A FMC encerrou o terceiro trimestre de 2025 com mais uma rodada de números fracos e uma nova troca em sua cúpula.

A companhia norte-americana, uma das maiores do mundo em proteção de cultivos, registrou uma receita líquida de US$ 542 milhões, 49% menor em um ano e um prejuízo líquido de US$ 569 milhões, revertendo o lucro de US$ 66 milhões do mesmo período de 2024.

A divulgação do balanço veio acompanhada do anúncio da saída de Ronaldo Pereira, executivo brasileiro que atuava como presidente global da empresa desde junho do ano passado.

A decisão, segundo a FMC, foi “em comum acordo” entre Pereira e o chairman e CEO Pierre Brondeau, que concentrará o comando executivo. O brasileiro permanecerá como consultor da empresa até 15 de dezembro, encerrando uma trajetória de 28 anos na companhia, em que liderou expansões regionais e o fortalecimento da marca na América Latina.

A mudança de comando marca a segunda em pouco mais de um ano. Pereira havia sido promovido em junho de 2024, no mesmo movimento em que Brondeau — então chairman — reassumiu o cargo de CEO após a saída de Mark Douglas, que deixou a empresa com 14 anos de casa.

Sob a gestão de Pereira, a FMC tentou acelerar a integração global e reposicionar o portfólio, mas o ambiente de margens baixas, o peso da reestruturação e a necessidade de reduzir a dívida dificultaram a vida do executivo.

A companhia já vinha conduzindo o programa interno “Project Focus”, iniciado em 2023, que inclui cortes de pessoal, descontinuação de linhas e racionalização de estoques.

O balanço

A saída de Pereira ocorre em meio a mais um ano de resultados difíceis da FMC. Justamente uma decisão de enxugamento operacional foi a grande culpada pelo prejuízo.

Em seu balanço, a companhia citou baixas contábeis de cerca de US$ 510 milhões ligadas à venda da operação comercial na Índia, um ativo avaliado em US$ 960 milhões até junho e reprecificado para US$ 450 milhões após revisões internas e ajustes tributários.

O anúncio de deixar a Índia, processo que deve ser concluído até 2026, foi feito ainda no balanço do segundo trimestre.

Na época, a empresa pontuou que decidiu encerrar as operações no país asiático diante de dificuldades operacionais em uma região que vem apresentando queda de volumes devido à desestocagem prolongada no canal de distribuição.

Segundo a FMC, a venda já foi aprovada pelo conselho e deve ser concluída dentro de um ano. Mesmo após a venda, a FMC pretende manter presença no mercado indiano.

O desinvestimento não é o primeiro a ser anunciado pela FMC nos últimos anos. Desde 2023, em resposta a balanços desafiadores, já anunciou a venda de unidades e o enxugamento em algumas operações.

Em julho do ano passado, anunciou a venda do "segmento esportivo" por US$ 350 milhões. Chamado de Global Specialty Solutions (GSS), inclui defensivos para gramados em campos de golfe e estádios. Em paralelo, reduziu, só no ano passado, seu quadro de funcionários qlobal de 6,6 mil pessoas para pouco mais de 6 mil.

Voltando ao balanço do terceiro trimestre, mesmo excluindo o impacto da Índia, a receita teria recuado 10%, reflexo da combinação de queda de preços, menor volume e concorrência crescente em regiões-chave.

Os efeitos foram sentidos, de acordo com a FMC, com força no Brasil e na Argentina. A empresa citou uma “baixa liquidez dos clientes e o encarecimento do crédito”, limitando os pedidos. Sem citar o valor, informou que as vendas na América Latina recuaram 8%.

Na América do Norte as vendas cresceram 4%, sustentadas pela demanda de produtos à base de Rynaxypyr, uma das moléculas mais rentáveis do portfólio. Na Europa, alta de 11% nas vendas por uma “maior participação de produtos de nova geração”.

O Ebtida (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) ajustado somou US$ 236 milhões, avanço de 17% sobre o ano anterior. Ainda assim, o balanço mostra margens comprimidas e um caixa operacional negativo em US$ 184 milhões.

Mais um ano difícil

Diante do cenário, a FMC revisou novamente suas projeções anuais para baixo. A companhia agora espera encerrar 2025 com uma receita entre US$ 3,9 bilhões e US$ 4 bilhões, uma queda de cerca de 7% ante 2024. Já o Ebitda acumulado deve ficar num patamar entre US$ 830 milhões e US$ 870 milhões (recuo de 6%). A empresa ainda anunciou que o conselho optou por reduzir a distribuição de dividendos trimestrais.

Segundo o CEO Pierre Brondeau, em nota que acompanha o balanço, a empresa também iniciará uma revisão global de seu parque industrial, e avalia fechar fábricas de “ingredientes ativos e formulações de alto custo” e migrar de parte da produção para unidades mais competitivas.

A medida deve atingir especialmente plantas de ingredientes ativos e formulações que compõem o portfólio não-diamida, um segmento que perdeu rentabilidade com a escalada dos genéricos, segundo a FMC.

“Estamos realinhando nossa estrutura para enfrentar de frente os custos e restabelecer a competitividade dos produtos legados”, afirmou Brondeau, no comunicado. A FMC também indicou que pretende reduzir o tamanho da operação asiática após a saída da Índia e focar em novas moléculas e tecnologias digitais.

Resumo

  • FMC fecha o 3º trimestre com receita de US$ 542 milhões (queda de 49%) e prejuízo de US$ 569 milhões
  • América Latina teve retração de 8% nas vendas, com destaque negativo para Brasil e Argentina
  • Presidente global desde 2024, brasileiro Ronaldo Pereira deixa empresa em momento de nova reestruturação