Empresa de pesquisa pertencente a gigantes da cana-de-açúcar como Copersucar e Raízen, além do BNDES, o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) encerrou seu ano fiscal com um lucro líquido de R$ 175,6 milhões. O motivo? Mais share na área plantada, o que trouxe mais royalties à empresa.
O modelo de negócio do CTC, que é focado em P&D, depende dos royalties do uso de cada variedade. A empresa recebe um terço do ganho total que um cliente possui. No ano 2024/25 da companhia, que iniciou em abril do ano passado e se encerrou em março deste ano, a receita com esses royalties foi de R$ 445 milhões, um avanço de 11,6% em um ano.
Somando mais R$ 20 milhões de receitas com entregas de mudas e outros serviços operacionais, e descontando R$ 41 milhões em impostos, o faturamento operacional líquido ficou em R$ 422,6 milhões, alta de 10% em um ano.
Para o CEO do CTC, César Barros, o ano 2024/25 foi emblemático para a empresa, continuando a trajetória de crescimento que deve continuar também nos próximos anos. “O nosso crescimento comercial é fruto de feedbacks positivos dos clientes ao nosso portfólio mais novo e de um crescimento do market share de plantio”, disse ao AgFeed.
Na safra 2024/25, a área plantada com variedades licenciadas do CTC atingiu 1,2 milhão de hectares, representando um crescimento de 9,5% em relação ao ciclo anterior. O preço médio por hectare foi de R$ 345, com aumento de 3,5% na comparação anual.
O CEO afirma que dessa área plantada, 70% já usa o portfólio mais recente da empresa. Segundo ele, as últimas variedades do CTC trouxeram uma produtividade 10% maior do que a média do setor.
O CTC consegue ver seu faturamento e lucro aumentar mesmo diante de uma agenda intensa em investimentos. No ano encerrado em março de 2025, o investimento acumulado em pesquisa e desenvolvimento (P&D) foi de R$ 233,9 milhões, número 13,8% maior do que no ano anterior.
O número foi recorde para um ano da empresa, e segundo Barros foi distribuído nas três linhas principais de atuação: melhoramento genético, biotecnologia e sementes. Na vertical de melhoramento genético, a projeção para o ano 2025/26 é lançar quatro novos produtos e pré-lançar outros quatro.
Na opinião do CEO da empresa, o CTC consegue lucrar mais mesmo investindo mais por conta do modelo de negócio baseado em royalties, na qual a performance de vendas “financia” a pesquisa.
“Nossa margem é royaltie puro, pois não temos processo fabril, então a rentabilidade é alta. Vamos seguir crescendo em P&D ao mesmo tempo que geramos um caixa robusto”, disse.
A companhia ainda investiu R$ 67,5 milhões em Capex, incluindo a construção de novas estufas, aprimoramentos nos laboratórios e aquisição de máquinas agrícolas.
O CTC se prepara para lançar três novidades no mercado nos próximos anos. A ideia mais ambiciosa envolve um novo sistema de plantio de cana.
Fruto de 11 anos de pesquisas e que deve consumir até R$ 1 bilhão em investimentos feitos até o final do desenvolvimento, o projeto quer possibilitar que os produtores plantem a cana com sementes sintéticas.
No cenário atual, dos 10 milhões de hectares cultivados com cana no País, 1,5 milhão de hectares é renovado anualmente. Por hectare, o CTC estima que sejam necessárias 16 toneladas de brotos de cana e, com o novo sistema, serão necessários 400 quilos.
Diferente do broto, que é um "pedaço" de um pé de cana, a semente sintética fica dentro de uma cápsula de cerca de 10 centímetros. A ideia ainda está na fase laboratorial, mas a intenção do CTC é criar uma fábrica para produção em escala.
O objetivo é que essa primeira unidade tenha uma capacidade produtiva para sementes que cubram mil hectares por ano, sendo 500 hectares por turno fabril. O investimento nessa planta é de R$ 100 milhões.
