Quando visitava a Agrishow, maior feira de máquinas agrícolas do Brasil, Lucas Capacle não se conformava em ver a tecnologia apresentada por grandes marcas. "Você via que só mudava a cor dos equipamentos. Era cópia fiel um do outro. Eu tinha vontade de empreender em máquinas novas, porém falei: se for para eu fazer isso igual ao que todo mundo faz, para mim não faz sentido."

Foi a partir desse desejo que Capacle criou a U.C.A. Implementos Agrícolas em 2019. A história do empresário no setor de máquinas e equipamentos mecânicos, no entanto, começou bem antes.

o empresário conta que o seu pai abriu uma pequena torneraria em Ribeirão Preto (SP) em 1990. A princípio, o filho não se interessou pela parte mecânica, se dedicando mais à área de automação e eletroeletrônica, com formação no Senai. "Mas ao longo da minha trajetória na indústria, fui tendo uma outra visão sobre a mecânica, acompanhando meu pai e, vendo o sofrimento dele, me despertei a ajudá-lo."

Em 2005, passou a trabalhar com o pai e, três anos depois, em 2008, criou a Capacle Usinagem e Indústria, fazendo produção e manutenção de itens mecânicos utilizados pelas usinas do interior paulista.

Especialista em automação industrial, Capacle passou a dar aulas no Senai e também nas Faculdades COC e começou a ser requisitado pelas usinas de cana. "Vieram as provocações: 'Nós precisamos de uma melhoria no equipamento X, nós precisamos de uma melhoria na colhedora Y. O que você pode trazer de inovação para isso, para aquilo?'", conta Capacle.

Não demoraria muito até que o empresário criasse a U.C.A. – sigla para Unidade Capacle Agrícola. "Eu passei parte da minha trajetória dando soluções para os que são nossos concorrentes hoje. Tem vários equipamentos no mercado em que a gente trouxe alguma solução."

Atualmente, o portfólio da empresa tem nove produtos. Os destaques do catálogo são canterizadores, implementos utilizados para fazer o leito onde será feito o plantio, o quebra-lombo, equipamento voltado ao nivelamento de solo, e o eliminador de soqueiras.

O diferencial da U.C.A. é o fato de que seus produtos são totalmente hidráulicos, o que, segundo Capacle, traz mais produtividade e força. No caso do canterizador, por exemplo, ele diz que o equipamento de sua empresa consegue substituir quatro etapas do preparo do solo – subsolagem, gradagem pesada, intermediária e niveladora – em apenas uma operação.

"Consigo, em uma única operação, reduzir de quatro a cinco etapas no preparo da cana-de-açúcar e, na cultura de melão e melancia, chega a uma média de 12 operações", afirma.

De olho nessa melhoria de produtividade, a Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora de melão e melancia do Brasil, adquiriu recentemente 10 equipamentos da U.C.A. – e já encomendou outros dois.

O interesse da Famosa se explica, pois, segundo Capacle, precisam de um preparo intenso do solo. "Tinha que passar por várias vezes as grades, que chamamos de corte de grade, para que ele conseguisse atingir o nível de preparo que ele necessita"

Além disso, ele conta que o impacto na pegada de carbono foi significativo, uma vez que houve menos revolvimento da terra e menos uso de equipamentos a diesel, combustível fóssil e poluente. Em um talhão de 100 hectares, a Famosa emitia 90,798 mil kg de CO2, de acordo com Capacle. Utilizando os equipamentos d\a U.C.A., a emissão passou a ser de 12,9 mil kg de CO2, 85% menor.

Com menos máquinas em campo, houve também uma economia de consumo de combustível, que passou de R$ 203 mil para R$ 29 mil em 100 hectares, segundo Capacle.

