Aos 13 anos o paulista Artur Monassi, nascido na região de Ribeirão Preto, já trabalhava como entregador de cobranças e depois como empacotador, vendedor e, finalmente, gerente em uma loja de autopeças.

Alguns anos mais tarde, conseguiu montar o próprio negócio, uma retífica de peças, quando passou a ter contato com a Case IH, gigante global de máquinas agrícolas.

Resumo

  • Após empreender no setor de autopeças, Artur Monassi fundou a Tracan, maior concessionária Case IH no Brasil, e depois a TMA, fabricante de máquinas agrícolas
  • A TMA se destacou por inovações em transbordos de maior capacidade e plantadeiras de cana, alcançando R$ 300 milhões em faturamento em 2024
  • Em expansão, a empresa investe R$ 70 milhões em uma nova fábrica e firmou parceria com a Volvo para produzir caminhões autônomos para o setor sucroenergético

Quem conhece Monassi, diz que ele sempre foi uma espécie de “professor Pardal” - por isso ajudou a Case na tarefa de “tropicalizar” seus tratores, ajudando a impulsionar as vendas.

A parceria acabou dando origem ao grande salto na trajetória de Monassi. Em 1996, criou a empresa Tracan, concessionária da Case IH.

“Os tratores eram todos importados (da Case), eu não tinha muito dinheiro para investir. Então, não adiantava pegar uma marca já consolidada porque não tinha dinheiro. Vi oportunidade de ir crescendo junto, por ser uma empresa com tecnologia, com horizonte de crescimento. Na época eu já vinha conversando com outras marcas e todas pediam garantia real”, conta, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

O grupo foi crescendo aos poucos, adquiriu outro importante revendedor de Goiás e hoje é, disparado o maior concessionário da marca no Brasil.

Mas essa história de empreendedorismo vai além da parceria com a Case. Em determinado momento, a montadora decidiu retirar do portfólio as plantadeiras de cana e o chamado transbordo, equipamento que serve para depositar a cana picada vinda da colhedora.

“Vimos uma oportunidade e, com muita dificuldade, fomos lá, montamos uma fábrica e começamos a produzir equipamentos pequenininhos, sem tecnologia embarcada”, lembrou.

O caminhão autônomo de transbordo Stark, produzido em parceria com a Volvo

Em 2004, o grupo já atuava com fabricação própria, mas ainda de forma terceirizada e um marco importante foi um contrato de exportação para Cuba.

“O governo brasileiro fez um plano de investimento de recuperação da indústria açucareira em Cuba e nós entramos nessa jogada. Vendemos lá em Cuba alguns transbordos e algumas plantadeiras”, explica.

O parceiro fabricante, porém, acabou desistindo do negócio. “Aí eu tive que, a toque de caixa, montar uma fábrica. Montamos em cinco meses”.

Foi assim que surgiu, em 2006, a TMA, que significava Tracan Máquinas Agrícolas - depois foi rebatizada de “Tecnologia em Máquinas Agrícolas”, já que atualmente trabalha com diferentes marcas e fabricantes, não tem exclusividade com a Case IH e a intenção do empresário era desvincular da imagem da concessionária.

O grupo Tracan como um todo, que inclui a TMA, faturou R$ 1,4 bilhão em 2024. Se considerada somente a receita da fabricante de máquinas agrícolas, hoje líder no segmento de plantadeiras de cana, por exemplo, foram R$ 300 milhões, um aumento de 50% em relação ao ano anterior.

As duas empresas somam cerca de 900 funcionários. No ano em que começou a TMA, com a venda de 200 unidades para Cuba, o empresário calcula que o faturamento era de R$ 30 milhões.

Um dos diferenciais da TMA, segundo o fundador, foi sempre desenvolver equipamentos para resolver problemas reais de quem está no campo. Ele conta que cada máquina desenvolvida é inclusive testada nas áreas agrícolas que hoje também possui.

Quando a empresa começou, só havia transbordo de 8 toneladas no mercado, por exemplo. Ele começou a testar um novo equipamento que levasse mais que o dobro disso, foi lançando novos e hoje oferece o sistema que transporta 42 toneladas.

“Na época todo mundo me chamou de louco, mas virou líder de mercado, todos os outros fabricantes copiaram, apesar de eu ter a patente no meu nome. Nunca fui atrás de entrar em justiça porque eu não consigo fabricar para o mercado inteiro”, afirmou.

