O cenário é o mesmo do ocorrido nos últimos cinco anos. As mudanças climáticas vão prejudicar mais uma vez as lavouras de café na região da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), a maior do setor no País.
O frio extremo de 2021 foi substituído pelo calor escaldante e a estiagem nos últimos anos. O último episódio, 40 dias sem chuvas e temperaturas acima dos 32 graus em fevereiro na maior parte da região produtora, no Sul de Minas.
Na avaliação de lideranças da cooperativa, o café colhido na safra 2025 e o desenvolvimento das plantações para a produção em 2026 serão prejudicados. Como consequência, uma nova quebra na oferta e o impacto direto do “câmbio climático” no preço da commodity.
“Até a primeira semana de fevereiro estávamos otimistas, mas foram 40 dias sem chuva com altas temperaturas. O câmbio climático está impactando nos preços e, se alguém disser que sabe o que vai acontecer, eu desconfio” disse Luiz Fernando dos Reis, superintendente comercial da Cooxupé, durante entrevista na Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas (Femagri), promovida pela cooperativa.
Para o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, o impacto da estiagem é irreversível, mas as altas temperaturas “são um desastre”.
Segundo ele, como as plantas já estão com os frutos em fase final de desenvolvimento, a cooperativa só terá uma avaliação do quando colheita, que começa em breve, for seca e beneficiada.
Vice-presidente da Cooxupé, Osvaldo Bachião Filho, reforçou que é cedo para mensurar as perdas, mas detalhou como as altas temperaturas atuam na planta e nos grãos.
“Com temperatura acima de 32 graus a planta demora até uma semana para voltar ao normal, se tiver umidade. Mas o que aconteceu em fevereiro de 2025 foi pior que em novembro de 2023, com recordes de temperatura e na pior fase, de pleno desenvolvimento do café”, afirmou.
Ainda de acordo com Bachião Filho, as altas temperaturas prejudicaram o desenvolvimento dos cafezais, que terão menos ramos e os impactos serão sentidos também nas safras futuras.
“Teremos problema para 2025 (na colheita) e para 2026, com o desenvolvimento”, completou o vice-presidente da Cooxupé.
Estoques zerados
Com oferta reduzida da commodity há anos e o consumo forte mesmo com os preços recordes, os estoques da Cooxupé foram zerados e não há previsão de serem repostos na cooperativa que tem capacidade estática para armazenar 6,3 milhões de sacas de café.
De acordo com Reis, superintendente comercial da Cooxupé, nos últimos sessenta anos o preço do café só passou de US$ 3 dólares por libra três vezes e o preço foi rapidamente corrigido com a desova de estoques, logo reposto pela produção.
“Todas as vezes tínhamos estoques para regular em, dessa vez que o preço passou (de US$ 3) e permanece mais alto, não tem estoque”, explicou o executivo.
Com a soma do uso dos estoques, à falta de produção por problemas climáticos para recompor a reserva, ao custo financeiro, à inversão do mercado com futuros valendo menos e ao consumo firme, “a conta não fechou”, segundo Reis, e o preço chegou nos atuais patamares recordes.
Exceto em relação às metas de recebimento, longe de serem alcançadas, a Cooxupé bateu todos recordes em 2024, nas palavras do presidente Augusto Rodrigues de Melo em 2024.
A receita da cooperativa atingiu R$ 10,5 bilhões, ante R$ 6,4 bilhões em 2023, e o resultado, ou seja, o lucro, foi de R$ 390 milhões.
A Cooxupé levará ao conselho a proposta de distribuir R$ 133 milhões aos mais de 20 mil cooperados.
Ainda de acordo com Melo, no ano passado a captação foi de 8 milhões de sacas, as vendas chegaram a 7 milhões de sacas, das quais 6,6 milhões foram exportadas. Assim como outras processadoras, a Cooxupé sofre com os gargalos portuários para o envio da commodity ao exterior.
“Estamos ficando café no porto por mais de 15 dias parado com volume alto, custo financeiro para operação dinheiro não entra”, completou o vice-presidente Bachião Filho.