A vocação do grupo Rodobens para o agronegócio remonta à segunda metade do século passado e se confunde com a história da empresa. Com 75 anos, a companhia nasceu como uma concessionária de caminhões em São José do Rio Preto (SP), em 1949, e fez seu primeiro movimento de expansão nos anos 1960, com uma unidade em Fernandópolis (SP).
Após fincar o pé (e as rodas) em municípios rurais paulistas, nos anos 1970, a primeira concessionária foi aberta pelo grupo em Cuiabá (MT). À época, o estado, hoje maior produtor de grãos do Brasil, era um grande pasto e a pecuária dominava.
“Não tinha um pé de soja por lá”, brinca Sebastião Cirelli, diretor de Consórcio do Grupo Rodobens, em entrevista ao AgFeed para falar sobre um dos negócios que mais crescem no portfólio da companhia.
Segundo ele, as primeiras experiências com máquinas agrícolas e consórcios no setor do Grupo Rodobens foram nas décadas de 1980 e 1990, com a parceria com a antiga Valmet, atual Valtra. Hoje, o braço de consórcio do grupo opera com as vendas de planos das máquinas pesadas para a inglesa JCB e para a japonesa Komatsu.
Apesar de os equipamentos dessa chamada “linha amarela” serem muito utilizados para infraestrutura e obras, o agro é o principal destino das máquinas adquiridas via consórcios, segundo Cirelli.
Enquanto o mercado de consórcio deve encerrar 2024 em alta de 20%, as vendas de cotas da Rodobens para essa fatia do agronegócio devem saltar 70% no período, explica Cirelli.
“Mesmo com a quebra de safra, em termos de volume de negócio não houve impacto para nós”, afirma o executivo. A expectativa para 2025, segundo ele, é seguir com um ritmo de crescimento de dois dígitos no setor de consórcios.
“A expectativa é muito positiva para 2025, quando está previsto o inverso, com uma produção excelente. E o dólar pode contribuir, já que boa parte dos grãos é exportada”.
Na avaliação do diretor de Consórcio do Grupo Rodobens, o mercado para o agronegócio não é só de equipamento puramente agrícola, mas de um conjunto que vive em torno do setor.
“Temos clientes em Mato Grosso do Sul, por exemplo, com uma frota de caminhões extrapesados e carretas cujo conjunto custa R$ 2 milhões cada e que só rodam dentro da fazenda, da colheita até o armazenamento, nos silos”, diz.
Com concessionárias de caminhões e consórcios, além de concessionárias da marca Toyota, o Grupo Rodobens avançou para outros estados agrícolas, como Goiás, Rondônia, Tocantins e Bahia, entre outros.
“Desde o início o grupo tem vocação para essas áreas de metrópoles em regiões mais voltadas ao agronegócio”, afirma.
Segundo dados do ano passado acumulados até o terceiro trimestre de 2024, a empresa registrou crescimento, puxado pelo agro, de 29% em créditos para caminhões no setor de consórcios.
A participação de créditos vendidos de caminhões correspondeu a 35% do total vendido pela Rodobens no período. A receita com vendas em cotas de consórcio alcançou R$ 1,7 bilhão nos primeiros nove meses do ano passado.
Selic
A alta na taxa básica de juros e a perspectiva de a Selic atingir 15% ao ano não preocupa o diretor de Consórcio do Grupo Rodobens. Cirelli cita dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) que apontam a pequena relação entre a Selic e o número de cotas ativas de consórcios.
A curva de participantes ativos no sistema de consórcios é crescente e saltou de menos de 4 milhões, em 2002, para 11,22 milhões no início de 2025.
Já a Selic, mesmo com a recente alta, deve trazer um impacto positivo no mercado de consórcios, pois encarece o financiamento da venda de veículos.
“Um consórcio de 60 meses de caminhão utilizado no agronegócio tem taxas de administração de cerca de 2% ao ano e um reajuste anual pela inflação entre 5% a 6%. Ou seja, um aumento de 7% a 8% no total por ano.
Qualquer financiamento desse veículo não sai por menos de 15% a 16% ano”, explica Cirelli. “Se o cliente tem oportunidade de programar para não necessitar do veículo imediatamente, é muito mais vantajoso o consórcio”.
Segundo o executivo, se a alta de juros trouxer desaceleração na atividade econômica, o que ainda não é o caso, o cenário pode impactar no mercado de consórcios. “Se essa taxa de juros atingir a engrenagem da economia e travar, fica ruim”.
Mas a visão é positiva, principalmente nesse setor de bens de capital. Diante da necessidade de trocar equipamentos, frotas, com a restrição e a régua mais alta para a tomada de crédito, o financiamento travou e clientes estão migrando para o consórcio”.
Indagado se o Grupo Rodobens pretende ampliar as parcerias no agronegócio para além da JCB e da Komatsu, Cirelli tem a clássica resposta de que “estamos sempre abertos a novas parcerias” e cita outros modelos de negócio da companhia.
“Operamos desde o consórcio da Mercedes-Benz, com 95% dos veículos da marca comercializados nesse tipo de operação, e temos uma base de parceiros comissionados que vendem Rodobens em suas carteiras para esses clientes independente de marca”, conclui.