Quem visitou o estande da Corteva durante a Farm Progress Show, principal feira agropecuária americana, em Decatur, no estado de Illinois, no final de agosto, encontrou uma placa que tinha uma mensagem sem rodeios: “Eu tenho liberdade para pulverizar”.

A frase tem sido um dos trunfos da empresa americana na cada vez mais acirrada disputa com a concorrente alemã Bayer pela liderança do bilionário mercado de sementes de soja nos Estados Unidos.

Juntas, as duas respondem por mais de 70% das sementes cultivadas em mais de 32 milhões de hectares dedicados à cultura no país. Duas décadas atrás, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), eram 40%.

A Corteva proclama ter assumido a dianteira pela primeira vez, depois de anos vendo a Bayer à sua frente – uma liderança adquirida junto com a aquisição da Monsanto, em 2018.

E um dos principais argumentos para conquistar produtores que antes plantavam as sementes com tecnologia Bayer é justamente a possibilidade de fugir das limitações impostas pelas autoridades americanas para quem utiliza as tecnologias da companhia alemã, como a Xtend.

O sistema produtivo foi projetado para resistir ao poderoso herbicida dicamba, lançado para substituir o glifosato, que já não mostrava tanta eficiência.

A questão é que, em virtude de suspeitas de que o dicamba poderia evaporar e ser levado pelo vento a propriedades vizinhas, o seu uso foi limitado em alguns dos principais estados produtores.

Por trás das restrições estariam pressões de associações e revendas ligadas à Corteva, cuja tecnologia Enlist E3 não possui nenhum tipo de restrição. Ou seja, os produtores têm “liberdade para pulverizar”, mote impresso na placa do estande da empresa.

“Sentimos que estamos numa posição de força”, disse Mike Dillon, vice-presidente do negócio de oleaginosas da Corteva, numa entrevista ao The Wall Street Journal. O AgFeed procurou as assessorias das duas empresas sobre o assunto. A Corteva não se manifestou sobre o assunto e a Bayer enviou uma nota com sua visão de mercado..

De acordo com o WSJ, a Corteva alega que a Enlist deve estar presente pelo menos 55% da soja plantada nos EUA este ano. E estima que pode chegar a 60%, entre licenciamento e vendas diretas, em 2024.

Já a nota enviada ao AgFeed pela Bayer diz: "Continuamos vendo uma forte demanda por nosso portfólio de soja nos EUA. Nossas estimativas para hectares de soja nos EUA que são Roundup Ready 2 Xtend ou Xtendflex para a temporada de 2023 estão na faixa de na faixa de 45-50%, com base nas vendas de nossos sementes com marca e características e relatórios de nossas vendas para nossos licenciados."

Enquanto duelam nos números, as empresas levam a competição dos campos e das feiras também para os tribunais, com processos mútuos envolvendo violações de patentes.

No ano passado, a Bayer foi à justiça americana afirmando que a Corteva teria desrespeitado um contrato existente entre as duas empresas ao usar a tecnologia Bayer durante o desenvolvimento de sua variedade de soja Enlist E3.

Em sentido contrário, a Corteva processou a Bayer alegando violação de patentes relacionadas com o Enlist no desenvolvimento de uma nova geração de sementes.

Nos processos, ambas as empresas negaram as acusações.