O mercado global de sementes de gergelim pode valer US$ 7,67 bilhões em 2024. Essa é a estimativa da consultoria Mordor Intelligence. A empresa especializada em inteligência de mercado projeta ainda que, em 2029, esse valor chegue a US$ 8,72 bilhões, o que confirmaria a taxa de crescimento anual composto (CAGR) de 2,60% nesse período.

Boa parte dessa perspectiva vem pela demanda do grão como fonte antioxidante para formulações farmacêuticas e como opção de alimento funcional.

No Brasil, o gergelim vem sendo impulsionado, além das oportunidades de mercado, pelas vantagens agronômicas. Trata-se de uma planta rústica, bastante resistente a fatores climáticos como as altas temperaturas e de fácil manejo.

Tem entrado bem como opção de segunda safra, sobretudo na janela de plantio do milho. Não por acaso, a maior parte do cultivo está em Mato Grosso. E tem crescido no Pará e em Tocantins.

Na safra 2023/2024, a área plantada com gergelim em Mato Grosso passou de 382,1 mil hectares, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse número representa aumento de 102,7% sobre espaço cultivado no estado no período anterior, quando a semente ocupou 188,5 mil hectares. Os municípios de Canarana e Água Boa são os destaques no plantio da cultura.

Em relação ao cenário nacional, a Conab estima que a área plantada com gergelim na safra 2024/2025 será igual a da temporada passada, com 659,9 mil hectares. Mas indica redução de 6,8% em produtividade, passando de 547 para 510 quilos por hectare. Seguindo a lógica desse levantamento, a produção cairá de 361,3 mil toneladas para 336,4 mil toneladas, redução de 6,9%.

Os números da Conab podem, no entanto, ser atualizados. “É bem cedo para grandes conclusões desse primeiro resultado, certamente vão atualizá-lo durante o decorrer da safra”, afirma o especialista em grãos da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar Castro. “A calibragem das áreas, por exemplo, tem muito a ver com as definições do milho safrinha.”

Castro explica, inclusive, que o gergelim entrou muito onde não houve boa rentabilidade para o milho safrinha. O especialista destaca, também, haver espaço para crescimento de área, superando a estimativa da Conab. “Já há até indústria oferecendo preços menores, acreditando em uma oferta maior do grão”, disse.

Diante desse cenário, Castro faz um alerta para que os produtores tomem cuidado, pois o setor ainda conta com poucos players, “uns dez, aproximadamente”. Como a liquidez é menor, é importante que o produtor não entre no mercado sem um contrato. “É preciso tomar cuidado com a empolgação, não apostar na cultura por causa apenas do oba-oba”, orientou o especialista.

A empolgação a que se refere Castro pode vir de informações como a margem alcançada em algumas regiões, com retorno de R$ 2 mil/hectare, considerando a produtividade média em 550 quilos/hectare. Levando-se em conta que alguns agricultores consiguem quase o dobro disso, chegando a 1.000 quilos/hectare, cresce ainda mais a relevância de uma cuidadosa análise para ingressar no setor.

De qualquer forma, o potencial do Brasil para o segmento do gergelim é enorme, inclusive grande demais frente ao mercado que o país acessa atualmente. Na opinião de Castro, é necessário abrir mais frentes na comercialização mundial do grão para abraçar a capacidade produtiva dos brasileiros.

Atualmente, Índia e Vietnã são dois grandes destinos do gergelim nacional e esse mapa ficaria muito mais atrativo com a entrada da China.

“Os chineses são responsáveis por 83% de todo o crescimento mundial do mercado de gergelim”, disse Castro. “Ainda não estamos liberados para negociar com eles, mas a situação pode mudar.”

Já existe a negociação de um acordo fitossanitário para que a China importe o gergelim do Brasil, mas a situação ainda não está definida. Há uma grande expectativa de que o assunto seja resolvido neste mês, com a vinda do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil.

“Há uma lista grande de produtos que estão sendo negociados, e é possível que o gergelim esteja entre os primeiros da lista”, acrescentou o especialista.

Segundo Casto, a abertura do mercado chinês para o gergelim brasileiro seria o impulso que o segmento necessita para seguir em expansão. “O Brasil certamente vai responder muito bem e tem tudo para se tornar dominante. Ainda há pouca gente no mercado e falta conversas mais estruturais com o mercado”, afirmou.

Há também outros desafios a serem superados internamente para melhor aproveitar as oportunidades – as atuais e as que estão por vir. E boa parte deles está relacionada a questões agronômicas.

Embora seja um dos poucos países que desenvolvem um sistema de produção de gergelim mecanizado e em larga escala, o Brasil carece de mais pesquisas sobre o cultivo do grão.

Até pela diversidade de características edafoclimáticas encontradas nas diferentes regiões do País, não há fórmula única para todo o processo de plantio, cultivo e colheita, do manejo das plantas em todo o ciclo produtivo. Por mais que a planta tenha chegado ao Brasil no século XVI, a exploração comercial como se vê agora ainda é recente.

É preciso que se conheça melhor as condições ideais de adubação, os métodos de controle de pragas e doenças, os procedimentos para evitar perdas na colheita. Enfim, a evolução da cultura demanda um pacote tecnológico específico que beneficie os produtores e garanta maior produtividade e melhor rentabilidade. O apoio ao setor de pesquisas, sobretudo em melhoramento genético, é crucial para promover a competitividade da cultura.