Um dos maiores fundos de pensão do Canadá, com 299,7 bilhões dólares canadenses (o equivalente a US$ 212 bilhões no câmbio de hoje) em ativos líquidos sob gestão, vai viabilizar um dos mais ambiciosos projetos agrícolas a serem realizados no Brasil nos próximos anos.

Segundo apurou o AgFeed, uma subsidiária integral do PSP Investments é o investidor por trás dos fundos de investimentos de participação (FIPs) que, segundo fato relevante anunciado nesta quinta-feira, 6 de novembro, vão adquirir e posteriormente arrendar novamente à SLC Agrícola, maior operadora agrícola do País, uma área total de 21.471 hectares hoje pertencentes e cultivadas pela companhia brasileira.

Fundado em 1999, o PSP Investments administra um portfólio que inclui investimentos em mercados de capitais, private equity, real estate, infraestrutura, recursos naturais e crédito em vários países do mundo.

Tem sede em Ottawa, capital administrativa do Canadá, e investe os recursos transferidos pelo governo do país para os planos de previdência do serviço público, das forças armadas, da Polícia Montada Real e da Reserva das Forças Armadas. O PSP Investments mantém seu principal escritório em Montreal e possui filiais em Nova York, Londres e Hong Kong.

O investimento será feito através da criação de sociedades de propósito específico (SPEs). Segundo o comunicado, a SLC Agrícola subscreverá capital por meio da contribuição de ativos, incluindo a Fazenda Piratini, localizada em Jaborandi, no Oeste da Bahia, incluindo sua infraestrutura e equipamentos de irrigação.

O fundo canadense vai deter, através dos FIPs, 49,99% das SPEs, com a SLC Agrícola mantendo os demais 50,01%. O BTG Pactual ficará responsável pela gestão dos fundos.

Cada uma das SPEs será estruturada a partir das especificidades e as operações previstas nas diferentes fazendas.

O PSP aportará, através dos FIPs, capital em dinheiro, proporcional às respectivas participações, totalizando aproximadamente R$ 1,03 bilhão (R$914 milhões à vista e R$119 milhões no segundo semestre de 2026).

É com esses recursos, de acordo com o documento, que as SPEs pagarão a aquisição de 21.471 hectares agricultáveis da Fazenda Paladino, em São Desidério, também no oeste baiano, e executarão projetos de irrigação nos próximos anos.

A transação em torno da fazenda foi avaliada em R$ 723 milhões, a serem quitados em duas parcelas, sendo R$ 361,5 milhões no fechamento do negócio e o, de R$361,5 milhões, em março de 2026.

O negócio envolve também a aquisição da infraestrutura existente das duas fazendas, Piratini e Paladino (incluindo irrigação já instalada), pelos valores de R$ 86 milhões e R$ 26 milhões, respectivamente. Segundo a SLC, “todas as aquisições serão concluídas em condições de mercado, com base em avaliações econômicas já elaboradas por terceiros independentes, em consonância com as melhores práticas de governança corporativa”.

O foco do investimento é implantar nessas fazendas, nos próximos anos, projetos de irrigação em larga escala, com o objetivo de aumentar a produtividade e reduzir o impacto ambiental.

Com o desenvolvimento da infraestrutura de irrigação, o objetivo é mitigar os riscos climáticos e diversificar receitas nas propriedades, viabilizando o cultivo de duas safras por ano, de soja e de algodão.

A SLC prevê cultivar 836 mil hectares na safra 2025/2026 em suas 26 propriedades e estima atingir a marca de 19,3 mil deles cobertos por pivôs de irrigação. Isso configura uma ampliação de 21% em relação à área irrigada na safra anterior.

O planejamento da companhia brasileira é atingir, nos próximos cinco anos, mais de 53 mil hectares irrigados, segundo dados revelados em uma apresentação protocolada na CVM em 15 de outubro passado. Assim, o passo dado agora deve responder por uma boa parte dessa meta.

O retorno desses investimentos também têm sido destacados com frequência pela empresa. Um texto publicado no site da companhia diz, por exemplo, que “a irrigação potencializa a produção e a produtividade, reduz os riscos climáticos — especialmente no cultivo de algodão — e valoriza a terra, com retorno superior ao investimento”.

E cita o caso do cultivo de algodão na Fazenda Paysandu (BA), onde “áreas de algodão irrigado alcançaram 360 arrobas por hectare — três vezes mais que as áreas de sequeiro, que renderam 120 arrobas. A soja também apresentou ganhos: 73,69 sacas por hectare nas áreas irrigadas, contra 35,2 sacas no sequeiro”.

Outro ponto destacado – e importante em negociações com investidores como o PSP – e a redução do impacto ambiental da agricultura com o uso da irrigação. Isso porque, com eficiência superior a 90%, os sistemas automatizados de pivô central se adaptam às necessidades do solo e da cultura, promovendo uso sustentável da terra e valorização agronômica e ambiental dos investimentos.

Cronograma do projeto

O anúncio da operação com os FIPs já encontra pelo menos um dos projetos em andamento, o da Fazenda Piratini. A previsão é de que ele seja concluído em 2026, adicionando 6,3 mil hectares irrigados.

Já na Paladino, a implantação de toda a estrutura – que envolve, além dos pivôs, a infraestrutura elétrica necessária e os processos de licenciamento ambiental – deve ocorrer em até cinco anos. A área irrigada, nesse caso, será de 14,73 mil hectares.

O acordo de parceria rural entre SLC e PSP tem prazo previsto de 18 anos. A longa duração revela como o negócio se encaixou perfeitamente nas estratégias dos dois sócios.

O grupo de Recursos Naturais do PSP, que está à frente da iniciativa pelo lado canadense, costuma investir em ativos reais dos setores agrícola e florestal, em parceria com operadores locais de excelência, que compartilham sua visão de comprometimento com a agricultura sustentável.

Investidor institucional de longo prazo, sua política é a de fazer aportes em ativos essenciais, promovendo segurança alimentar, resiliência climática e geração de valor sustentável no longo prazo.

A SLC Agrícola se adequou ao perfil buscado pela gestora e é vista comouma empresa com forte histórico de governança, inovação e performance operacional.

Já para a companhia brasileira, o modelo de sale & lease back – com a venda e posterior arrendamento das áreas – também se encaixa à estratégia de crescimento que vem sendo executada nos últimos anos.

A política de expansão adotada pela empresa da família Logemann é asset light, reduzindo investimentos em terras e ampliando as áreas agrícolas através de arrendamentos ou joint ventures.

Na atual safra, por exemplo, as áreas arrendadas somam 446 mi hectares, 98 mil a mais que no ciclo passado, o que representa quase a totalidade da ampliação dos cultivos da SLC.