NOOA significa Noé em finlandês. O nome da empresa mineira, fundada há seis anos pelo empreendedor Cláudio Nasser, explica um pouco do propósito e atividade que desenvolve no segmento de fertilizantes e defensivos biológicos,
Nasser está longe de ser um empresário convencional. Na semana passada, em conversa com o AgFeed, tratou do negócio com um olhar mais filosófico do que gerencial.
O empresário, literalmente, vê o mundo sob uma ótica bem particular. Ele conta que nasceu “cego”, pois com 16 graus de miopia nos olhos, até os sete anos a deficiência visual lhe dava pouca percepção visual do mundo à sua volta.
“Tive que aprender a viver com os outros sentidos, e tinha a impressão que o mundo era daquele jeito”.
Só mais tarde, já adaptado aos óculos, passou a enxergar com mais nitidez. Nasser pôde, então, acompanhar de perto o crescimento do agro brasileiro nos anos 1960, 1970 e 1980, décadas em que seu pai fez parte do quadro de lideranças da Sementes Agroceres.
No Cerrado, “vivia em cima de tratores” e conviveu, enquanto jovem, com alguns nomes históricos do agronegócio brasileiro, como Antônio Secundino, um dos fundadores da Agroceres, Alysson Paolinelli, criador da Embrapa e ex-ministro da Agricultura, e Roberto Rodrigues, que também já comandou a pasta no passado.
“Convivi com o Secundino em suas andanças no Cerrado. Ele dizia, já nos anos 1960, que o Mato Grosso iria virar o maior produtor de grãos do Brasil. Era tido como doido na época”, diz.
Na Agroceres, Secundino e o pai de Cláudio Nasser desenvolveram as primeiras unidades de produção de sementes, além de ajudar no desenvolvimento da suinocultura na década de 1970.
“Vivi com essas tecnologias voltadas ao agro desde cedo. Com 15 anos vivia nas fazendas e entendia como as coisas funcionavam, numa época em que a soja ainda era colhida a mão”, comentou.
Essa expertise, que Nasser conta com orgulho, é a aposta do CEO da NOOA para trazer soluções novas para o mercado.
Ele diz que decidiu juntar em sua arca empresarial o que há de melhor em pesquisa e desenvolvimento no agro para reequilibrar a estrutura produtiva, que considera primordial para um aumento na produtividade. Na Bíblia, Noé reuniu todas as espécies de animais em uma arca, para salvá-los de um dilúvio.
Nasser conta que a NOOA nasceu de uma “inspiração”. Segundo ele, a ideia era “entender de olhar o setor agrícola com mais longevidade”. De sua vivência veio a crença de que o uso de biológicos pode reequilibrar o solo brasileiro
O portfólio da empresa já conta com soluções para estresse hídrico, controle de pragas e doenças. Ao AgFeed, o empreendedor revelou, em primeira mão, que nos próximos meses será inaugurada uma empresa “colada à NOOA”, com foco único e exclusivo em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Ele não citou números, mas disse que o negócio contará com uma equipe de pesquisadores “apaixonados pelo agro”, para pensar em inovações dentro do segmento.
“Não queremos transformar isso numa sensação de concorrência com outras empresas, queremos uma sensação de parceria”, diz. “Não enxergo a concorrência de forma que todo mundo enxerga. Quero multiplicar as possibilidades ao agricultor. Se eu caminhar sozinho, vou pro buraco”.
O discurso filosófico, de vez em quando, cede espaço para os negócios. “As empresas enxergam um mercado possível de R$ 14 bilhões em faturamento nos próximos anos” afirma. “Digo que eles estão errados. Esse número e a substituição [de químicos para biológicos] vai ser muito mais forte”, comenta Cláudio Nasser.
Além da criação da empresa focada em pesquisa e desenvolvimento, a companhia anunciou no ano passado um investimento de R$ 40 milhões para ampliar a capacidade de sua fábrica de bioinsumos em Patos de Minas (MG).
De lá pra cá, no entanto, o investimento já bateu os R$ 70 milhões, e segundo Nasser, ainda deve vir mais dinheiro pela frente.
Atualmente, a NOOA possui uma capacidade de produzir cerca de 200 toneladas de fertilizantes semi sólidos e 150 mil litros de líquidos por mês. Na estrutura de líquidos, o CEO explicou que a construção foi feita de forma modular, o que deixa mais fácil a ampliação, caso haja demanda.
Sob o guarda-chuva de Nasser, da NOOA e de sua família, outras iniciativas empresariais voltadas ao agro também florescem.
Dentre as iniciativas e projetos está uma tecnologia de energia renovável feita a partir de dejetos de animais, que segundo o executivo, está indo para o mercado.
“Também estamos trazendo pesquisas para um melhoramento genético no milho e, para a safrinha dessa temporada, já estamos trazendo os primeiros híbridos tolerantes a cigarrinha e que dão para a planta um ciclo de 42 dias”, disse o CEO.
Na semana passada, a empresa ainda recebeu o registro do seu primeiro nematicida. Segundo Nasser, esse produto já conta com cinco anos em pesquisas e pode trazer uma produção de 12 sacas de hectare a mais com a utilização.
Além disso, a empresa está produzindo, em parceria com a Embrapa, um projeto com abelhas para a polinização em áreas de café. A parceria com a estatal não é nova. O produto carro-chefe da NOOA, o Auras, foi desenvolvido em conjunto.
Esse inoculante usa a bactéria Bacillus aryabhattai e ajuda o milho a sobreviver a períodos de 15 a 30 dias de calor intenso e sem chuvas, os chamados veranicos.
A solução não resolve a estiagem prolongada, mas ajuda a impedir perdas de produtividade.
A Embrapa isolou a bactéria com pesquisas com cactos do agreste brasileiro. Na prática, esse microrganismo ajuda as plantas a aprofundarem a raiz em até 2,5 metros no solo. O comum é uma profundidade de 35 centímetros.