Depois da consolidação das revendas de insumos — liderada por fundos como Aqua Capital e Pátria, com as criações de AgroGalaxy e Lavoro —, o mercado agro começa a olhar para outro segmento fragmentado: o de concessionárias de máquinas agrícolas.

Enquanto esse mercado derrapa nas vendas, o setor, que é formado em grande parte por empresas familiares e com presenças mais locais, passa a juntar forças com o impulso das multinacionais.

É nesse contexto que, em Santa Catarina, o Grupo Fuganti incorporou a Rodomac, reforçando a operação das concessionárias New Holland e ampliando a presença regional.

Com a incorporação, a Agro Divel, braço de concessionárias da marca do Grupo Fuganti, passa de três para seis lojas, e já prevê a inauguração de uma sétima unidade em 2026.

“Passamos a atender 134 municípios, com aproximadamente 800 mil hectares de lavouras, metade da área agrícola de Santa Catarina”, estimou Eduardo Nery Fuganti, presidente do grupo, ao AgFeed.

Considerando as cidades em que estão as concessionárias, são três das seis mesorregiões do estado em que o grupo está presente, contemplando o oeste catarinense, a região serrana e o Vale do Itajaí.

A projeção da Agro Divel é atingir um faturamento na casa dos R$ 200 milhões já no próximo ano, considerando as novas lojas e a tão esperada retomada do setor.

Nesse momento, o negócio aguarda etapas formais de conclusão da transferência das cotas sociais, prevista para acontecer ainda em novembro, para que a Agro Divel incorpore a Rodomac em sua estrutura. A operação envolveu a aquisição de todas as ações da Rodomac pela compradora. O valor da transação não foi divulgado.

A operação contou com a gestora JGP Financial Advisory como assessora financeira do Grupo Fuganti. O suporte jurídico ficou a cargo do Cescon Barrieu Advogados e da Advocacia Fuganti. No lado vendedor, a Rodomac teve assessoria financeira da Bateleur e apoio jurídico do Martinelli Advogados.

Segundo Willian May, sócio da gestora, a JGP conheceu o Grupo Fuganti em 2024 por meio da Nippur Finance, um escritório afiliado à XP e parceiro estratégico.

“O Eduardo tinha uma visão clara de consolidar o setor de concessionárias New Holland em Santa Catarina. A partir desse alinhamento, iniciamos em 2025 um mandato de compra, com algumas empresas já mapeadas. A operação que evoluiu mais rapidamente foi com a Rodomac, muito em função da organização da empresa e da presença de um assessor também do lado vendedor”, explicou o sócio da gestora ao AgFeed.

Do lado da Agro Divel, Eduardo Fuganti cita que a compra acompanha uma aposta de longo prazo. “Temos convicção de que o mercado retomará seu crescimento, seja em 2026 ou em 2027, e seguimos firmes em nosso ritmo de investimentos justamente para estarmos à frente da concorrência”, disse.

Segundo ele, a companhia possui um plano estratégico de cinco anos, que envolve além das novas lojas recém-adquiridas, a possibilidade de novas aquisições e a modernização das estruturas atuais.

Ele argumenta que uma estrutura de custos “mais adequada” demanda o crescimento da operação. “A oportunidade de adquirirmos uma empresa rentável como a Rodomac faz muito sentido para a nossa estratégia”, acrescentou.

A história do grupo ajuda a explicar o apetite para o movimento. Com origem no próprio estado catarinense, o conglomerado possui negócios em outros mercados, como transporte rodoviário, comércio de combustíveis, advocacia, imóveis e agropecuária.

Nas concessionárias, já foi representante da Volkswagen, Ford, Fiat, SLC (quando a marca ainda era atrelada à revendas de máquinas) e é parceiro da New Holland desde a chegada da marca ao País, em 1975, numa época que a companhia ainda pertencia à Ford.

Na produção agrícola, a operação é concentrada na empresa Agro Fuganti, que atua com lavoura de grãos, silvicultura e criação de gado em cerca de 40 mil hectares distribuídos entre Santa Catarina e Mato Grosso, com fazendas próprias e arrendadas.

A consolidação das revendas

Nos últimos anos o mercado assiste a uma série de movimentações como essa envolvendo o Grupo Fuganti e a Rodomac. O contexto é o mesmo: um mercado difícil para as vendas de máquinas e a sinalização de junção de forças partindo de todas as grandes indústrias, como John Deere, Case e AGCO, em direção às concessionárias autorizadas.

Na própria New Holland, a região do Matopiba e do Pará assistiu, nos últimos anos, o Grupo Grão de Ouro consolidar a presença da empresa na região, inaugurando unidades e comprando a Reimaq.

Na John Deere, o maior deal dos últimos anos foi a compra da Real Máquinas pelo Grupo Primavera, controlado pelo Grupo RZK, e ampliou seu mercado em Goiás. Em São Paulo, o grupo Tracbel comprou as redes Itaeté Máquinas e Colorado Máquinas e se lançou nesse mercado já com uma rede de 16 lojas.

Somado a isso, outras redes de lojas revendedoras da John Deere e que passam com menos percalços ao mercado difícil, observam oportunidades.

Durante a Tecnoshow 2024, a rede goiana Iguaçu Máquinas sinalizou ao AgFeed que estava pronta para crescer, e que aguardava o sinal da multinacional americana para tal.

Na CNH, a rede Brasif comprou, em 2024, as concessionárias da Máxum de cidades da Bahia e do Piauí.

“A indústria vem incentivando a consolidação de concessionárias buscando formar grupos mais sólidos e preparados para todos os momentos de mercado e faz todo sentido para crescermos com a mesma marca que já atuamos há tantos anos”, disse Eduardo Fuganti.

A JGP, que assessorou a transação, também vê um horizonte de novos movimentos no setor, mesmo diante do constante desafio da taxa de juros e do mercado menos aquecido nas máquinas agrícolas.

“Nosso pipeline está robusto, com transações de M&A e crédito estruturado que devem marcar o início de 2026”, disse Willian May, se referindo às operações no agro como um todo. “Temos duas grandes operações no sell side em fases finais de diligência e negociação contratual”, acrescentou.

Resumo

  • A Agro Divel, braço do Grupo Fuganti, incorpora a Rodomac, dobrando sua presença em Santa Catarina, de três para seis lojas, com previsão de abrir a sétima em 2026
  • Passado o M&A, empresa projeta faturar R$ 200 milhões no próximo ano, atendendo uma área que conta com 800 mil hectares agrícolas em 134 municípios
  • O movimento reflete o avanço da consolidação das concessionárias agrícolas, em linha com aquisições recentes envolvendo John Deere, Case e AGCO

Eduardo Nery Fuganti, diretor da Agro Divel e do Grupo Fuganti