A BASF deu aos investidores uma razão para sorrir mesmo em um dia nublado na cidade de Antuérpia, na Bélgica.
No seu Capital Markets Day, evento da empresa para reunir investidores, acionistas e o mercado, a companhia detalhou os próximos passos da estratégia batizada de “Caminhos Vencedores” e trouxe duas mensagens que mexeram com o mercado.
O tom da apresentação foi o de disciplina: capital bem alocado, ativos sendo vendidos ou preparados para novos donos e uma mensagem de que, mesmo em um ambiente de margens pressionadas, a companhia tem espaço para entregar crescimento lucrativo.
O resultado foi imediato, com as ações negociadas em Frankfurt subindo 1,99%. O ponto de maior atenção foi o anúncio de que a divisão agrícola, responsável por 9,8 bilhões de euros (em torno de R$ 60 bilhões, pelo câmbio atual), em vendas em 2024, deve estar pronta para um IPO minoritário em 2027.
A preparação já está em curso, segundo a Basf, que citou que está “atualmente fazendo um bom progresso na execução da separação da entidade legal e na implementação de um sistema ERP específico do setor”.
No início deste ano, a Bloomberg noticiou que a Basf estava buscando bancos para fazer o IPO de sua divisão agrícola. Na época, a plataforma noticiou que a ideia era uma listagem da unidade em alguma bosa dos EUA ou na Alemanha.
Um relatório do Jefferies Financial Group da época avaliou o negócio em aproximadamente 16,5 bilhões de euros, algo em torno de R$ 100 bilhões.
O mercado olha com atenção essa movimentação porque acredita que a Basf pode capturar valor em uma unidade estratégica, mas que ao mesmo tempo é intensiva em capital, sem abrir mão do controle. O movimento vem acompanhado de um plano de desalavancagem e retorno ao acionista mais agressivo.
O CFO, Dirk Elvermann, destacou que os desinvestimentos recentes, como a venda da Suvinil no Brasil para a Sherwin-Williams, concluída por US$ 1,15 bilhão, somada a alienação do negócio de ingredientes de alto desempenho para alimentos e saúde, já reforçaram o caixa.
“Nossas medidas bem-sucedidas de portfólio nos permitirão fortalecer nosso balanço e potencialmente acelerar as recompras de ações”, afirmou.
O compromisso da empresa é manter dividendos de pelo menos 2,25 euros por ação ao ano entre 2025 e 2028, somando cerca de 8 bilhões de euros no período distribuídos aos acionistas.
A Basf ainda se comprometeu a recomprar 4 bilhões em ações entre 2027 e 2028, um movimento que acaba também trazendo valor ao acionista.
A empresa cogita até antecipar parte dessas compras, a depender de uma possível venda dos seus ativos do mercado de revestimentos. “Continuaremos a capturar valor dos ativos de petróleo e gás e estamos explorando opções estratégicas para nossas atividades de Revestimentos”, disse o CFO.
Ao mesmo tempo, a empresa promete tirar o pé do acelerador dos investimentos. O capex estimado até 2028 foi reduzido de 17 bilhões de euros para 16 bilhões de euros.
Somado a isso, citou que sua construção da planta de químicos em Zhanjiang, na China, uma das maiores apostas indústrias da empresa, terá um custo total menor do que o orçado.
O aporte total na unidade deve ficar em 8,7 bilhões de euros, 1,3 bilhão de euros menor do que o planejado. A Basf reforçou sua projeção de um Ebitda entre 10 bilhões de euros e 12 bilhões de euros (algo entre R$ 62 bilhões e R$ 75 bilhões) ao final de 2028.
Isso tudo, claro, considerando boas condições de mercado, o que a empresa chama de “condições de ciclo médio a ascendente”.
Nessas condições, a multinacional projeta um fluxo de caixa livre acima de 12 bilhões de euros para esse triênio entre 2025 e 2028.
Resumo
- Empresa prepara IPO de sua unidade agrícola para 2027. Ativo é avaliado em 16,5 bilhões de euros
- Plano apresentado inclui desalavancagem com venda de ativos, reforço de caixa e recompras de ações. Mensagem agradou o mercado e ação subiu na Alemanha
- Capex até 2028 cai para 16 bilhões de euros, com planta na China custando menos que o previsto.