Nos últimos dias, executivos de alguns dos principais bancos brasileiros com operações no agronegócio começaram a ser procurados por representantes do Grupo Safras, de Sorriso (MT).

O objetivo é encaminhar a reestruturação das dívidas com essas instituições, que representam hoje a maior fatia do passivo da empresa e, assim, adequar o fluxo de pagamento à geração de caixa da companha, evitando o eventual recurso de uma recuperação judicial (RJ).

Segundo apurou o AgFeed junto a fontes ligadas a credores, as negociações, pelo lado da companhia, estão a cargo da Makalu Partners, empresa especializada nesse tipo de operação.

No agro, a Makalu já atuou em casos notórios pelo tamanho e complexidade, como os das reestruturações financeiras do Grupo Carlos Lyra, cujas dívidas somavam perto de R$ 1 bilhão, e da UISA (antiga Usina Itamaraty), evitando a necessidade que elas buscassem proteção na Justiça.

Mais recentemente, estruturou a operação que permitiu ao grupo Usinas Carolo, do interior de São Paulo, sair da RJ e partir para um processo de venda de ativos.

Fundado em 2010 pelo ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, e por Pedro Moraes Filho, CEO da empresa e também integrante de uma família de pioneiros na região, o Grupo Safras tem enfrentado dificuldades financeiras, que o tornaram alvo de rumores sobre a efetivação de um pedido de RJ.

Na última sexta-feira, a volta da onda de boatos em torno dessa hipótese fez com que a direção do grupo decidisse vir a público através de uma nota, obtida pelo AgFeed, em que descartava a intenção de buscar proteção na justiça e afirmava que concentraria seus esforços na reorganização financeira e operacional, de forma a preservar seus ativos e honrar os pagamentos.

“Infelizmente, circulam rumores infundados de que nossa empresa teria ingressado com pedido de recuperação judicial ou que estaria em vias de assim proceder. Deixamos claro que isso não é verdade. Não temos qualquer intenção ou interesse o mais remoto que seja, de solicitar recuperação judicial”, dizia a nota.

A prioridade da renegociação das dívidas se dá junto aos credores financeiros. O AgFeed apurou que os débitos do Grupo Safras junto a bancos são estimados em algo próximo dos R$ 700 milhões. Banco do Brasil, Santander, Sicoob, Itaú BBA, Caixa e Bradesco estão entre principais detentores de créditos junto à empresa.

Já entre os chamados credores operacionais o levantamento do passivo é mais complexo. Muitos produtores rurais que têm créditos a receber pela entrega de sua produção ao Safras são também devedores da empresa, de quem adquiriram insumos em operações de barter.

Do total das dívidas, 80% a 90% têm vencimento entre dois e três anos, o que tem gerado grande pressão sobre o caixa da empresa, sobretudo em um momento de contração do mercado.

O endividamento é resultado de uma forte política de expansão dos negócios do grupo nos últimos anos. Rossato e Moraes iniciaram o Safras oferecendo serviços de armazenagem para produtores e de originação de grãos para tradings que não tinham estrutura na região de Sorriso.

“No tempo de crédito barato, eles saíram de um armazém para 16, apenas no negócio de armazenagem”, conta um empresário que costumava fazer negócios com o grupo.

“E aí passaram a fazer investimentos ao longo da cadeia, como esmagamento de soja e etanol de milho. O problema é que cometeram o erro clássico de se financiar com crédito de curto prazo. Quando é para você fazer um investimento de aquisição de uma companhia ou de investimento numa planta, não tem nada que dá pay back em dois, três anos. Você tem que estar ajustado para cinco a oito anos. E não foi o que eles fizeram”.

O Grupo Safras hoje é uma potência com receitas na casa dos R$ 7 bilhões e atuação em diversas áreas.

Seus negócios foram aglutinados recentemente em três empresas: a Safras Armazéns Gerais, a Safras Bioenergia e a Safras Agroindustrial, que incorporou as operações adquiridas da companhia paranaense Copagri, no ano passado.

Segundo dados do próprio site do grupo, são mais de 3 milhões de toneladas de grãos armazenados, 43 mil metros cúbicos de etanol de milho e 720 mil toneladas de óleo e farelo de soja produzidos anualmente. As operações se espalham pelos estados de Santa Catarina, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, além de Mato Grosso.

O foco inicial da reestruturação, como é praxe em processos como esse, é buscar acordos com os bancos, obtendo descontos nos valores a serem pagos e alongamento de prazos.

Com os credores operacionais, o grupo deve propor parte do pagamento em barter, já que ainda possui produtos químicos em estoque. Há uma preocupação especial em atender aos produtores parceiros, que depositam seus grãos nos armazéns da empresa ou fornecem para processamento nas indústrias do grupo, já que o fluxo desse fornecimento é fundamental para manter a operação.

Também está no radar dos sócios do Grupo Safra a venda de ativos e até da companhia como um todo. Uma fonte próxima de Rossato e Moraes afirmou ao AgFeed que eles já receberam interessados nas duas frentes, mas as conversas não avançaram.

Segundo essa fonte, uma trading ligada a um banco avaliou adquirir a área de armazenagem do grupo e um grande grupo sucroenergético de São Paulo chegou a prospectar a aquisição da planta de etanol de milho.

“Os sócios realmente são muito sérios em querer resolver isso gerando o menor prejuízo para todos”, afirmou. “Eles têm patrimônio também em outras atividades e querem manter a reputação”.

Nos últimos dias, a reportagem do AgFeed procurou o Grupo Safras e a Makalu Partners para confirmar as informações, mas não teve retorno. Quando as empresas se manifestarem, seus posicionamentos serão incluídos nesta matéria.