O processo conta ainda com parcerias com as companhias John Deere, Marchesan, Double TT e Civemasa, todas de máquinas agrícolas, para desenvolver uma plantadora específica para o novo sistema do CTC.
A expectativa da companhia é de colocar a tecnologia no mercado nas próximas safras. A projeção da empresa é que essa tecnologia de semente reduza o ciclo do canavial para quatro anos, um ano menor do que a média atual.
“Colhemos recentemente as primeiras canas em uma área fora das estações de pesquisa, plantadas num cliente ano passado. A performance veio muito boa”, disse César Barros.
Os outros dois lançamentos estão relacionados a tipos de cana-de-açúcar em si. Um é uma nova cana transgênica resistente tanto à broca-da-cana quanto a herbicidas, possibilitando melhor controle de plantas daninhas. Batizada de VerdePro2, o cultivar é tolerante ao glifosato.
A terceira novidade é uma nova série de variedades de cana, que, nos cálculos do CTC, deve aumentar em 16% a produtividade, considerando o TAH (toneladas de açúcar por hectare) frente ao mercado.
Toda a estratégia de novos lançamentos pode turbinar o futuro do CTC, que afirma que tem hoje uma receita futura contratada acima de R$ 1,2 bilhão.
A empresa possui um market share de 27% considerando a cana plantada e 17% considerando a cana colhida, ambos os percentuais nas variedades protegidas.
César Barros explica que se o share no plantio é maior do que na área cultivada, a área cultivada tende a crescer. "Nossa meta é sempre ter market share maior no plantio do que na parte cultivada. 27% de share de plantio e 17% no share de cultivo é reflexo que essas curvas devem se aproximar”, diz.
Na safra 2024/2025, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) consolidado atingiu R$ 198,2 milhões, o que representa um avanço de 6,6% frente ao exercício anterior. A margem foi de 46,8%.
O valor maior utilizado em investimentos somado a R$ 37 milhões distribuídos como forma de dividendos aos acionistas fez a empresa encerrar o ano com um caixa líquido de R$ 493,9 milhões, uma leve baixa de 3,3% em um ano.
Barros ressalta que o CTC não está “sentado em cima de um caixa significativo”, e que o dinheiro servirá para financiar as próximas pesquisas da companhia. “Isso é construído com nossos acionistas, porque projetamos investimentos relevantes nos próximos anos. Temos um caixa que nos dá conforto para fazer pesquisas de longo prazo com um certo grau de risco num país com o Brasil”, disse.
O quadro societário do CTC inclui além do BNDES, Raízen, Copersucar, a São Martinho, Tereos, BP Bioenergy e Grupo Coruripe. A principal acionista é a Copersucar, com 24,3% do capital, seguida por Raízen, com 19,8% e o BNDESPAR, com 19%.
“Nosso trabalho é acelerado para entregar essas variedades o mais rápido possível para os clientes. Mesmo assim, terminamos o ano com uma posição de caixa importante, suficiente para bancar os investimentos em P&D”, acrescenta Paulo Polezi, diretor financeiro do CTC.
O CTC encerrou março com um endividamento com financiamentos e empréstimos de R$ 135,4 milhões, o que traz uma “alavancagem”, que a empresa mede pela relação entre o caixa e o Ebitda da operação, em 2,5 vezes.
Diferente do usual, que utiliza a dívida no lugar do caixa, a métrica usada pela empresa avalia a proporção entre o caixa disponível e o lucro antes. Isso acontece porque o caixa da empresa consegue pagar a dívida e ainda sobrar recursos. Na prática, funciona como uma “alavancagem negativa”.
“Temos uma posição financeira que pago toda a dívida e ainda sobra um caixa da proporção de duas vezes o Ebitda”, explicou Polezi.
Resumo
- Companhia focada na pesquisa e desenvolvimento no setor de cana-de-açúcar viu receita subir 13% e lucro avançar 15% no ano fiscal encerrado em março
- O quadro societário do CTC inclui além do BNDES, Raízen, Copersucar, São Martinho, Tereos, BP Bioenergy e Grupo Coruripe