A Cargill anunciou nesta quarta-feira, 16 de abril, a conclusão da aquisição da SJC Bioenergia. O negócio havia sido firmado em fevereiro passado, quando a gigante americana surpreendeu o mercado ao exercer seu direito de compra dos 50% que pertenciam a seu antigo sócio na joint-venture do setor sucroenergético.

Com a finalização da aquisição, a companhia ganha também um novo nome e pode vir a absorver novas operações da Cargill na área bioenergética.

Agora batizada de Cargill Bioenergia, a companhia passará a ter controle total de duas usinas, localizadas nas cidades de Quirinópolis e Cachoeira Paulista, em Goiás, onde processa cana-de-açúcar e milho e produz açúcar bruto, etanol hidratado e anidro, óleo de milho e grãos secos de destilaria (DDGs).

Somadas, as duas plantas têm capacidade para processar 9 milhões de toneladas de cana e um adicional de 2 milhões de toneladas equivalentes de milho.

A compra pela multinacional americana simboliza o capítulo final de uma novela que se arrasta há pelo menos uma década, quando a SJC, passou a enfrentar problemas financeiros.

O negócio havia sido fechado no começo de fevereiro. As partes não revelam os números, mas o investimento teria sido de mais de R$ 2,6 bilhões, incluindo dívidas, segundo fontes que acompanharam de perto a negociação disseram ao AgFeed na ocasião.

A Cargill exerceu seu direito de preferência para a compra da participação restante. A operação ainda precisava da aprovação dos órgãos reguladores, que agora deram aval à transação.

“Desde 2011 temos participado como sócios da SJC Bioenergia. Consolidar o controle da companhia é um reconhecimento ao potencial e os resultados alcançados pelo negócio, assim como uma oportunidade de alavancar todo seu potencial, aproveitando sinergias com as operações já existentes no portfólio da Cargill”, afirmou Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil e do Negócio Agrícola na América Latina, em comunicado à imprensa.

A Cargill diz, no mesmo comunicado, que a produção de energia obtida a partir de matérias-primas de baixo carbono “se alinha à estratégia da empresa”.

A operação chama a atenção pelo fato de a multinacional fazer um investimento relevante no negócio de cana, no qual a companhia vinha reduzindo sua participação como trading, e pelo histórico problemático da SJC Bioenergia.

O projeto da família de José Ometto, dona da Usina São João, de Araras, nasceu a partir de 2004, com o objetivo de expandir operações para o Centro-Oeste, e começou a fazer água no fim dos anos 2000, com mudanças no mercado de etanol, fortemente dependente de subsídios do governo.

A Cargill entrou em setembro de 2011 – somente naquele ano, a Usina São João tinha tido um prejuízo líquido de R$ 18,3 milhões (hoje seriam cerca de R$ 41 milhões em valores corrigidos pela inflação).

Investimentos foram feitos após a entrada da companhia americanal, como a conclusão da Usina Rio Dourado, localizada em Cachoeira Dourada, que custou R$ 500 milhões.

Também houve a entrada da SJC na produção de etanol de milho, com a construção de uma unidade de processamento de grãos na Usina São Francisco, em Quirinópolis, que precisou de mais R$ 160 milhões em valores da época.

Mas com a crise nos preços do etanol, a companhia passou a enfrentar problemas financeiros a partir de 2016. Em dificuldades, parte das dívidas da SJC foram convertidas em bonds entregues aos credores.

Há quatro anos, novo capítulo: em 2021, a Usina São João entrou em recuperação judicial e concordou em abrir mão de sua participação na SJC, estimada em R$ 1,5 bilhão na época, aos donos dos bonds.

Mesmo tendo direito de preferência, a Cargill não manifestou interesse no negócio na ocasião. Representados pela firma de investimentos CarVal, dos Estados Unidos, os bondholders passaram, então, a buscar compradores para o negócio, sob intermediação do banco Morgan Stanley.

Mais recentemente, eles teriam recebido uma proposta na faixa de R$ 2,6 bilhões, feita pelo Mubadala Capital, o fundo controlador da Atvos. Foi quando, então, a Cargill resolveu voltar à negociação, utilizando seu direito de preferência.

Por enquanto, final feliz especialmente para os 4,5 mil funcionários da SJC – que finalmente terão perspectiva de futuro após anos de incertezas.