Um dos termos da moda quando se trata de grandes empresas é verticalização. Na prática, ela acontece quando uma grande empresa consegue atuar em várias ou em todas as fases da cadeia de valor do seu segmento.

A Agribrasil foi nessa direção em 2023. Ao concluir o Terminal Portuário Santa Catarina (TESC), com o início de operações de um berço para embarque de grãos em São Francisco do Sul (SC), em junho, a empresa deixou de atuar somente na comercialização de produtos agrícolas e passou a ter também um porto próprio para finalizar o processo de exportação desses produtos, segundo assim modelo já adotado por grandes tradings como Amaggi, ADM e Cargill, entre outras

Os primeiros navios carregados de grãos deixaram o TESC em julho e os números do quarto trimestre e principalmente de todo o ano de 2023 mostram que a estratégia deu certo. Tanto que seu CEO e fundador, Frederico Humberg, já fala em replicar esse modelo em outras regiões do País.

“Nós queremos construir terminais portuários em outros locais”, afirmou o executivo em entrevista ao AgFeed. “Temos analisados muitas opções, mas dependemos de injeção de capital. Sempre estamos conversando para conseguir novos recursos, que podem vir inclusive do mercado de capitais. Nós já estamos prontos para um IPO, só falta mesmo negociar as ações”.

A trading foi criada em 2016. Sua sede fica em São Paulo, mas a empresa mantém filiais em Mato Grosso, Bahia e Goiás, além de uma subsidiária na Suíça.

A Agribrasil, de fato, já é uma companhia de capital aberto, mas ainda sem negociações de ações na B3. Seguindo as regras do mercado, a companhia divulgou seu balanço na semana passada e, a partir da análises dos seus resultados, é possível traçar uma linha bem clara entre os números pré-TESC e pós-TESC.

No primeiro semestre do ano passado, por exemplo, a Agribrasil acumulou um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado de pouco menos de R$ 12 milhões. No segundo semestre, o indicador saltou para um valor próximo a R$ 48 milhões. Os R$ 60 milhões acumulados no ano representam um recorde para a empresa.

Primeiro investimento em ativos próprios de infraestrutura feito pela Agribrasil, o TESC está sob controle da empresa desde 2022, quando se tornou majoritária ao adquirir a participação que pertencia ao fundo de investimentos BRZ.

A construção da estrutura para grãos, com capacidade para movimentar até 2,5 milhões de toneladas, já estava em andamento, fruto de um investimento de R$ 250 milhões, feito com recursos próprios e obtidos junto ao mercado.

“No fim de 2022, nós avisamos aos acionistas que o primeiro semestre de 2023 seria muito ‘calmo’, pois adotaríamos uma postura mais conservadora até a conclusão do TESC. Falamos também que, a partir da conclusão, os resultados melhorariam bastante”, disse Humberg.

Segundo comentário que acompanha os números da Agribrasil, o TESC teve um Ebitda no ano de R$ 89 milhões, com o resultado mensal nos últimos meses de 2023 chegando a quase R$ 11,5 milhões.

“Essa performance, se anualizada, apontaria para um Ebitda de R$ 137 milhões, ou seja, um ritmo de resultado muito acima do inicialmente planejado e que levará a um processo de desalavancagem mais rápida do porto”, completa a empresa.

Um outro ponto levantado por Humberg é a maior agilidade do TESC no embarque para o exterior, quando comparado a outros portos na região. “Hoje, a fila no Porto de Paranaguá está acima de 60 dias. No TESC, esse prazo não passa de cinco dias, por conta do trabalho de gerenciamento das posições dos navios”, afirmou.

As boas notícias para os acionistas, segundo o CEO, não se restringem só ao Ebitda. Depois de acumular prejuízos de R$ 28 milhões na primeira metade do ano, a Agribrasil conseguiu se recuperar totalmente no segundo semestre, acumulando lucro de R$ 29 milhões.

Humberg explicou que não é possível comparar os números de 2023 com os de 2022, quando houve uma série de efeitos contábeis que tiveram impactos importantes nos resultados finais.

Frederico Humberg, CEO e fundador da Agribrasil

A relevância do terminal portuário é medida também pela proporção na origem das receitas da Agribrasil. No ano de 2023, cerca de 88% do faturamento da companhia veio das exportações de soja e milho.

Os dois maiores mercados são Ásia e Oriente Médio, que somados respondem por 75% do total vendido pela Agribrasil. O mercado brasileiro responde por 12%.

“Foi o primeiro ano em que a China comprou milho do Brasil e já ficou com 30% da produção”, analisou Humberg. “O mercado continua forte e nós não planejamos o mix de vendas. Nós vendemos nos locais onde há mais demanda. E a tendência é a Ásia ampliar ainda mais sua participação”..

Humberg afirmou que a Agribrasil ainda não está entre as 10 maiores exportadoras de commodities agrícolas do país, mas que planeja investir para chegar nesse patamar. No total, foram 1,5 milhão de toneladas de milho e soja exportados no ano passado.

Por se tratar de uma empresa que já segue as regras de governança da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o CEO não pode dar projeções de crescimento para este ano.

“O que posso dizer é que os preços das commodities não afetam os negócios da Agribrasil. E há muito volume para exportar ainda. A safra 2023/2024 não virá tão ruim quanto muitos esperavam e ainda há estoques para vender”, afirmou Humberg.