Na produtora de etanol de milho FS, o milho barato chegou na conta e ajudou a companhia a sair do prejuízo visto há um ano e operar com lucro no terceiro trimestre do ano-safra (período entre outubro e dezembro de 2024).
A companhia encerrou o trimestre com lucro líquido de R$ 220 milhões. No mesmo trimestre do ano safra 2023/2024, a empresa teve prejuízo de R$ 114,7 milhões. O bottom-line veio no azul com um aumento de 27,8% na receita líquida, que terminou o período em R$ 2,91 bilhões.
De acordo com o balanço da empresa, divulgado ao mercado na noite da segunda-feira, 24 de fevereiro, a FS vendeu mais etanol e por um preço melhor.
Foram comercializados 624,4 milhões de litros de etanol, um aumento de 4,4% em relação aos 598,0 milhões de litros vendidos no mesmo trimestre do ano anterior.
O preço médio líquido de venda do etanol foi de R$ 2,64 por litro, representando um crescimento de 23,4% em relação ao preço médio de R$ 2,14 por litro um ano antes. A companhia aproveitou o momento de alta no preço da gasolina, que acaba impulsionando também o do biocombustível.
A empresa ainda vendeu 479,8 mil toneladas de DDG no período, alta de 17,7% em um ano, e 23,2 mil toneladas de óleo de milho, 4,1% a mais em um ano.
Em termos produtivos, foram 1,3 milhão de toneladas de milho processadas no trimestre, alta de 9,4% em um ano. Foram produzidos 599,4 milhões de litros de etanol, alta de 8% em um ano.
Houve ainda um aumento nos estoques. No milho, a empresa encerrou o trimestre com 1,99 milhão de toneladas armazenadas, alta de 17% em um ano. O montante representa um valor de R$ 2 bilhões, de acordo com a companhia.
No etanol, o estoque ao final de dezembro era de 225,2 milhões de litros, comparado a 184,1 milhões de litros no terceiro trimestre do ano anterior. A quantidade, em reais, vale R$ 2,22 bilhões.
Motivo de preocupação outrora, a alavancagem da empresa diminuiu no período. Em dezembro, o indicador estava em 4,02 vezes o Ebitda. Há um ano, estava em 4,12 vezes.
A empresa manteve o indicador relativamente estável mesmo diante de uma alta de 52,6% na dívida líquida, que está atualmente em R$ 7,91 bilhões. A queda da alavancagem se deu porque o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) avançou mais de 300% em um ano, para R$ 740,2 milhões.
Hoje, grande parte da dívida é composta por títulos no mercado de capitais e outras linhas de financiamento. São R$ 3 bilhões em senior green notes (bonds negociados lá fora), um patamar 40% acima do visto no ano anterior, R$ 4,7 bilhões entre CRAs e CRIs e outros R$ 2,35 bilhões em “linhas diversas de capital de giro”.
A dívida aumentou em um ano, segundo a FS, principalmente devido ao alto consumo de capital de giro para pagamento de milho, ao impacto da alta do dólar sobre a dívida em moeda americana e aos investimentos em Capex. Além disso, novas emissões de CRA contribuíram para a elevação da dívida bruta.
A empresa consumiu R$ 2,1 bilhões em capital de giro, perdeu R$ 857 milhões com o dólar alto e ainda investiu mais de R$ 500 milhões ao longo do trimestre
A companhia cita que emitiu, em fevereiro do ano passado, um bond verde com vencimento em 2031, de US$ 500 milhões. Embora este já estivesse contabilizado na dívida bruta há mais tempo, a variação cambial sobre esse passivo impactou a elevação da dívida líquida no trimestre. Hoje, a dívida bruta da empresa está em R$ 10 bilhões, com um caixa positivo em R$ 2,16 bilhões.
Se considerarmos ainda os R$ 2,22 bilhões em estoques de milho e etanol, a dívida líquida ajustada – um indicador que reflete o valor de mercado desses ativos – ficaria em R$ 5,69 bilhões, reduzindo ainda mais a alavancagem.