Uma postagem discreta e direta, ao seu estilo, marcou a despedida de José Américo Basso Amaral do comando de uma das maiores sementeiras do País.

“Caros colegas, compartilho uma transição importante em minha trajetória: a partir de hoje, deixo a posição de CEO da Sementes Jotabasso e retorno ao Conselho de Administração da empresa”, escreveu, no primeiro de apenas quatro parágrafos da nota publicada em seu perfil na rede profissional.

O sobrenome Basso está na origem da Jotabasso, criada por seu avô, João Basso, em 1971. Desde o início desta semana, não está mais presente na assinatura do novo CEO da companhia.

Segundo informou ao AgFeed a área de Comunicação da Sementes Jotabasso, “neste momento, a empresa está em fase de transição da posição, sob coordenação direta do Conselho de Administração, e avaliando perfis com competência e aderência à cultura organizacional para assumir a liderança executiva”.

Durante essa transição, os diretores executivos Tages Martinelli e Rogério Paulino Marques estão à frente das áreas de negócio da companhia.

A nota publicada por Amaral, como o antigo CEO é conhecido pelos colegas, surpreendeu o mercado. Mas já fazia parte do planejamento sucessório que já vinha sendo conduzido desde 2024 em conjunto pelo executivo e pelo conselho de administração, “como parte de um movimento natural dentro da governança da companhia”.

Amaral assumiu o posto em 2019 e, apesar de fazer parte da família (era o único Basso com função executiva no grupo), tinha um mandato estatutário na companhia. Antes de sentar-se na cadeira de CEO da empresa, ele havia construído uma sólida carreira como passagens por empresas como Bunge, XP, Gradual Investimentos e Minerva Foods, onde chegou a diretor de operações (COO).

Foi chamado pela Jotabasso para liderar o processo de execução de um plano estratégico estabelecido pelo conselho de administração e acionistas com vistas a consolidar a Jotabasso como uma referência nacional em sementes de alta performance.

“Tenho enorme orgulho do que construímos nesse período — fortalecemos nossa presença no mercado, ampliamos operações, profissionalizamos ainda mais a gestão e mantivemos firme o compromisso com a qualidade, a inovação e a sustentabilidade”, escreveu ele na postagem.

Ao longo de quase seis anos, ele executou o previsto no plano e multiplicou por três as receitas da companhia, estimado em R$ 1 bilhão em 2023 - os números de 2024 não foram revelados.

“Sob sua liderança, a empresa experimentou um ciclo de crescimento expressivo – tanto em faturamento quanto em estrutura, portfólio, base de clientes e presença de mercado”, informou a empresa na nota enviada ao AgFeed.

O período foi, de fato, marcado pela modernização da gestão, com avanço em práticas de governança corporativa e no reconhecimento e posicionamento da marca, como uma referência nas áreas de inovação e sustentabilidade.

Amaral deixa também para o sucessor um planejamento estratégico estruturado, cuja execução já foi iniciada e que, segundo a companhia “agora entra em uma nova fase”.

“A Jotabasso está, de fato, preparada para um novo ciclo de crescimento – e isso não é apenas um discurso, mas uma convicção baseada em fundamentos concretos”, diz a nota da Comunicação da Jotabasso.

Entre os pilares desse plano está a expansão comercial, com a ampliação da presença em regiões estratégicas “com parcerias fortes com produtores rurais nas vendas diretas e canais de distribuição nas vendas indiretas”.

Outro foco estará na ampliação do portfólio, com genética e biotecnologias de alta performance, além de investimentos em digitalização dos processos, uso de dados para tomada de decisão.

“A sucessão está sendo trabalhada à altura desse legado, com o envolvimento ativo do Conselho de Administração, do qual José Amaral agora faz parte, levando uma visão clara de continuidade e ainda mais evolução”, apontou a companhia.

A empresa busca um profissional de mercado, com forte formação técnica, mas alinhado à visão de longo prazo da companhia.

A Jotabasso foi uma das pioneiras no setor a introduzir um modelo de governança, com a constituição de quatro holdings familiares reunindo membros da segunda geração da família Basso. Em 2003, instituiu o conselho de administração.

Ao longo das duas últimas décadas, esse conselho foi sendo fortalecido com a criação de comitês estratégicos para temas como sucessão, inovação e sustentabilidade, além da adoção de práticas de transparência e prestação de contas – inclusive com auditorias independentes de uma Big Four e indicadores de desempenho mais estruturados.

“Isso tudo tem como objetivo preparar a empresa para os desafios de longo prazo e garantir que ela continue crescendo com responsabilidade, profissionalismo e alinhamento com as melhores práticas de mercado”.

O modelo também tem sido fundamental na relação da empresa com o mercado de capitais. No segundo semestre do ano passado, por exemplo, a Jotabasso concluiu uma a emissão CRAs no valor de R$ 300 milhões.

“A aproximação com modelos de governança corporativa mais maduros é, para nós, um caminho natural. Independentemente de movimentos futuros em relação ao mercado de capitais, entendemos que essa base fortalece nossa reputação, atrai talentos, gera mais confiança junto aos clientes e parceiros e garantindo perenidade para o negócio”, afirma a empresa.

Com sede em Rondonópolis (MT), a Jotabasso possui mais de 70 mil hectares destinados à produção de sementes e está entre as líderes nacionais na comercialização de sementes de soja em todas as regiões do País, com a infraestrutura de produção, beneficiamento e armazenagem de sementes em unidades de produção nos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Além de voltar a integrar o conselho de administração da companhia, José Amaral deve se dedicar a iniciativas pessoais. Em setembro passado, o AgFeed informou que ele passava a integrar o "dream team" de sócios do ecossistema de investimentos em agtechs Rural, ao lado de nomes como Fábio de Rezende Barbosa, do grupo NovAmérica, entre outros.