Parece um roteiro repetido, e é. A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, entregou mais um trimestre com números recordes.
Surfando a relação favorável de preços de grãos em baixa com novas habilitações de plantas para exportação e preços competitivos do frango e da proteína suína, a companhia encerrou o terceiro trimestre deste ano com um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão e uma receita líquida de R$ 15,5 bilhões.
Em comparação com o mesmo intervalo em 2023, a companhia reverteu um prejuízo de R$ 260 milhões e viu seu faturamento líquido avançar 12,4% em um ano. No acumulado de 2024, a companhia soma um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões e uma receita de R$ 44 bilhões.
Diante disso, a companhia decidiu, pela primeira vez desde 2016, remunerar seus acionistas. Serão pagos R$ 946 milhões via JCP (Juros sobre o capital próprio), algo em torno de R$ 0,57 por ação.
O vice-presidente de finanças e RI da empresa, Fábio Mariano, ainda destacou que a BRF atingiu a menor alavancagem de sua história, com uma relação entre a dívida líquida e o Ebitda de 0,7 vezes.
Isso porque, enquanto a dívida líquida atingiu R$ 6,8 bilhões ao final de setembro, o Ebitda acumulado desde janeiro é de R$ 7,7 bilhões.
“Em mais um trimestre de avanços sequenciais e consistentes, reportamos a melhor geração de caixa operacional da história da Companhia, com quase R$ 3,4 bilhões. Também aumentamos o prazo médio da dívida, de 8 para 8,5 anos”.
No trimestre encerrado em setembro, o Ebitda foi de R$ 3 bilhões com uma margem de 19,1%, um avanço de 10 pontos percentuais na comparação com o período equivalente em 2023. “É o melhor desempenho de um trimestre na história da BRF”, acrescentou Mariano.
Na operação brasileira, a BRF somou um Ebitda de R$ 1,2 bilhão, com uma margem de 16,6%. De acordo com os executivos da empresa, a empresa também cresceu em volumes, principalmente na linha de processados.
“Superamos 320 mil clientes movimentados e nosso market share de processados avançou para 40%”, disse Leonardo Dall’Orto, vice-presidente de planejamento e mercado internacional da BRF.
Já na exportação, a BRF anotou Ebitda de R$ 1,6 bilhão em uma margem de 22,2%. A companhia estima que, desde janeiro, conseguiu 70 novas habilitações de plantas para exportação, e desde 2023, mais de R$ 1 bilhão do faturamento foi originado desses novos mercados.
De acordo com Miguel Gularte, CEO da companhia, a situação confortável de alavancagem e o excelente momento de caixa abrem oportunidades que façam sentido para a empresa em termos de novas aquisições.
No final de outubro, a BRF informou que formalizou um contrato vinculante para comprar 26% das ações da saudita Addoha Poultry Company, uma das maiores fabricantes de frango do país, por US$ 84,3 milhões.
A operação foi feita através da BRF Arabia, joint venture da companhia com o Public Investment Fund, o PIF, fundo soberano da Arábia Saudita, que se uniu com a empresa brasileira na operação em 2022.
“A BRF é uma empresa que vem crescendo e trabalhando no sentido de crescer em produtos que agreguem valor”, afirmou Gularte.
Ele acredita que o mercado do Oriente Médio, que é o que mais importa frango no mundo, traz possibilidades estratégicas de expansão com retornos melhores.
“A decisão final de investimento é tomada pelo controlador. Mas nós, no dia a dia da gestão, criamos condições para que isso seja possível”.
A BRF também se prepara para aumentar de tamanho aqui no Brasil. Fábio Mariano ressaltou que a capacidade produtiva no segmento in natura já beira o máximo possível no País. Enquanto que nos processados ainda há uma ociosidade.
“Já temos convicção de investir em prol do crescimento sustentável da companhia, e isso passa pela capacidade de produção, principalmente avaliando o mercado de congelados. Já temos no pipeline projetos para expansão, e provavelmente no ano que vem teremos um investimento mais relevante em comparação com o que foi feito nos últimos dois anos”, afirmou, projetando uma demanda que “continuará sólida aqui e lá fora”.
A possível guerra comercial entre China e EUA com a eleição de Donald Trump também entra no radar da BRF. Segundo Fábio Mariano, hoje há uma diferença de cerca de R$ 12 na comparação de uma carne bovina e a de frango, o que pode trazer mais mercado para a companhia.