Desde esta terça-feira, 2 de julho, os principais executivos do Grupo UbyAgro, sediado em Uberaba (MG), estão reunidos na vizinha Uberlândia para a convenção anual da companhia.
O encontro, que prossegue até a quinta-feira, acontece em clima de comemoração. Na véspera de seu início, o grupo anunciou a primeira aquisição de um plano que vem sendo desenhado há anos e que, agora, sai do papel.
Por um valor não revelado, o UbyAgro adquiriu a Eletro Manganês, dona da marca Bauminas Agro, que produz matérias-primas para insumos nos segmentos de nutrição animal e vegetal.
Com o fechamento do negócio, um dos temas da convenção passa a ser a rediscussão do planejamento estratégico do UbyAgro. “Estou aqui revisando as projeções”, disse ao AgFeed Fabrício Simões, CEO do grupo, pouco antes do início do evento.
A primeira projeção indica que a aquisição, que ainda depende de avaliação do Cade, levará o grupo – que engloba as marcas Ubyfol, uma das líderes do mercado nacional de fertilizantes especiais e nutrição vegetal, e Vitales, de insumos biológicos – a uma receita consolidada acima de R$ 1 bilhão em 2024 – em 2023, a receita ficou em torno de R$ 800 milhões.
A revisão deve indicar que a meta para os próximos três anos, que era chegar a R$ 1,5 bilhão, será ampliada para R$ 1,9 bilhão, praticamente dobrando o porte do grupo até 2027. Isso, segundo o CEO, com uma estratégia de crescimento de 20% ao ano.
“O mercado cresce e vai continuar crescendo”, afirmou Simões. “Mas não existe 1 bi para todo mundo. O que nos deixa superfelizes e orgulhosos é romper essa marca em 2024 e colocar o grupo entre as principais companhias do setor de nutrição vegetal e biológica do Brasil”.
A compra da Bauminas Agro – assessorada pela XP Investimentos e pela Pinheiro Neto Advogados – materializa essa estratégia, desenhada no chamado Plano JK, nome inspirado no slogan do ex-presidente Juscelino Kubitscheck, que nos anos 1960 se propôs a fazer o Brasil crescer “50 anos em 5”.
Em entrevista ao AgFeed em agosto de 2023, Simões contou que a primeira versão desse plano foi lançada em 2020, mas no ano passado ele foi revisado, com vistas a posicionar ainda mais a empresa como uma protagonista na consolidação dos mercados em que atua, de nutrição vegetal e de biológicos.
“A gente encontrou Bauminas Agro uma tese de investimento superadequada à nossa estratégia”, disse. “Vínhamos há praticamente quase um ano conversando sobre a definição do que queríamos inorganicamente”.
A discussão na empresa era sobre o perfil das empresas a serem adquiridas. A avaliação de Simões era de que os aprendizados obtidos com crises sucessivas que desestruturaram as cadeias de fornecimento, como a pandemia, exigiam uma nova visão, que deixasse a empresa menos exposta a um único segmento.
“Eu ponderei e questionei: vamos comprar um concorrente? Acho que talvez seja uma resposta talvez trivial e óbvia. Mas eu sempre acho que o movimento inorgânico tem que mudar a forma como a empresa opera”.
Para Simões, a compra de uma companhia que atuasse na mesma área exigiria, além dos recursos para a aquisição, um desafio maior de integração, além de não representar a oportunidade de acesso a novos clientes.
A opção, então, foi dar, em suas palavras, “um passo atrás na cadeia”. Com a Bauminas, o UbyAgro ingressa agora no mercado de matérias-primas, principalmente óxidos, sulfatos e monóxidos de manganês e zinco.
Com isso, acredita, pode participar de mercados tanto na cadeia primária, atuando no mercado B2B como fornecedor ou dos próprios insumos ou de produtos “private label”, quanto na cadeia de nutrição foliar, podendo criar estratégias de verticalização e diminuição de custos de produção.
Outro negócio que passa a fazer parte do portfólio do grupo é a operação de trading de matérias-primas de micronutrientes no Brasil, além de abrir as portas para o mercado de venda de insumos para nutrição animal.
“Dentro do nosso processo de segmentação de clientes, teremos espaço para todo tipo de perfil de consumidor”, analisa.
