Menos de um ano depois de ser adquirida pelos belgas da Biobest, a Biotrop está pisando no acelerador.
A empresa está investindo R$ 100 milhões em duas novas unidades fabris, uma em Curitiba, no Paraná e outra em Jaguariúna, interior de São Paulo.
A nova unidade paranaense produzirá bactérias gram-positivas e gram-negativas, e conta com uma capacidade para 36 milhões de litros de produtos por ano. Em Jaguariúna, a planta terá foco na produção de fungos em meio sólido.
Já a fábrica paulista terá capacidade para fermentar 24 toneladas por semana e está apta a produzir de 2 mil a 4 mil toneladas de produtos formulados por ano.
“A construção da unidade em Jaguariúna serviu para deixar portfólio mais robusto e atender clientes com mais soluções. Sempre fomos bons com bactérias, mas precisávamos ter fungos. Começamos isso com parceiros e agora trouxemos para dentro de casa”, contou Eduardo Pesarini, diretor de operações e supply chain da Biotrop, em entrevista ao AgFeed.
Segundo o diretor, a empresa buscará um diferencial nesses produtos ou agronômico, trazendo mais produtividade aos cultivos, ou em relação ao shelf life, com biológicos de maior vida útil.
Além de criar novas unidades, a empresa ainda investiu para ampliar a capacidade do antigo centro de multiplicação de microrganismos de Curitiba, que agora pode produzir 12 milhões de litros por ano.
Em 2018, a unidade produzia 4 milhões de litros. “Nós sempre corremos atrás para ganhar capacidade, pois o pessoal de vendas consegue ganhar o mercado mais rápido do que nós acompanhamos”, brinca.
Nos cálculos de Pesarini, a Biotrop terá uma capacidade de 50 milhões de quilolitros de produtos. “Isso nos dá um fôlego extra por mais dois anos”, conta.
A ideia, para os próximos anos, é ampliar o portfólio de fungos, atuando também em fungos desenvolvidos em meios líquidos. O centro de Jaguariúna desenvolve fungos em meio sólido, em sistemas de arroz.
“Em termos de produção, a Biotrop triplica sua capacidade, o que contribui para o crescimento contínuo da empresa, fortalecendo nossa posição no mercado e possibilitando ganhos em receita”, afirmou Pesarini.
Em uma entrevista recente ao AgFeed, o CEO e fundador da Biotrop, Antônio Carlos Zem, disse que a expectativa era bater R$ 930 milhões em faturamento neste ano, mesmo diante de um mercado mais complexo.
Para atingir a meta, a agora divisão Biotrop terá de aumentar em mais de 50% os R$ 618 milhões apurados em 2023. Para Zem, é um resultado factível no mercado em que atua.
Hoje, a maior parte da receita da Biotrop vem da venda para grãos, como soja, milho, trigo e também no algodão. Pesarini também cita que a empresa atua com intensidade no mercado de hortifruti e de cana.
Pesarini afirmou que a ideia com o novo portfólio mais robusto, que contará com bactérias e fungos, é adotar uma estratégia de venda em conjunto. Ele cita que, quando um produto é lançado no mercado, o sucessor já está em desenvolvimento nos laboratórios. “Queremos continuar a ser pioneiros no mercado, lançando e ganhando escala”.
Nos próximos anos, ele vê a Biotrop também posicionada para trabalhar com novas gerações de biológicos. Atualmente, Pesarini afirma que a companhia já produz bioestimulantes feitos a partir de metabólitos, e que já trabalha para atuar com edição genética num futuro próximo.
“A Biotrop tem uma cultura, que vem do Zem e da equipe interna, de muita paixão por inovação e por trazer soluções novas. Sempre fizemos investimentos pesados para sermos disruptivos”, acrescenta o diretor.
Investimento em meio a incertezas? Não para a Biotrop
A Biotrop quer se tornar referência em um mercado que cresce a passos largos no Brasil. Uma pesquisa realizada pela CropLife Brasil, entidade que representa 23 indústrias de defensivos e sementes no País, e pela Blink, mostrou que a venda de bioinsumos cresceu 15% na safra 2023/24 frente a temporada anterior.
Considerando o preço final para o agricultor, as vendas somaram R$ 5 bilhões incluindo produtos biológicos voltados para o controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores.
De acordo com Eduardo Leão, diretor-presidente da CropLife Brasil, o mercado brasileiro cresceu nos últimos três anos a uma média anualizada de 21%. "Isso traz um crescimento quatro vezes maior acima da média global. O Brasil tem sido protagonista neste setor frente ao resto do mundo", afirmou.
Esse mercado, contudo, sente alguns efeitos do atraso nas compras que empresas de químicos têm sentido nos últimos meses, de acordo com alguns prognósticos dados por alguns executivos ouvidos pelo AgFeed nas últimas semanas.
Em seu último balanço, divulgado há algumas semanas, a empresa de insumos agrícolas Vittia, uma das poucas listadas em Bolsa, registrou prejuízo líquido de R$ 17,7 milhões no segundo trimestre, 21,6% acima do prejuízo de R$ 14,6 milhões registrado no mesmo período de 2023.
Carlos Alberto Baptista, diretor nacional de vendas da Biotrop, vê um movimento setorial de postergação nas compras por parte dos produtores, revendas e distribuidores. Segundo ele, resultado de um efeito cascata do cenário macro do agro nacional, de alguns problemas de produtividade na safra passada com a redução do preço dos grãos no mercado externo.
“Nos anos anteriores, o processo de compra para uma safra durava até maio, com grandes volumes vendidos até antes disso. Hoje observamos uma postergação de compras”, conta ao AgFeed.
Apesar disso, cita que a Biotrop passa imune por esse problema. “Temos uma diferença, pois nosso segmento cresce de forma importante, e isso permite que mesmo num ano de dificuldade, nossos volumes de venda e de faturamento estão melhores que no ano passado”, conta.
“Aproveitará o mercado quem tiver com estoque e estiver mais próximo ao cliente e junto do distribuidor”, finaliza Baptista.