Foi em uma conversa entre três amigos, na Holanda, há 31 anos, que nasceu a Teak Resources Co. (TRC). A companhia é a maior produtora mundial de teca, madeira cultivada e muito utilizada para a produção de móveis, embarcações e objeto de desejo de clientes em países asiáticos.

A história da TRC passa pela captação de pouco mais de 2 milhões de euros com milhares de investidores, a entrada de grandes fundos de investimento, até um faturamento de US$ 150 milhões por ano e a conquista de 13% do mercado global da madeira.

Passa também pelo projeto de expansão da TRC e a criação de duas novas empresas-satélite: uma para o consórcio entre pecuária e floresta, a BoiTeca, e outra para o cultivo e exportação de gergelim, Sesame Brasil (Sebra).

Um dos três amigos da conversa em Amsterdã, em 1994, era o engenheiro agrônomo e florestal basileiro Sylvio Coutinho, membro de uma família dedicada a fazendas e a uma serraria no Paraná.

A Eco-92, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas realizada no Rio de Janeiro, ainda era pauta fresca nas discussões e dos projetos do trio.

“Até que um dos amigos falou: ‘vamos plantar teca’. Eu até tinha experiência com madeira na fazenda do avô, mas nunca tinha ouvido falar dessa”, afirma Coutinho, em entrevista ao AgFeed.

À época, os aparelhos de telefonia móvel e a internet eram tão raros quanto uma árvore de teca, originária no Sudeste Asiático, plantada no Brasil. Feito o boca a boca, em um hotel local, a rodada de captação dos recursos holandeses de longo prazo e custo baixo para a abertura da empresa contou com os esforços do trio e o suporte de uma secretária para receber as propostas.

E aí veio uma surpresa: na operação, cotas fracionadas de participação foram vendidas e o grupo arregimentou nada menos que 16 mil investidores. Coutinho voltou ao Brasil e formalizou o início da companhia com a compra de um propriedade em Mato Grosso, onde iniciou o plantio da teca.

Os clientes asiáticos logo apareceram, a companhia foi a quarta do país a receber a certificação FSC (Forest Stewardship Council) e o negócio cresceu. Em uma segunda etapa, com o suporte de fundos de investimento, a área dobrou para 40 mil hectares, com a produção em áreas no entorno de Redenção (PA).

Claro que nem tudo foi fácil. Primeiro, as sementes trazidas para o plantio inicial tiveram de ser substituídas por mudas clonadas e mais produtivas a partir das melhores plantas. “Genética é um ponto muito importante, porque, no começo, só tínhamos uma semente, que era fraca”, diz Coutinho.

O manejo incluiu ainda mudanças no espaçamento, o que reduziu de 1,6 mil plantas por hectares nos primeiros cultivos para 600 plantas por hectare agora.

Como uma árvore de teca só está pronta para o corte entre 20 e 25 anos, o retorno financeiro para os investidores também foi de longo prazo, com entre 5 mil e 6 mil hectares já cortados.

Quase tudo que se colhe vai para exportação por uma trading em Cingapura para grandes clientes na Índia, China, Vietnã e Indonésia, entre outros países.

Ao longo dos anos, a complexa operação do negócio começou a migrar para outras regiões e culturas. Em Pernambuco, especialmente nas áreas de cana-de-açúcar, o projeto é de consórcio entre teca e pecuária. Para isso, nasceu a BoiTeca.

De acordo com Coutinho, apesar de 400 hectares da árvore já terem sido plantados com recursos próprios, o projeto prevê um crescimento por meio de parceria com pecuaristas.

Na Zona da Mata Nordestina, onde estão sendo feitos os primeiros cultivos, o clima e o solo são favoráveis e o custo de frete para a exportação da madeira é menor que nas áreas de Mato Grosso e Pará.

“O cultivo da teca não concorre com a pastagem e ainda o sombreamento favorece a engorda dos animais”, explica.

Área de integração de pecuária com cultivo de teca

Da madeira ao grão

A estrutura de exportação e o acesso ao mercado asiático da TRC foram fundamentais para o cultivo em larga escala de mais uma planta exótica no Brasil. Com o gergelim, nasceu, em Canarana (MT), a Sebra Agrícola.

O modelo também é de parceria. A companhia atua no sistema de barter e fica responsável pelas sementes, o melhoramento genético e pela compra da produção, beneficiamento e exportação.

O produtor fica com o plantio e a colheita. A oleaginosa é mais rústica e tolerante às estiagens e ao solo mais fraco que o milho. Por isso, o cultivo é recomendado para a safra de inverno, logo após a colheita da soja.

Em seis anos, são 60 mil hectares cultivados com gergelim em Mato Grosso, com 25 mil toneladas produzidas e exportadas. “Já temos toda a estrutura de exportação e não vendemos nem um grão aqui”, afirmou Coutinho.

A Sebra Agrícola está agora expandindo as operações para Rondonópolis (MT) e, por produzir gergelim sem herbicidas, consegue acessar o mercado oriental, que paga mais. O próximo passo é o mercado chinês, aberto recentemente ao Brasil.

Eletroherbicida

“Outro negócio que investimos e também que vale a pena falar é a Zasso”.

Coutinho faz questão de citar outra companhia que a família investe, essa última ainda mais transnacional e pitoresca.

Com sede na Suíça, fábricas na Alemanha e em Indaiatuba (SP), a Zasso é especializada em produzir equipamentos de capina elétrica, ou seja, para o controle de ervas daninhas com choques nas plantas em substituição aos herbicidas.

Os equipamentos são utilizados no campo e também nas cidades, onde o uso de defensivos químicos é proibido e a capina é feita na enxada. Só no Brasil, 120 capinadores elétricos são alugados para empreiteiras que atuam na limpeza urbana.

A empresa, que nasceu familiar, atraiu grandes companhias. Stihl e CNH entraram na sociedade com participações minoritárias.

Aos 73 anos, com quatro companhias no currículo, o empresário não consegue responder como negócios tão específicos cresceram e prosperaram.

“São coisas que caem no colo da gente e nem sabemos como”, finalizou.