Em setembro passado, durante uma entrevista ao AgFeed, Ignacio Bartolomé, CEO do argentino Grupo Don Mario (GDM), deu a pista sobre os plano da empresa, líder do mercado de sementes de soja, para a cultura de milho no Brasil: “Já estamos com o milho na marca DonMario e estamos pensando em provavelmente lançar uma marca nova só focada no milho na próxima safra”, afirmou.

A concretização desse plano ficou mais próxima a partir de hoje. Em comunicado distribuído na tarde desta segunda-feira, 25 de março, o GDM informou ter adquirido as operações melhoramento e venda de sementes de milho e sorgo da companhia alemã KWS no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

“A combinação do posicionamento em milho da KWS junto ao conhecimento da GDM em genética vegetal, com foco em soja e trigo, cria uma sinergia e fortalezas únicas para nossa posição no mercado e contínuo avanço de nossa companhia”, disse Bartolomé no comunicado.

Os valores envolvidos na transação não foram revelados, assim como a relação dos ativos envolvidos. Devem, no entanto, ser mais do que sificientes para superar a expectativa de Bartolomé, segundo revelado na entrevista de meses atrás.

Ele afirmou que esperava comercializar entre 120 mil e 150 mil sacas de sementes de milho. Em cinco anos, a meta é chegar a 1 milhão, e até 2033, a expectativa é ter pelo menos 10% do mercado brasileiro no segmento.

A operação de milho era o carro chefe dos negócios da KWS no Brasil, onde a empresa faturou R$ 1,5 bilhão na safra 2022/2023.

Os dados da safra seguinte não foram revelados, mas o CEO da KWS no Brasil, Marcelo Salles, admitiu, em entrevista recente ao AgFeed, que a empresa previa uma queda de 5% na receita e na comercialização de sementes das diversas culturas, que ficaria em 1,9 milhão de sacas no ciclo 2023/2024.

Salles falou em uma possível desaceleração dos negócios no Brasil, embora tenha afirmado que a KWS manteria os investimentos no País. Os mais recentes aportes foram feitos justamente no desenvolvimento de novos híbridos para a cultura de milho. A KWS aplicou, por exemplo, US$ 10 milhões em uma estação de pesquisa em Petrolina (PE), que tem foco em buscar o melhor gene de milho para a segunda safra do Brasil.

O próximo passo seria, segundo Salles, um centro na região do Matopiba, ainda sem local definido. Nos campos experimentais, o foco tem sido buscar híbridos cada vez mais resistentes à cigarrinha do milho, praga que tem causado fortes prejuízos aos produtores no Brasil.

Outro investimento que ainda não havia sido iniciado e aguardava uma melhora das condições de mercado para ser efetuado envolvia US$ 20 milhões e teria como objetivo ampliar a unidade de beneficiamento da KWS em Uberlândia (MG), hoje com capacidade para 2,2 milhões de sacas anuais.

Segundo o comunicado, “a GDM dará continuidade e irá potencializar o negócio desenvolvido pela KWS, reconhecidos por suas notáveis características agronômicas”.

Com 168 anos de existência, a KWS é uma das cinco maiores empresas de sementes do mundo. A partir de agora, segundo informou Nicolás Wielandt, membro do Conselho Executivo e responsável pelo negócio de milho na KWS, a empresa fechará o foco em outras áreas.

“Para implementar os objetivos estratégicos do grupo KWS com plena força e enfoque, decidimos que este é o momento adequado, em termos de maturidade empresarial, para encontrar um parceiro que esteja em posição sólida para levar o negócio de milho na América do Sul a um próximo nível”, declarou.

“Com a GDM como nova proprietária, surgirá um player forte que busca crescer ainda mais no mercado sul-americano de soja e milho”, afirmou

A transação está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) no Brasil e da Comissão Nacional de Defesa da Concorrência na Argentina.