No primeiro balanço após o encerramento do litígio judicial que durou anos e culminou com a aquisição de 49,41% do capital acionário pela J&F Investimentos, a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, por R$ 15 bilhões, a Eldorado Brasil Celulose registrou um lucro expressivo.
Daqui em diante, o desafio dos Batista na Eldorado será reduzir drasticamente a dívida líquida, que alcançou R$ 14,941 bilhões no segundo trimestre deste ano, após a operação que possibilitou que o controle acionário fosse todo para as mãos da J&F.
Entre abril e junho deste ano, a companhia teve um lucro líquido de R$ 751 milhões, resultado 863% superior ao registrado no mesmo período de 2024, quando havia reportado lucro de apenas R$ 78 milhões.
O número teve contribuição especialmente do resultado financeiro da companhia, que totalizou R$ 450 milhões positivos no segundo trimestre: as despesas financeiras da Eldorado somaram R$ 256 milhões positivos no segundo trimestre de 2025, sob impulso do maior volume de swaps contratados para captação de recursos ao longo do trimestre, além da variação cambial mais intensa no período, que trouxe R$ 194 milhões ao resultado.
Já o Ebitda (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado retraiu 12% na comparação anual, passando de R$ 921 milhões no segundo trimestre do ano passado para R$ 811 milhões agora, com margem de 56%, quase igual à margem de 55% de um ano atrás.
A receita líquida, por sua vez, recuou 12%, passando de R$ 1,624 bilhão no segundo trimestre de 2024 para R$ 1,455 bilhão no mesmo período deste ano.
O montante mais baixo de receita, segundo a Eldorado, se explica pelos preços médios por tonelada mais baixos, que caíram 21%, passando de US$ 723 para US$ 568, e pelo volume mais baixo de vendas, que recuou 1% no período, indo de 435 mil toneladas para 430 mil toneladas.
Ainda assim, a companhia afirma que houve uma compensação nessa linha pela apreciação do dólar médio frente ao real de um ano para cá, com alta de 9%.
Ao longo do segundo trimestre, a demanda permaneceu estável em todos os mercados, com destaque para a Ásia, que segue com elevada disponibilidade de fibras, diz a Eldorado.
Os preços de celulose de fibra curta caíram na China, acrescenta a companhia, enquanto na Europa mostraram estabilidade no período.
Em virtude da transação envolvendo a aquisição das ações por parte da J&F, a dívida líquida da companhia cresceu consideravelmente de um ano para outro, passando de R$ 1,1 bilhão no segundo trimestre deste ano para R$ 14,9 bilhões agora.
É que, após os Batista assumirem 100% do controle da companhia, houve uma emissão de R$ 13 bilhões em notas comerciais escriturais no dia 13 de junho passado, com o objetivo de financiar a aquisição das ações remanescentes da Eldorado, e também dar início ao processo de refinanciamento das mesmas.
Dessa forma, a alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda em dólares, passou de 0,38x para 4,48x. A Eldorado informou que pretende diminuir sua alavancagem daqui em diante, buscando uma relação entre 2,5x e 3,5x.
A Eldorado foi alvo de um longo e complexo imbróglio judicial, que durou oito anos e se iniciou em 2017, quando a J&F decidiu vender a fábrica de celulose para a canadense Paper Excellence, controlada pelo bilionário indonésio Jackson Widjaja, por R$ 15 bilhões (em valores da época).
A negociação aconteceu em meio às investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, sobre as empresas da família Batista que, sob pressão, se desfez de vários de seus negócios na época.
Na ocasião, a J&F vendeu a totalidade da empresa à CA Investment, subsidiária da Paper Excellence, mas entregou pouco mais de 49% das ações na época, ao preço de US$ 1,2 bilhão pagos pela empresa canadense.
A promessa era de que o restante do capital da companhia seria repassado ao novo dono até setembro de 2018, o que acabou não acontecendo por desacertos entre as partes.
O caso acabou sendo alvo de vários processos em diferentes esferas do Poder Judiciário, inclusive fora do Brasil, até que a J&F resolveu recomprar as ações em maio passado por R$ 15 bilhões, encerrando a novela.
Mesmo em meio à disputa judicial, a J&F seguiu projetando investimentos na companhia – provavelmente de olho já no fim do imbróglio.
Em abril do ano passado, por exemplo, Wesley Batista antecipou um aporte de R$ 25 bilhões a ser feito nos próximos anos pela J&F e que seria direcionado para uma nova unidade da Eldorado, com uma segunda linha de produção da companhia em Três Lagoas (MS), onde a empresa já possui uma fábrica. A ver se esses planos se concretizam.
Resumo
- Eldorado Brasil Celulose registrou lucro líquido de R$ 751 milhões no segundo trimestre de 2025, alta de 863% em relação a 2024
- Trata-se do primeiro balanço após o encerramento da disputa jurídica que durou oito anos entre J&F Investimentos e a canadense Paper Excellence
- Operação de recompra de ações foi financiada com emissão que fez dívida líquida da Eldorado saltar de R$ 1,1 bilhão para R$ 14,9 bilhões