A semana que se encerra nesta sexta-feira, 21 de junho, atraiu para São Paulo os principais nomes da área de inovação do agronegócio na América Latina, concentrando uma série de eventos em torno do tema.

O último deles, justamente na sexta, será o Agrotech 2024, que já há alguns anos faz parte do roteiro dos executivos, investidores e empreendedores do setor. Organizado pela StartSe, empresa que se tornou referência na elaboração de programas de educação associada a inovação corporativa, o encontro tem na programação nomes estrelados do agro, como Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber, Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA, e Fábio Neufeld, head de soluções financeiras da Syngenta.

A nova edição do evento será marcada também pelo que acontece fora do palco. Ela será a primeira de uma nova fase da relação da StartSe com o setor.

Se antes o agro era apenas um tema entre os diversos a serem tratados nas diversas iniciativas da empresa, a partir de agora passa a ter status de divisão dentro da companhia, a StartSe Agro, criada já com o objetivo de se tornar algo maior – e até com um spin off já previsto para dentro de dois anos.

“Por enquanto, é uma unidade de negócio, mas já está sendo tratada hoje como uma empresa independente, embora não tenha personalidade jurídica”, afirma Maurício Schneider, CEO do novo empreendimento e um dos quatro experientes profissionais que se associaram à StartSe para construir essa nova vertical.

Ex-CEO da Solubio, do Aqua Capital, Schneider junta-se a Rodrigo Iafelice, ex-CEO da Solinftec, conselheiro e investidor em agtechs, Julio Bravo, fundador da AgroBravo, e Luiz Gustavo Denardim, doutor em Ciências do Solo e experiente conselheiro de empresas do setor.

Nos últimos meses, os quatro executivos desenharam, juntamente com os sócios da StartSe – como Pedro Englert, Júnior Borneli e Fábio Neto –, um modelo de negócios que combina a expertise da companhia com as suas próprias habilidades.

O conceito inicial era dar escala para os produtos hoje já na prateleira da empresa – como os cursos in company e as missões empresariais – e, ao mesmo tempo, gerar demanda para uma área nova, de desenvolvimento de negócios, ou Biz Dev, como é chamado internamente.]

O olhar do quarteto com “pés no barro” estará no que Schneider define como “uma nova geração de negócios” do setor, que já nasce a partir de um cenário de transformação da agropecuária para adaptar-se a fatores como as mudanças climáticas, que trazem uma série de novos desafios aos produtores e às empresas dos diferentes segmentos.

“Esse vai ser o mote do lançamento da StartSe Agro”, diz Schneider. “A gente quer criar o novo agro, o agro da resiliência, não apenas do ponto de vista climático, mas nas diferentes frentes”.

A nova StartSe Agro atua em três frentes principais de negócios. A primeira, mais associada ao negócio original da empresa é a de educação, que oferecerá programas específicos para o setor.

Um deles vai girar em torno da inteligência artificial aplicada ao agro, trazendo estudo de cases de empresas que estão aplicando a tecnologia.

Outro focará em linguagens específicas de como melhorar vendas com as técnicas avançadas e customizadas, usadas em outros setores da economia, mas com viés totalmente para o agro.

“Isso vale para a revenda, o distribuidor, a indústria, para todo mundo que está no setor e que não tem nenhum sistema educacional, nenhum produto educacional que seja focado nessa dor, que é uma dor que todo mundo compartilha”, diz Iafelice.

A segunda vertical é a de missões corporativas. Nessa área, a StartSe já havia incorporado, há dois anos, a AgroBravo, fundada pelo empreendedor gaúcho Júlio Bravo. Nos últimos anos, ele se especializou em montar viagens sob medida para grupos corporativos que desejam conhecer mais de perto empresas e destinos relevantes para o setor no exterior.

Guiados por Bravo, executivos e convidados de grandes grupos e cooperativas visitam desde startups do Vale do Silício a empresas e áreas produtivas do Corn Belt americano, ou feiras como a Agritechnica, a maior de equipamentos da Europa, ou a Farm Progress, principal evento do setor nos EUA.

Segundo Bravo, a empresa já organiza cerca de 40 grupos por ano. “A gente brinca que somos a CVC do agro”, diz.

A ideia, agora, é aumentar a sinergia entre as duas áreas – educação e missões – e, baseado nos objetivos de cada curso, ampliar os destinos das viagens, de forma a propiciar uma experiência de conhecimento mais robusta.

Assim, China, Singapura, Austrália e regiões específicas de Itália e França, onde os produtos agro têm alto valor agregado, podem entrar nos roteiros, além de universidades como a Iowa, nos Estados Unidos, e Wageningen, na Holanda, cujas escolas de agronomia estão entre as mais respeitadas do mundo.

Destino certo será a Índia, “que é o próximo mercado consumidor para soja e algodão brasileiros”, como define Iafelice.

“O que percebemos é que tinha um modelo vencedor, mas que era pouco escalável, mas que poderíamos criar algo bem maior ao criar um blend entre missões e educação”, diz Iafelice.

Um exemplo disso é o programa Bayer Academy, criado para ser acoplado a um programa de relacionamento com os clientes da multinacional alemã, que reúne viagens e módulos de educação em um único pacote, que pode ser pago com pontos da Orbia, obtidos com aquisição de produtos da companhia.

Na prateleira da StartSe Agro haverá programas voltados para a formação de sucessores e executivos e um batizado de Academia do Infinito, que tem como propósito provocar discussões sobre o futuro do setor.

Em todos eles, os participantes contarão com encontros em São Paulo e embarcarão juntos para locais relacionados ao conteúdo, de Xangai ao Vale do Silício.

Segundo Schneider, a previsão, nesses dois segmentos, é que 70% do negócio seja escalável e 30%, totalmente customizável, de acordo com a necessidade do cliente.

A customização é a regra, no entanto, no terceiro pilar, o Biz Dev, que fica no fundo do funil criado com os dois primeiros. “Essas duas verticais geram muitas oportunidades, tanto com grupos agrícolas, quanto indústrias ou estrangeiros que querem acessar a agricultura brasileira”, diz Schneider.

Aqui, a experiência acumulada pelos sócios da StartSe Agro abre um imenso leque de oportunidades, atuando junto às empresas para atuar no desenvolvimento de processos de inovação, auxiliando na conexão com potenciais parceiros nessa área ou até na busca de recursos para projetos que podem, eventualmente, resultar na criação de novos negócios.

“Com educação e com comissões, temos um mercado mais gerador de caixa, um lado do negócio impactante e importante, sem a dúvida”, diz Schneider.

“Em todos eles, a ideia é ajudar o agro a pensar diferente, que é o que essa nova agricultura precisa. E ajudar a criar soluções. O Biz Dev é aquele negócio de mais médio e longo prazo, mas com muito mais criação de valor”.

Se precisar criar a regulação, foi o que a gente fez na Solubil, lá a PL6583668 da Solubil, quer dizer, vamos criar regulatório para isso aí.

Em alguns desses casos, a StartSe Agro pode até mesmo ser remunerada com participação em um negócio surgido dessa participação, embora não seja esse o foco principal.

“E eventualmente esse trabalho nem vai resultar exatamente em um novo negócio, mas na participação em um comitê de inovação, no conselho das empresas, seja consultivo ou de administração, ou uma conexão. Isso tem valor”, completa Iafelice.