Outra inovação foi uma plantadeira de cana, que unificou estruturas, eliminando a necessidade de dois operadores, como era o sistema antigo. É nesse tipo de equipamento que a TMA segue investindo.

Na Agrishow 2025, seu principal lançamento foi uma plantadeira que usa um sistema com Inteligência Artificial (IA) desenvolvido pelos próprios engenheiros da empresa. Em meio a gigantes da tecnologia global, o ex-gerente da loja de autopeças, seguiu atraindo clientes para conhecer uma demonstração dinâmica que montou no estande para mostrar como a tecnologia funciona.

Artur Monassi admite que, em determinado momento, chegou a cogitar vender a empresa, já que até mesmo a Case estava interessada. Ele mudou de ideia com a ajuda da filha, Jéssica Monassi Telles, que hoje é a principal liderança executiva da fábrica da TMA.

“Fábrica é um negócio bastante complicado, a maior parte do problema que você tem é gestão de pessoas, mas a Jéssica veio para a empresa e mapeou todos os processos”, conta o pai.

Formada em administração de empresas, Jéssica ajudou na implementação de sistemas como SAP, mas também implantou um programa de incentivo para os funcionários estudarem engenharia. Muitos dos profissionais seguem na empresa e têm ajudado no lançamento das inovações.

“A maioria dos engenheiros que a gente tem de desenvolvimento é fruto desse programa. Hoje nós estamos lançando equipamentos com inteligência artificial, um nível de desenvolvimento de empresas de grande porte, em uma empresa de pequeno porte”, afirma o empresário.

Fábrica de R$ 70 milhões

O fundador da TMA diz que, lá no início das atividades, já chegou a contar com clientes como a São Martinho. Ele afirma que, até hoje, é possível ver equipamentos da empresa vendidos na época e que seguem operando no campo.

A fama de “máquina que nunca quebra” e as vendas em alta, em pleno ano de dificuldades no setor, animaram a família Monassi a fazer um novo investimento.

“No ano passado, quando todo mundo estava reclamando, tivemos um ano excepcional. Aí veio o grande sonho, que é fazer realmente uma fábrica projetada para o nosso negócio”, ressaltou o empresário.

Assim como a antiga sede, que ele descreve como “uma colcha de retalhos”, a nova fábrica está sendo construída em Ribeirão Preto. São R$ 30 milhões para erguer o prédio e mais R$ 40 milhões para a compra e instalação dos novos equipamentos.

“A gente vai ter uma fábrica muito moderna, estamos colocando robótica na empresa, uma coisa que talvez seja muito popular hoje para quem faz equipamento pequeno... mas eu quero ver para quem faz equipamento desse porte, é um negócio complicado”, diz.

A expectativa, segundo ele, é triplicar “ou até quadriplicar” a capacidade fabril. No caso das plantadeiras, foram produzidas 101 unidades em 2024. A nova fábrica já começará com capacidade para produzir 300 máquinas do tipo.

Outro motivo importante para o investimento é o acordo recente fechado pela TMA com a fabricante de caminhões Volvo. A empresa dos Monassi fabrica um equipamento complementar para o caminhão, principalmente para o uso na colheita da cana.

Trata-se do caminhão autônomo chamado Stark. Ele sairá da fábrica da TMA com o transbordo e com as automações necessárias.

“A Volvo é uma líder de mercado, os caminhões dela já trabalham autônomos em vários segmentos como mineração. E aí eu falei: gente, a cana de açúcar é onde tem a melhor possibilidade de você trabalhar com um veículo autônomo, porque na lavoura de cana tudo é georreferenciado”, ressalta.

Artur Monassi acredita que será possível produzir também caminhões autônomos preparados para atender outras demandas do agronegócio, como fertilizantes, calcário e irrigação.

A fábrica começa a operar de forma experimental em novembro deste ano, mas a inauguração deve ser feita na Agrishow 2026. “Quando inaugurei a Tracan também foi durante um Agrishow”, diz, orgulhoso.

O empresário admite que até mesmo na TMA o ano de 2025 também mostra desafios, em função da taxa de juros elevada. Por isso, estima que este ano a receita seja igual a 2024.

Já a partir de 2026, com a nova fábrica e a parceria com a Volvo, acredita ser possível até dobrar o faturamento.