Em 60 dias, se não houver nenhum contratempo, os primeiros produtos acabados começam a ser entregues no fim da linha de produção da nova fábrica da Agrobiológica em Itápolis, no interior de São Paulo.
A nova planta é um pilar estratégico para suportar o crescimento previsto pela empresa, uma das emergentes do setor de insumos biológicos no País.
Fruto de um investimento de R$ 100 milhões, foi montada em tempo recorde em uma área de 500 mil metros quadrados adquirida da multinacional Syngenta e será uma das maiores da Amárica Latina em seu segmento.
Até o final de 2024, deve estar operando a plena carga. “Nossa previsão inicial é de que isso acontecesse em dezembro de 2025”, afirma Marcelo Pessanha, CEO da Crop Care, holding pertencente ao Fundo Pátria Investimentos com foco na aquisição de indústrias de insumos agrícolas.
A Agrobiológica é hoje a principal aposta da Crop Care – ou pelo menos a que cresce em ritmo mais frenético. “Estamos dois anos à frente do nosso planejamento em termos de receita e resultados, sob qualquer parâmetro observado”, diz Pessanha.
E, ainda assim, a sensação é estar correndo atrás da demanda. “Sem ela, na próxima são teríamos capacidade para atender o mercado”, diz. “Por isso, os investimentos também foram acelerados”.
O ano safra 2023/24, garante, serão ainda cobertos pela produção das fábricas atuais, mas já no limite do necessário.
A empresa deve fechar o ano safra 2022/23 com receita líquida na casa dos R$ 200 milhões – os resultados ainda estão sendo apurados e devem ser divulgados dentro do balanço da Lavoro Inc., guarda-chuva sob o qual estão abrigados outros ativos do Pátria no setor agro, inclusive a rede de distribuição de insumos Lavoro.
Quando foi adquirida, em 2020 – a primeira aquisição da Crop Care –, a receita era de apenas R$ 30 milhões, o que dá a dimensão da exponencialidade com que a Agrobiológica – e o setor de biológicos como um todo – vem se desenvolvendo.
Hoje a empresa é uma das cinco maiores na produção de defensivos biológicos no País. Sob a ótica de um fundo de private equity, como o Pátria, a nova fábrica é o ativo que faltava para pavimentar o caminho para a liderança em um mercado que, em alguns anos, deve se tornar foco de um processo de consolidação, com grandes negócios envolvendo grupos nacionais e estrangeiros.
“A fábrica de Itápolis foi comprada para nos fazer capazes de sermos líderes”, afirma Pessanha. “Acreditamos que com a receita de R$ 500 milhões, a valores de hoje, chegaremos lá”.
Parece distante, mas as taxas de crescimento são robustas – mais de 50% ao ano – assim como as de adoção dos biológicos pelos agricultores.
A Agrobiológica atua em duas frentes paralelas. Além da venda de insumos acabados, com distribuição alavancada pela sinergia com a Lavoro, a empresa tem apostado de forma significativa no mercado on farm, em que os agricultores produzem os biológicos em fábricas instaladas dentro de suas propriedades.
Cerca de 50% da receita da companhia já vem desse modelo, em que, mais que produtos, a Agrobiológica entrega uma gama de serviços que vão desde a construção civil para a montagem das estruturas físicas até o monitoramento da produção após a entrega das instalações e equipamentos.
Todo o pacote é feito sem custos adicionais. A biofábrica, por exemplo, é erguida em um contrato de comodato, recebendo em troca, do agricultor, a assinatura de um contrato de exclusividade para fornecimento da matéria-prima para a produção, pela Agrobiológica, por cinco anos.
Isso só é possível, segundo Pessanha, em função das excelentes margens proporcionadas no mercado de insumos biológicos, que chegam a ser quatro a cinco vezes maiores do que na área de químicos. “O investimento feito na biofábrica, por exemplo, se paga em dois anos”, diz.
É um negócio atrativo e, por esse motivo, cada vez mais concorrido. Com investimentos e prazos significativamente menores para desenvolvimento e registro de produtos, a barreira de entrada para novos players não é muito alta.
“Todo dia surge uma nova empresa de biológicos”, brinca Pessanha. O setor desperta também a atenção de grupos internacionais e das grandes indústrias de produteção de cultivos, que já se posicionam para tentar manter, com suas linhas de bioinsumos, o mercado conquistado com os produtos químicos nas últimas décadas.
