O boato tem sido recorrente e já teve várias ondas desde o início do ano. A mais recente começou a circular na tarde da quinta-feira, 12 de setembro, com o mesmo teor já ouvido anteriormente: o Grupo Safras, fundado em Sorriso (MT) em 2010 e que hoje reúne empresas de originação, comercialização, logística, armazenamento e processamento de grãos, inclusive com a produção de biocombustíveis, teria protocolado um pedido de Recuperação Judicial.
O que diferencia a atual onda das anteriores foi a reação da companhia. Se das outras vezes manteve o silêncio, nesta sexta-feira o grupo optou por emitir uma nota para rebater o que chamou de “fake news”.
“Infelizmente, circulam rumores infundados de que nossa empresa teria ingressado com pedido de recuperação judicial ou que estaria em vias de assim proceder. Deixamos claro que isso não é verdade. Não temos qualquer intenção ou interesse o mais remoto que seja, de solicitar recuperação judicial”, diz o comunicado, enviado ao AgFeed.
Fundado pelo ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, e por Pedro Moraes Filho, CEO da empresa e também integrante de uma família de pioneiros na região, o Grupo Safras vinha, até o ano passado, atravessando um período de grande expansão, com aquisições e entrada em novos negócios.
Em 2023, por exemplo, adquiriu o grupo paranaense Copagri, que, com operações de exportação de grãos, tinha uma receita de mais de R$ 2,3 bilhões. Com isso, a expectativa era levar o faturamento total do grupo para um valor superior a R$ 7 bilhões.
A virada do mercado de commodities, entretanto, freou os planos do Safras. Desde o início deste ano o grupo passou a enfrentar dificuldades para saldar as dívidas com fornecedores e passou a enfrentar sucessivos pedidos de penhora de seus bens e receitas, feitos sobretudo por produtores de quem adiquiriu soja e milho.
Nesta quinta-feira, a volta dos rumores em torno da RJ do grupo empresarial coincidiu com uma decisão judicial nesse sentido. Um despacho do juiz Valter Fabricio Simioni da Silva, da 3ª Vara Cível de Sorriso, deu ganho de causa ao agricultor Cesar Felini, que requisitou a penhora de bens do Grupo Safras em um processo de execução de título extrajudicial, no valor de R$ 2.610.570,15, referente à venda de de 20 mil sacas de soja.
Rapidamente a informação correu pelos grupos de produtores da região, servindo como estopim para os boatos de que a companhia havia protocolado o pedido de RJ.
Procurado pelo AgFeed, o Grupo Safras informou que se manifestaria, a princípio, apenas através de uma nota oficial. A decisão foi tomada a partir da percepção de que os sucessivos rumores, quando não contestados, estariam prejudicando os esforços da empresa de negociar com credores e de buscar novos recursos.
No comunicado, o Grupo Safras aponta que, desde sua fundação, já movimentou mais de 20 milhões de toneladas de grãos e que hoje emprega mais de mil pessoas, mas admite que atravessa um momento difícil.
“Nosso objetivo, dentro da maior transparência e ética é o de renegociar com nossos parceiros, fornecedores, produtores rurais e instituições financeiras, buscando soluções que permitam a continuidade de nossas operações e o pagamento de todos os nossos compromissos”, diz a nota.
“Aliás, desde o início da nossa reestruturação interna, é fato concreto, e também de conhecimento público e notório, já ter havido a repactuação de obrigações com centenas de produtores rurais e outros fornecedores, o que deixa clara a postura do Grupo Safras de cumprir rigorosamente seus compromissos financeiros e com o mercado, de modo que qualquer especulação negativa a esse respeito reflete apenas uma postura equivocada, o que é lamentável”.
O grupo não comenta, entretanto, outra informação que também circula recorrentemente na região, que envolveria também a venda de uma participação na empresa para um fundo de investimentos.
O AgFeed solicitou uma entrevista ao Safras para dar mais detalhes sobre a situação financeira do grupo e o “processo de reestruturação interna citado na nota.
Até o fechamento dessa reportagem, o Safras ainda não havia disponibilizado um porta-voz para atender ao pedido.
Dede a compra da Copagri, no ano passado, o Safras passou por uma reorganização de sua estrutura corporativa. Os diversos negócios foram aglutinados em três empresas: a Safras Armazéns Gerais, a Safras Bioenergia e a Safras Agroindustrial, que incorporou as operações adquiridas com a companhia paranaense.
No site do grupo, os números expressivos ajudam a entender por que os rumores em torno do grupo geram tanto interesse. São mais de 3 milhões de toneladas de grãos armazenados, 43 mil metros cúbicos de etanol de milho e 720 mil toneladas de óleo e farelo de soja produzidos anualmente.
As operações se espalham pelos estados de Santa Catarina, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, além de Mato Grosso.
Na ocasião da aquisição da Copagri, a empresa previa que as sinergias obtidas permitiriam aumentos de eficiência e crescimento de lucratividade em 2024.
“Sabemos que os efeitos práticos serão sentidos mais para o próximo ano, mas algumas medidas já se mostraram bastante positivas”, disse, então, o CEO Pedro Moraes Filho.
“Pretendemos investir em novos armazéns e na planta de biodiesel”, destacou o CEO, referindo-se a uma planta industrial da Copagri localizada em Cuiabá, que previa processar mais de 700 mil toneladas de soja a partir de 2024.
Nos últimos dias, o AgFeed ouviu de vários dirigentes e grandes produtores do Mato Grosso relatos de preocupação com a situação da empresa. Uma eventual RJ teria potencial para ser a maior do estado, gerando prejuízos em cadeia.
Segundo um levantamento feito pelo site Olhar Jurídico, publicado na quarta-feira 11, apenas contra a Safras Agroindustrial havia 17 pedidos de execução, somando mais de R$ 30 milhões em dívidas.
Outro levantamento a que o AgFeed teve acesso revela a existência de 397 protestos contra a empresa, somando quase R$ 17 milhões, além de 211 pendências financeiras e dívidas de R$ 58 milhões registradas no Serasa.