilhões.

Ferreira chegou a anunciar que um empreendimento de R$ 2,5 bilhões, um dos maiores da história da cidade, seria implantado junto a um terminal da Rumo Logística, gerando cerca de dois mil empregos durante a construção e, posteriormente, 300 vagas permanentes na operação.

O entusiasmo, no entanto, durou apenas 45 dias. Uma nota de 105 palavras, publicada pelas duas companhias nesta terça-feira, 14 de outubro. Nela, Amaggi e Inpasa informam que “de comum acordo, decidiram encerrar as tratativas para a formação de uma joint venture voltada à produção de etanol de milho”.

A nota foi tão escassa de detalhes como a que comunicou, em 29 de agosto, a intenção das duas companhias de unirem forças nesse mercado. E pegou de surpresa até a assessoria da prefeitura de Rondonópolis, que foi informada do fato pela reportagem do AgFeed.

A decisão de encerrar a parceria antes mesmo de se iniciar qualquer investimento foi tomada, segundo a nota, “após ambas as empresas concluírem que possuem visões distintas quanto à estrutura e à governança do projeto, optando por seguir caminhos próprios neste momento”.

Além de Rondonópolis, outros dois municípios apareciam como prováveis candidatos a receber investimentos semelhantes da agora encerrada JV. Campo Novo dos Parecis e Querência, também no Mato Grosso, eram aquelas em que os estudos de viabilidade estavam mais adiantados.

Quando foi comunicada, a parceria indicava um casamento de expertises complementares de uma das maiores produtoras e originadoras de grãos do País com a maior grupo agroindustrial voltado para a produção de etanol de milho.

Na safra 2023/2024, A Amaggi produziu mais de 400 mil toneladas de milho, mas graças a seu relacionamento com mais de 5 mil agricultores movimenta quantidades muitas vezes superiores do grão ao longo do ano.

Já a Inpasa possui cinco plantas no Brasil (Sinop e Nova Mutum, em Mato Grosso, Dourados e Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul e a recém-inaugurada em Balsas, No Maranhão) e uma em construção em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia.

As duas empresas apontam, no comunicado, que podem avaliar eventuais projetos futuros em comum. Por enquanto, devem seguir com projetos independentes no segmento de biocombustíveis.

Na Inpasa, por exemplo, um dos caminhos pode ser o que leva a Rio Verde, em Goiás. O município também já comemorou, há poucos meses, a perspectivas de construção de uma usina da companhia.

O investimento, de R$ 2,5 bilhões, chegou a ser anunciado pelo governador do estado, Ronaldo Caiado, mas não foi confirmado pela empresa até agora.

A Amaggi, por sua vez, é vista como potencial realizadora, individualmente, dos projetos antes anunciados em conjunto pelas duas empresas. Em Rondonópolis, especula-se que ela pode bancar sozinha o investimento -e mudar, de novo para melhor, a expectativa na cidade.

Resumo

  • Inpasa e Amaggi cancelaram parceria de R$ 7,5 bilhões para construir usinas de etanol de milho em Mato Grosso
  • Divergências sobre estrutura e governança levaram ao fim das tratativas antes de qualquer investimento
  • Municípios como Rondonópolis, Campo Novo dos Parecis e Querência deveriam receber os projetos da joint venture