Criada em 1941, a Irani é o exemplo de empresa disposta a se reinventar quantas vezes forem necessárias e, ao que parece, vem sendo bem-sucedida com isso.

O setor em que atuava – primeiramente, papel e celulose - passou por altos e baixos e foi alvo de muitos desafios ambientais no passado, o que fez a empresa buscar um reposicionamento ao longo dos anos e hoje ter foco no papelão ondulado e no segmento de embalagens sustentáveis.

No aspecto financeiro também tem uma característica peculiar. Abriu capital na bolsa de valores em 1977, mas ao longo de quatro décadas não chegou a decolar neste mercado. O cenário mudou completamente em 2020, quando, sob nova razão social, chamada Irani Papel e Embalagem, fez o chamado Re-IPO na B3.

"A Irani foi a empresa de melhor desempenho entre todas as 74 que fizeram IPO na janela de 2020 e 2021”, disse ao AgFeed o CFO e diretor de Relações com Investidores da companhia, Odivan Cargnin. “A valorização foi de 180% até agora para quem comprou a ação da companhia na época".

No IPO os papéis da Irani valiam R$ 4,50 por ação e na última sexta-feira eram cotados a cerca de R$ 11 por ação. Relatório recente do Citibank recomendou a compra de papéis da empresa, indicando um preço alvo de R$ 14 por ação.

A valor de mercado da Irani hoje é estimado em R$ 2,7 bilhões. A empresa reforça que "é a única do setor de embalagens no Novo Mercado”.

Odivan Cargnin explica que, embora a Klabin também comercialize embalagens de papel, trata-se de uma empresa com foco em celulose, "uma commodity que tem outra lógica de mercado".

A Irani possui 30 mil hectares de terra, sendo que mais de 16 mil hectares são plantados com pinus. Essa é a madeira para produzir a celulose de fibra longa, matéria-prima para o papelão ondulado e demais embalagens sustentáveis.

A valorização das ações da empresa, inclusive no acumulado deste ano, período que não foi tão positivo para o mercado de capitais como um todo, é justificada pelo CFO por algumas estratégias e diferenciais da Irani.

"Como não trabalhamos com commodities, não estamos expostos a variações da taxa de câmbio e dos preços internacionais. Se olharmos os preços das embalagens, é algo muito mais estável", explicou Cargnin.

Ele cita também algumas vantagens competitivas. "Nossa maior fábrica e maior área plantada de florestas estão, por exemplo, no oeste de Santa Catarina e temos empresas da região como BRF e JBS entre os nossos principais clientes, que empacotam a proteína que é exportada nas nossas embalagens”, diz.

A gestão financeira, principalmente a decisão de tomar menos risco que o normal, além das práticas de governança do Novo Mercado também são considerados diferenciais. “Embora a Irani se considere uma empresa do agronegócio, temos escapado deste cenário mais conturbado que outros segmentos vêm enfrentando”, admite o executivo.

No fim de agosto, a Irani captou R$ 300 milhões via debêntures, com o objetivo de reduzir o custo financeiro da dívida. Com títulos de CDI + 1,8% a.a e prazo de 5 anos, a empresa fez uma liquidação integral de debêntures, no valor de R$ 505 milhões de principal, e que tinha custo de CDI + 4,5% a.a.

"Nosso custo médio da dívida é superbaixo. Nos últimos 12 meses foi de 13,9% ao ano, em um período que a taxa Selic estava em 13,75%”, disse o CFO.

Ele afirma que a Irani está no pico dos investimentos previstos no IPO e ainda assim tem uma alavancagem de 1,95x o ebitda, com dívida bruta de R$ 1,8 bilhões e R$ 861 milhões em caixa. “Nossa dívida é toda em moeda local e 86% de longo prazo”, acrescenta.

Novos investimentos em agtechs

Os planos de crescimento da Irani passam por investimentos em startups que ajudem no processo de inovação, para avançar em tecnologias sustentáveis.

Odivan Cargnin revelou ao AgFeed que o orçamento da Irani Ventures, veículo de Corporate Venture Capital da empresa, de R$ 10 milhões, "já está todo comprometido, com as empresas que já assinamos parceria e com outras que estão com processo encaminhado”.

O executivo anunciou que acaba de ser fechado o segundo aporte em agtechs. Desta vez a empresa beneficiada é a growPack, que desenvolve tecnologias para produzir embalagens alimentícias sustentáveis utilizando resíduos reaproveitados de agricultura local, como a palha do milho.

Unidade da Irani em Indaiatuba (SP)

O aporte é de R$ 1,4 milhão e a parceria inclui também um processo de imersão e alavancagem com capital intelectual, que envolve suporte operacional, mentoria e networking, para auxiliar no desenvolvimento de suas atividades e negócio.

"O mercado brasileiro de embalagens movimenta R$ 120 bilhões. Quase 40% é plástico e o varejo está clamando por embalagens mais sustentáveis, a principal é o papel", diz o diretor da Irani.

A parceria com a growPack é um exemplo, segundo ele, da busca de novas matérias-primas "além de florestas e do papel", com tecnologias que podem ajudar a empresa a criar embalagens específicas, que o mercado demanda.

No caso do uso da palha de milho, ele não descarta que, futuramente, haja uma parceria com quem produz o cereal para que se aproveite este resíduo em escala industrial.

Este é o segundo investimento em startups divulgado pela Irani Ventures. No final do ano passado foi feito um aporte de R$ 1,5 milhão na Trashin, startup que promove a economia circular através da gestão de resíduos e de programas de logística reversa.

Atualmente, dois terços da matéria-prima utilizada pela Irani são oriundos de reciclagem e o restante vem das florestas e celulose produzidas pela empresa.

Além das duas anunciadas, mais três startups estariam em negociação avançada com a Irani.

"Como os R$ 10 milhões já estão alocados, provavelmente vamos abrir um novo fundo no ano que vem, com mais recursos”, revelou Cargnin.

Condições de mercado

Apesar da tendência de crescimento para os mercados em que atua no longo prazo, o CFO da Irani admite que 2023 deve ser um ano de estabilidade, "em linha com o que foi o resultado divulgado no primeiro semestre”.

Por ser listada na B3, a empresa não pode fazer previsões sobre resultados e investimentos, sem as formalidades previstas pela CVM. A expectativa é de que em 31 de outubro, quando ocorre o “Investor Day” da Irani, novos planos sejam divulgados.

Cargnin disse que o investimento de R$ 1 bilhão – bastante focado no famoso projeto Gaia - já está na fase final de aplicação. Dada a condição financeira confortável do momento, ele afirma que não deve haver necessidade de novas captações este ano.

O diretor ressalta que desde outubro de 2022 a empresa já emitiu, por exemplo, R$ 720 milhões em CRAs – Certificados de Recebíveis do Agronegócio.

Sobre planos de investir no mercado de carbono, o executivo lembrou que “a Irani foi a primeira empresa de papel e celulose do Brasil a participar de projetos de carbono, na época em que ele realmente funcionava”.

O CFO diz que ao aprovar, entre 2008 e 2012, dois projetos para reduzir emissões nos termos do protocolo de Kyoto – um de cogeração de energia e outro de estação de efluentes – a empresa já monetizou até hoje R$ 20 milhões.

"Mas este modelo atual, sinceramente, acho que está patinando. Falta regulação, falta organizar o mercado, é uma confusão”, diz o executivo ao justificar por que, por enquanto, não está apostando no mercado de carbono das condições atuais.