Se o mercado é desafiador para todos e nem o próspero segmento de biológicos fica imune, é hora de simplificar a operação para voltar a crescer.

Este deve ser, a partir de agora, o lema da Solubio, fabricante de biológicos que tem como principal acionista o fundo de private equity Aqua Capital - que também é o controlador do AgroGalaxy, em recuperação judicial.

Segundo apurou o AgFeed em conversas com executivos próximos à empresa e ao segmento, nesta sexta-feira, 20 de dezembro, os colaboradores da Solubio estão sendo comunicados de que a companhia inicia, agora, uma nova fase, depois de atravessar o ano mais turbulento de sua história.

As mudanças começam na cadeira de CEO. O engenheiro Ernesto Cavasin, que está há 3 anos na Solubio como CFO, assume o comando da empresa a partir de 1º de janeiro. Até 31 de dezembro a atual CEO, Sheilla Albuquerque, que há quase 4 anos é executiva de empresas controladas pelo Aqua, fará o processo de transição.

A mudança foi provocada pelo desejo de Sheilla de deixar a companhia para dedicar-se a novos objetivos profissionais.

Cavasin tem a missão de liderar a retomada da Solubio. Até 2022, a empresa, que tem sede em Jataí (GO) e apenas 8 anos de vida, vinha dobrando a receita ano a ano, acompanhando o crescimento de diversas empresas que apostaram no mercado de insumos biológicos.

Mas o quadro mudou e a companhia, assim como todo o setor, passou a enfrentar desafios a partir de 2023.

No primeiro semestre deste ano havia sinais de melhora, mas a queda no preço das principais commodities e as margens apertadas de produtores rurais acabaram mais uma vez impactando os resultados.

Recentemente, com uma maior restrição de crédito no mercado e a desaceleração das vendas de insumos, a companhia iniciou um processo de renegociação das condições desses títulos, que vinha ocorrendo desde o mês de maio.

A Solubio também foi impactada pelo “efeito AgroGalaxy”. Com o pedido de recuperação judicial da rede de distribuição de insumos, com quem compartilha o controlador e alguns credores e investidores em duas emissões de CRAs feitas há dois anos, a empresa passou a ser mais pressionada.

No final de setembro, uma semana depois de o AgroGalaxy recorrer à Justiça, a Solubio chegou a emitir uma nota em que informava ao mercado que havia suspendido temporariamente as negociações com credores.

Até aquele momento, segundo o comunicado, já havia conseguido “alongar o prazo de pagamento de R$ 111 milhões da atual posição de CRAs, representando aproxidamente 70% do montante em balanço”.

Nas renegociações concluídas a empresa obteve uma extensão de até cinco anos no prazo de pagamento dos CRAS, cujo vencimento era, em média, de 3,5 anos, além de 18 meses de carência.

Segundo fontes próximas a empresa, a receita da Solubio esse ano deve fechar em R$ 160 milhões, o que representa uma queda de 10% em relação a 2023. A margem, contudo, deve permanecer em linha com o ano anterior.

Como medida emergencial, a Solubio está recebendo aportes do principal acionista, o Aqua. São ao todo R$ 110 milhões, sendo R$ 40 milhões aprovados somente neste mês de dezembro.

O objetivo é equilibrar o caixa, que vinha apertado, e avançar nas conversas frequentes que vêm sendo realizadas com os principais credores.

O AgFeed apurou que, embora a alavancagem da Solubio permaneça alta, os covenants deste ano não exigem um patamar inatingível. Para 2025, a relação dívida/ebitda precisa ser de 3,5 vezes.

Cerca de 25% das dívidas são de curto prazo. Segundo fontes de mercado, os principais credores já assinaram o waiver para o nível atual, que está maior que isso.

O mercado também especula um eventual interesse do fundador da Solubio, Alber Guedes, que ainda é sócio minoritário, de retomar o controle da companhia. O movimento teria sido incentivado por credores importantes.

Ao AgFeed, fontes garantiram que as partes “caminham para um acordo pacificado” e que “de forma alguma” o Aqua deve permitir esse retorno.

O aporte feito agora em dezembro seria a prova disso, com foco em dar suporte ao crescimento da Solubio em 2025, melhorando a estrutura de capital da companhia.

A visão dos controladores é a de que o modelo de negócios, baseado em contratos de longo prazo para a instalação de biofábricas dentro das propriedades rurais dos clientes, traz muita resiliência para a companhia atravessar esses momentos de dificuldade.

Internamente, Cavasin deve reforçar o trabalho de redução das estruturas, reduzindo o número de camadas de gestão entre o C-level e as operações fabril, logística e de campo e permitindo decisões mais rápidas e diretas.

O objetivo seria, segundo as fontes ouvidas pelo AgFeed, reduzir entre 30% e 35% as despesas em 2025, tendo como base os números de 2024.