Com isso, Capacle menciona que há a possibilidade de os produtores gerarem CBIOs (Créditos de Descarbonização do Renovabio), a partir da utilização dos implementos no campo, se beneficiando de uma alteração no fim de 2024 na legislação, que agora permite que os produtores de cana também possam participar da comercialização dos crédito, recebendo parcelas de, no mínimo, 60% das receitas oriundas da comercialização dos CBIOs gerados a partir do processamento da cana entregue por eles às usinas.

"Estou reduzindo a passada de equipamentos no solo, reduzo compactação, movimento menos o solo. E quando eu tenho menos trator ligado, obviamente que eu tenho menos diesel sendo lançado na atmosfera", explica Capacle.

A empresa está agora em busca de validar esse impacto ambiental positivo com apoio de instituições como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), com apoio da Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul (Biosul).

Outro destaque do portfólio é o eliminador de soqueiras, um equipamento projetado para retirar as soqueiras da cana-de-açúcar, bases da planta que ficam no solo após a colheita. Com a retirada da soqueira, é feita a renovação dos canaviais e o preparo do solo para um novo ciclo de plantio. Além disso, o eliminador das soqueiras é um importante aliado no controle do bicudo-da-cana-de-açúcar, praga que tem causado sérios prejuízos à cultura e que fica nas soqueiras.

Por ser hidráulico, o implemento da U.C.A. traz a vantagem de que há a necessidade de menos equipamentos em campo. "O equipamento mecânico quebra tanto que é necessário o produtor, o usineiro, ter equipamentos de reservas durante a operação. Para fazer a mesma coisa que o nosso faz sendo hidráulico, você precisaria de dois a três equipamentos mecânicos", afirma.

Hoje, a maior parte dos clientes da U.C.A. são grandes usinas do setor sucroalcooleiro do estado de São Paulo. A empresa tem ainda clientes nos estados de Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Amazonas.

A U.C.A. também está exportando equipamentos para produtores de cana da Guatemala e, no passado, vendeu para clientes do Paraguai. "Estamos negociando também com Bolívia, Colômbia, Peru", afirma.

Mais recentemente, a emoresa passou a atender também produtores de cana, em busca de expandir sua carteira de clientes. “Na Agrishow deste ano, a gente acabou lançando alguns equipamentos mais triviais, que já existiam no mercado, porém com algum diferencial, caso de um cobridor de cana e de um sulcador. Hoje um pequeno produtor não vai comprar uma plantadora de cana que custa R$ 900 mil, mas vai comprar um sucador que custa R$ 45 mil, por exemplo.”

Outro foco da empresa é a silvicultura. Capacle diz que executivos da Eldorado Brasil Celulose, uma das maiores produtoras de celulose do Brasil, procuraram a U.C.A. com o objetivo de propor o desenvolvimento de uma plantadeira de mudas. Ele também teria recebido o contato de outras grandes empresas do setor florestal como Suzano e Bracell. "Hoje o plantio é feito com uma matraca, uma plantadora manual. Até já existe alguma coisa semi-automatizada, mas a maior parte das áreas não permite", afirma.

Capacle planeja uma plantadora de mudas automatizadas, capaz de fazer o plantio de 1,2 mil a 1,5 mil mudas por hora. A empresa agora vai desenvolver o projeto a partir do segundo semestre, com a contratação de um engenheiro dedicado especificamente a esse projeto. "Vamos desenvolver o projeto e vamos apresentar para o mercado, desenvolver e mostrar para as companhias.”

Resumo

  • Criada em 2019, a U.C.A. Implementos Agrícolas oferece equipamentos hidráulicos que reduzem etapas no preparo do solo para o plantio da cana-de-açúcar
  • Empresa busca certificação para geração de CBIOs, com justificativa de que seus equipamentos ajudam a reduzir o consumo de diesel e as emissões de CO₂ no campo
  • A companhia atende grandes usinas no Brasil e, além do setor sucroenergético, mira a silvicultura, desenvolvendo uma plantadora automatizada de mudas para atender gigantes como Eldorado, Suzano e Bracell.