No início dos anos 2000, o nome do empresário Jonas Barcellos era sinônimo de genética milionária em leilões da pecuária. E também da marca Brasif, que, na época, dominava o segmento de free shops nos aeroportos brasileiros.

Hoje a situação é diferente, mas, do ponto de vista econômico, parece tão ou mais promissora. As lojas Duty Free foram vendidas em 2010 para o grupo suíço Dufry e hoje a maior parte do faturamento de R$ 4 bilhões vem da Brasif Máquinas, que até o ano passado tinha foco na distribuição e locação de bens de capital, especialmente máquinas e equipamentos para construção.

O grupo econômico já tem 60 anos. No Conselho de Administração, presidido pelo empresário, estão os quatro filhos de Jonas Barcellos e também conselheiros independentes.

Além das máquinas, o faturamento do grupo Brasif é composto de negócios imobiliários, no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, dois hotéis em Orlando, nos Estados Unidos, a marca de varejo “Loungerie” que tem 108 lojas e, finalmente, as atividades agropecuárias.

Nesse segmento, possui 50% da usina da Mata, em sociedade com Alexandre Grendene, no interior de São Paulo, e duas fazendas de corte e elite – a glamourosa Mata Velha, em Minas Gerais, e a Santa Marina, em São Paulo, além da empresa de genética Geneal.

Também na Brasif Máquinas, o foco está cada vez mais voltado para o meio rural, que seu fundador conhece tão bem. Em abril deste ano, a empresa anunciou a compra da rede de concessionárias Case IH Maxum Máquinas, negócio que não teve o valor revelado, mas já obteve aprovação do Cade no início de junho.

O movimento foi definido há quase dois anos, no planejamento estratégico feito em 2022, quando a Brasif Máquinas identificou como “principal avenida de crescimento” a oportunidade de entrar no segmento agrícola. E deve ser apenas o primeiro de uma série.

Na chamada linha amarela, o negócio de venda e locação de retroescavadeiras e empilhadeiras, por exemplo, já tinha uma parcela significativa de clientes “agro”. Porém, dessa vez a intenção era ingressar pra valer em produtos como tratores e colheitadeiras.

“Tentamos identificar oportunidades considerando produto e localidade que fizesse sentido para nosso negócio e que tivesse relevância, com perspectiva de continuar crescendo e consolidando. Temos esse objetivo da consolidação”, afirmou o CEO do grupo Brasif, Gustavo Avelar, em entrevista ao AgFeed.

Ele lembrou que “no mundo inteiro” o segmento de distribuição de bens de capital está passando por um processo de consolidação “muito forte”.

No Brasil, em máquinas agrícolas, era algo que já se vê há algum tempo, com maior intensidade no último ano. Grupos como o Tracbel, revendedor da John Deere, e Simpar, dono da Vamos, com concessionárias das marcas da AGCO, por exemplo, fizeram investimentos recentes em aquisições de revendas.

Em abril passado, a Primavera Máquinas adquiriu a Real Máquinas, de Goiás. O negócio foi anunciado muito próximo do M&A da Brasif com a Case Maxum.

Agora a expectativa é que o movimento siga crescendo entre as concessionárias da CNH, que envolve as marcas Case e New Holland, segundo Avelar.

O faturamento da Brasif Máquinas foi de R$ 1,5 bilhão no ano passado. Com a aquisição, segundo o CEO, chegará próximo de R$ 2,2 bilhões, e avançará sobre um território que faz brilhar os olhos do executivo.

“O Matopiba é o diamante brasileiro, queríamos de fato estar lá. A CNH era parceira há mais de 50 anos, fomos falar com eles. Felizmente apareceu essa oportunidade”, afirmou o CEO da Brasif.

A Maxum Máquinas, que tem cinco lojas na Bahia e no Piauí, pertencia ao grupo Franciosi, que teria decidido sair do segmento.
“É uma empresa de 27 anos, que estava performando super bem na perspectiva dos clientes. Por isso, mantivemos 100% dos colaboradores na empresa, que agora se chama Maxum Brasif”, ressaltou Avelar.

