No primeiro pregão da Bolsa brasileira no segundo semestre, o agro deu as caras. A ação da SLC Agrícola, uma das únicas do segmento dentro do Ibovespa, chegou a disparar mais de 7,5% na tarde desta segunda-feira, 1° de julho, e fechou com valorização de 7,22%, cotada R$ 18,71 e liderando as altas do dia do principal índice da B3.

O movimento positivo das ações veio logo em seguida a dois comunicados da empresa, que aparentemente agradaram aos investidores.

Depois de divulgar na última sexta que um estudo da consultoria Deloitte avaliou suas terras em R$ 11,59 bilhões este ano, uma valorização de 6% em relação a 2023, nesta segunda-feira a empresa divulgou projeções para a safra que acabou de se encerrar e para a de 2024/2025, que acabou de começar.

Em um fato relevante divulgado, a companhia informou que a colheita de soja da safra 2023/2024 atingiu uma produtividade de 3,2 toneladas por hectare, uma queda de 17% frente às 3,9 toneladas por hectare previstas antes da safra.

Quando o assunto é algodão, que ainda está em processo de colheita, a expectativa é uma produtividade de 2 ton/ha para a fibra e de 1,9 ton/ha para a pluma de primeira e segunda safra, respectivamente, resultados acima do orçado.

Já o milho de segunda safra tem expectativa de 7,2 toneladas por hectare, 4% abaixo das 7,5 toneladas orçadas antes da temporada.

“O algodão apresentou melhor potencial produtivo em relação ao orçamento, pois teve um bom período de semeadura e manejo, além do clima favorável. No caso do milho, no estado do Maranhão o período de semeadura prejudicou levemente o projeto”, afirmou a SLC em comunicado.

Para o analista Gabriel Barra, do Citi, a SLC Agrícola deve enfrentar um cenário “mais normalizado” na safra 2024/2025. Em um relatório distribuído a clientes do banco, ele projetou um cenário de menor custo de produção e com um clima mais favorável, com o algodão sendo o destaque da nova temporada.

O analista também não vê que a menor produção de milho na safra 2023/2024 afete a empresa, já que o cereal representa apenas 13% do faturamento da SLC. Em contrapartida, o algodão, que traz 40% do faturamento da companhia, teve sua produtividade reajustada para cima.

Essa projeção de safra melhor à frente já havia sido sinalizada pelo CEO da SLC, Aurélio Pavinato, em uma call com analistas do mercado em março.

Na ocasião, o executivo destacou que esperava uma "safra cheia" na temporada 2024/2025. Em sua matemática, 2024 deve ser um ano de ajuste de custo de produção.

"O preço baixo das commodities está jogando uma pressão nos fornecedores", comentou na época. Essa conta de preço de grãos se recuperando mais uma safra normal para suas colheitas traz mais rentabilidade para a SLC.

"Historicamente, nem La Niña nem El Niño afetam o Mato Grosso, mas esse ano trouxe uma seca. A tendência para 2024, com o primeiro, é uma chuva normal na região e isso é bom para SLC, pois teremos uma safra 'cheia", comentou o CEO da empresa.

Para a safra 2024/2025, a SLC já adquiriu 100% do potássio, 92% do fosfato, 97% do nitrogênio e 85% dos defensivos agrícolas e deverá divulgar o custo por hectare por safra em outubro de 2024.

“Em relação ao hedge, a SLC aumentou o ritmo dos números 2023/2024 e 2024/2025 da soja, enquanto o algodão e o milho permaneceram estáveis”, afirmou Barra, do Citi.

Alta surpreendente mas não duradoura

Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas na XP, considerou que a avaliação do preço das terras da SLC foi “surpreendentemente positiva”.

Segundo ele, notícias recentes de concorrentes da SLC mostram terras vendidas a preços mais baixos. Usando como referência para o preço de terras o valor correspondente em sacas por hectare, ele demonstra que, de um ano para cá, houve uma desvalorização das propriedades rurais.

Ele cita, por exemplo, que a compra de uma propriedade na região de Primavera do Leste feita pela BrasilAgro em maio deste ano sinalizou que, uma vez arrendada, geraria um aluguel de 13 sacas por hectare. “O patamar durante o último superciclo de commodities era de 18 a 20 sacas por hectare”, afirmou Alencar.

A BrasilAgro desembolsará R$ 36,4 milhões na compra da Companhia Agrícola Novo Horizonte, que, dentre outros ativos, possui um contrato de arrendamento de 4,7 mil hectares no município.

Alencar espera, no entanto, que as “terras de alto rendimento”, ou seja, aquelas que cultivam algodão, permaneçam atrativas e sustentem preços mais altos, ao contrário das terras de pastagens degradadas que poderiam sofrer variações negativas de preço neste momento do ciclo da soja.

O analista da XP também diz não acreditar que a alta vista pelo papel hoje se sustente. “O preço dos grãos segue em queda em Chicago”, argumenta.

Ação barata?

Para Guilherme Palhares, analista do Santander, o valor de mercado da SLC, de R$ 7,7 bilhões, implica uma avaliação das terras de R$ 6,7 bilhões, sugerindo que a empresa está sendo negociada com um desconto de 30% em relação ao valor das suas terras.

“Este cenário indica que o mercado de capitais pode subestimar o valor dos ativos tangíveis da empresa”, disse o analista em seu Linkedin

No documento divulgado pela SLC na sexta, a empresa ainda informou que a área cultivada na safra 2023/2024 foi de 651,7 mil hectares, um recuo em relação aos 674,3 mil hectares plantados na temporada anterior.

A empresa informou que o valor atual do hectare médio agricultável é de R$ 57,5 mil, mas ponderou que, neste ano, houve alterações em seu portfólio de terras, resultando em uma redução de 9,5 mil hectares agricultáveis.

No início deste ano, a família Scheffer aproveitou a “pechincha” das ações da SLC, e adquiriu mais de 5% dos papéis da companhia.

Em conversa com o AgFeed, no ano passado, o diretor da empresa, Guilherme Scheffer, comentou que as terras da companhia não são bem avaliadas pela "Faria Lima". Na visão dos empresários de Mato Grosso, as propriedades poderiam valer "mais que o dobro", se considerados os critérios do mercado real de terras das regiões produtoras.