Assim, se por um lado há muito espaço para ampliar negócios, de outro há uma competição ferrenha, inclusive por mão de obra especializada. A venda de biológicos, afirma Pessanha, é ainda mais técnica do que a de químicos e exige um contato muito grande com o agricultor, que ainda está aprendendo sobre o seu uso.
Além disso, no modelo on farm, a presença de um técnico da empresa quase que permanente na fazenda do cliente reduz a capacidade de atendimento do time de campo da empresa. Hoje, diz, cada técnico da Agrobiológica atende, no máximo, 5 a 6 clientes.
“O ticket de vendas anual de cada um chega a R$ 5 milhõers, enquanto um vendedor de químicos gera R$ 20 milhões”, diz Pessanha. Atualmente, a Agrobiológica mantém uma equipe de 100 pessoas em campo. “Se não tivéssemos a contrapartida das margens altas, seria impossível manter essa estrutura”.
Avanço em outras frentes
Se a tese dos biológicos é a mais aquecida dentro as frentes de negócios da Crop Care, não é exclusiva e talvez nem mesmo a mais concorrida.
Na área de fertilizantes especiais e adjuvantes, por exemplo, a empresa da holding, Union Agro, compete com cerca de 700 diferentes players em um mercado estimado em R$ 14 bilhões e com crescimentos médios de 10% a 12% ao ano.
“É um mercado mais maduro, mas ainda com boas oportunidades”, analisa Pessanha. Aqui, diz, a sinergia com a distribuição da Lavoro tem garantido a expansão, com a substituição, nas lojas da rede, de antigos fornecedores pelos produtos da marca “da casa”.
A aposta, nesse segmento, está na capacidade da fábrica da empresa, localizada em Pederneiras (SP), em produzir diferentes formulações em uma mesma unidade, além de já estar dimensionada para suportar o crescimento nos próximos anos.
A Union Agro fatura mais de R$ 300 milhões e está entre as 10 maiores do setor, quase dez vezes mais do que a mais nova aposta da Crop Care no setor, a gaúcha Cromoquímica, adquirida há cerca de seis meses e especializada no segmento de adjuvantes.
Embora de porte menor, a Cromoquímica é vista como estratégica, para consolidar o portfolio da Crop Care na oferta de agroquímicos na Lavoro. A empresa passa por um processo de incorporação, mas já recebe investimentos de R$ 5 milhões para uma nova fábrica em Estrela, no Rio Grande do Sul.
No universo dos defensivos químicos, a estratégia é bem diferente. Ao invés de aquisições, a Crop Care optou por construir o negócio do zero, mas já totalmente atrelada às possibilidades de distribuição pela Lavoro.
A decisão foi tomada logo na formação da Crop Care, em 2019, após a conclusão de que a empresa pretendia atuar no segmento. Uma observação detalhada do mercado apontou que não havia ativos de porte ou valores adequados aos planos da empresa.
Assim, a criação da Perterra foi a solução encontrada, começando pela montagem de um time regulatório capaz de agilizar os processos de registros de produtos. Em pouco mais de dois anos, a empresa obteve 12 registros e tem outros 100 em trâmites nos órgãos competentes.
Para gerar receita desde o início da operação e, assim dar fôlego para o tempo necessário às aprovações, a empresa foi à China tratar da importação de produtos já registrados. O parentesco com a Lavoro abriu portas por lá e a Perterra saiu do papel em tempo recorde.
A distribuição também estava solucionada. “Temos uma estratégia monocliente, atendendo somente a Lavoro. A Perterra é a marca própria da rede”, explica.
Com isso, em dois anos a empresa atingiu receita de R$ 130 milhões, com previsão de R$ 180 milhões na próxima safra, segundo Pessanha.
A velocidade dos projetos da Crop Care tende a se manter nos próximos anos. Além dos crescimentos orgânicos previstos e dos resultados dos investimentos já definidos, o espírito comprador do Pátria continua vivo no grupo.
“Mais do que nunca temos um pipeline superaquecido”, afirma o CEO. “Somos parte de um fundo de private equity, está no nosso DNA”.
A prioridade hoje está em empresas voltadas para o mercado latino-americano, com foco em empresas no Paraguai, Colômbia, Argentina, Peru e Chile.
O Brasil, porém, se mantém na lista. Segundo Pessanha, nos próximos 12 meses deve haver no mínimo mais uma aquisição nacional e uma na América do Sul.
“Temos duas empresas em processo bem avançado de negociação”, diz Pessanha.