A rede teria sido a segunda no ranking de faturamento entre as concessionárias da Case no ano passado.

A expectativa da Brasif é ter um retorno do investimento que fez no prazo de 3 a 6 anos. “Vai depender muito das condições de mercado”, disse o CEO.

Planos de expansão

Na conversa com o AgFeed, Gustavo Avelar, deixou clara sua intenção de seguir fazendo novas aquisições.

“A Maxum é a porta de entrada pra gente se tornar muito relevante na distribuição de equipamentos agro. Entramos nesse negócio para consolidar”, ressaltou.

Ele não dá detalhes sobre quais os possíveis novos alvos, mas admite que o Matopiba segue sendo uma prioridade, além de considerar também regiões como o Centro-Oeste e o estado do Pará.

A Brasif Máquinas já está presente em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás por meio das concessionárias de equipamentos de construção.

Questionado sobre o momento difícil que vive o setor de máquinas agrícolas atualmente, ele afirmou que os fundamentos de longo prazo continuam fazendo sentido.

“A despeito dos desafios, que são grandes no curto prazo, principalmente em relação a preços, felizmente nossa região sofre menos no que diz respeito a clima, porque tem uma predominância de irrigação grandes”, disse.

Avelar disse que na Bahia Farm Show, neste mês de junho, a Maxum triplicou o volume de vendas em relação ao ano passado. “Fiquei extremamente impressionado”.

Ele não acredita que o desempenho possa ser aplicado ao ano de 2024 como um todo, mas garante que o objetivo é pelo menos repetir a receita do ano passado, na Maxum. “E 2023 foi o melhor da história para empresa”.

“Quando se olha o número de máquinas entregues na região que a Maxum atua, a queda é de 6%, mas no Brasil o recuo é muito maior que isso, há macrorregiões no País passando por desafios distintos”, afirma, se referindo as especificidades de áreas como o Matopiba, com mais pivôs de irrigação.

Um dos exemplos dessa situação diferente é que, segundo Avelar, 30% dos clientes da região atendida pela empresa no Matopiba utilizam linhas de financiamento em dólar para adquirir seus produtos.

Em 2025, o executivo prevê que já seja possível retomar o crescimento. Além da melhora de mercado, espera aplicar a “eficiência em escala”, a partir da expertise que o grupo já tinha nas concessionárias da linha construction.

Transformação digital

Embora já esteja prospectando novos alvos para aquisições, o CEO da Brasif disse que entre as prioridades nos próximos seis meses estão “garantir o mesmo nível de entrega ao cliente” e avançar na digitalização.

Antes da aquisição da Maxum, a Brasif Máquinas, segundo ele, investiu R$ 75 milhões em transformação digital, entre 2016 e 2022.

Agora, para a nova empresa do Matopiba, está prevendo investir R$ 20 milhões neste mesmo processo, com foco em melhorar a conexão com os clientes.

“Queremos uma análise mais estruturada de cobertura do cliente e da base instalada de máquinas através de telemetria, para que a gente consiga antecipar as demandas, como momento de troca, mas principalmente o momento de manutenção desse equipamento, para entregar um menor tempo de máquina parada possível”, explicou.

Também está no radar ampliar o market share nos equipamentos de baixa e média potência, para produtores rurais de menor porte.

“A região da Maxum é considerada a de maior nível de tecnicidade do agro brasileiro, mais um motivo para ter escolhido essa região”, acrescentou.

Enquanto isso, a Brasif espera seguir crescendo na linha de construção que, de janeiro a maio, segundo ele, está “flat” em relação ao ano passado.

Porém o agro também tem aumentado sua fatia nesse negócio. Ele diz que no ano passado 35% das vendas das máquinas de construção da Brasif foram aplicadas no agro. “O crescimento do agro hoje demanda mais, para preparação de terras e de estradas”.