“Com Ubyfol e Vitales, vamos continuar investindo muito em desenvolvimento, para criar um portfólio para a nova fronteira do desenvolvimento agrícola do Brasil. A Bauminas Agro entra também nessa composição como um grande veículo de venda de produtos mais básicos da linha nutricional, pensando em grandes contas, no B2B”.
A integração da nova empresa ao grupo deve, na visão do CEO, dar mais musculatura e resiliência aos negócios do grupo, gerando cada vez mais sinergias ao longo dos próximos três anos.
Até lá, no entanto, novas aquisições podem ser feitas. “A gente criou aqui uma plataforma integradora. A partir dessa primeira aquisição e essa captura de sinergias e integração, vamos poder integrar diversas outras soluções embaixo dessas três marcas”, disse.
Assim, eventuais compras de companhias na indústria de nutrição vegetal, irão para baixo do guarda-cuvas Ubyfol. No mercado de biológicos, sob a Vitales. E no segmento mais comoditizado, seja de venda direta, seja de vendas industriais, serão consolidadas embaixo do Bauminas Agro.
O marco de 2027
O Plano JK tem uma data emblemática, citada com frequência por Fabrício Simões: 2027. Todo o planejamento feito converge para esse momento, quando, segundo diz, “a empresa poderá estar pronta para um eventual movimento estratégico maior”.
O IPO é uma ideia sempre sobre a mesa. Com uma presença cada vez maior no mercado de capitais e a consolidação de uma estrutura de governança, o grupo percorreu o que Simões chama de “jornada” para ganhar visibilidade junto a financiadores e potenciais investidores.
“Você não constrói uma jornada no mercado de capitais na noite para o dia”, disse. “Você tem que aprimorar constantemente o seu modelo de governança, seja governança societária, seja governança da gestão, ter uma empresa auditada há mais de 15 anos, rating da carteira de cliente pela Fitch ou pela Standard & Poor's...”
Para Simões, hoje o UbyAgro tem “um nível de maturidade extremamente relevante”, que abre um leque de possibilidades para financiar o crescimento a que se propõe, seja orgânico ou não.
A empresa prepara, por exemplo, a emissão de um novo CRA para captar recursos no mercado. Será o décimo da história da companhia. No mais recente, coordenado pela XP, foram levantados R$ 253 milhões.
Crescimento, até em anos difíceis
A jornada de estruturação da empresa também contribuiu, segundo o executivo, para que o UbyAgro conseguisse suportar bem o período de retração que o mercado de insumos vem atravessando desde o início de 2023.
“Foi um ano que machucou e tem machucado muito a indústria e a distribuição de insumos”, afirmou. “Mas apesar de tudo isso, a gente conseguiu crescer a uma taxa próxima de 10% em receita frente a 2022”.
Nos anos anteriores, em que todo o mercado avançava, essa taxa estava na casa dos 30% ao ano.
Segundo Simões, 98% dos clientes da empresa têm mantido seus pagamentos com pontualidade, o que dá liquidez ao caixa da companhia.
“Isso nos permite continuar numa estratégia de maior agressividade, com investimento naquilo que a gente precisa ter”, afirmou.
“Enquanto alguns concorrentes nossos estão brigando lá na Faria Lima, tentando justificar por que o resultado não foi legal, a gente está muito bem, obrigado. Então, vamos olhar para esse panorama agora de crise no setor e achar quais são as oportunidades de crescimento”.
Além do universo dos M&As, a companhia tem buscado essas oportunidades para investimentos em startups, através de um braço de venture capital corporativo que está em gestação.
No ano passado, a Ubyfol tornou-se uma das financiadoras do Moon Hub, polo de inovação criado em parceria com o AgTech Innovation, da PwC, e a prefeitura de Uberaba.
O primeiro aporte em uma agtech deve sair em breve, antecipou Simões ao AgFeed. Será em uma startup especializada em análises nutricionais de plantas, com a qual o grupo já mantém um contrato de mútuo, que será integralizado, tornando o UbyAgro um dos líderes da rodada série A da empresa. “É uma startup hoje que está entre as dez startups mais reconhecidas do agronegócio”, disse Simões.